Capítulo 2 - Primeiro prodígio

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- Vamos logo Mateus, ou será que está ficando velho?

- O tempo chega para todos Régis e acho que você sabe disso melhor do que eu.

- Ora seu fedorzinho, insinua que estou velho?

- O senhor que está dizendo.

- Pois então quer apostar duas moedas que levo esse saco primeiro que você.

- Seria imprudente de minha parte forçar o senhor a isso, suas costas não são as mesmas de cinco anos atrás.

Régis jogou um saco cheio de sementes nas costas e a passos largos andou uns cem metros antes de cair. Mateus correu até ele preocupado.

- Régis você está bem?

- Minhas costas estão doendo muito.

Outros funcionários vieram acudir e o levaram até sua tenda. Ele mesmo com dor deu ordens para continuarem o trabalho só ficando com ele Mateus.

- Eu lhe disse que não era boa ideia Régis, eu não estava brincando quando disse que o senhor não tem o mesmo vigor de antes.

- Eu sei, mas achei que um esforço pequeno desse não faria mal para lembrar os velhos tempos.

- Vou procurar uma curandeira para ajudá-lo.

- Obrigado. Peça que Nicolas tome conta de tudo, depois de você ele é o melhor para não deixar o trabalho parar.

- Deixe comigo e por enquanto descanse.

Mateus conversou com Nicolas e foi atrás de uma curandeira, percorreu um longo caminho e nada, como a noite já caia resolveu voltar e ao chegar viu que o estado de Régis havia piorado. A lesão na coluna pareceu ter agravado por alguns problemas que ele já tinha e um febre se instalou o fazendo as vezes perder até os sentidos.

- Temo por minha vida Mateus, se algo acontecer quero que tome conta de tudo.

- Você sairá desse não diga coisas desnecessárias.

- Nem parece que cinco anos se passaram desde que te conheci.

- Pois para mim é como se o conhecesse a minha vida toda.

- Era um moleque mentiroso, sabia que estava mentindo quando me disse sua idade e que havia algo diferente em você quando o peguei lendo aquele livro estranho.

- Podia ter me denunciado e ganho uma boa quantia, estavam pagando bem por pessoas que seguiam a fé de um Deus único.

- Onde está ele?

- Está aqui comigo, eu nunca me separo dele.

- Eu nunca o entendi, essa coisa de Deus único. Leia para mim.

- Tem certeza Régis? Conhecimento é caminho sem volta.

- Acho que passei da hora, uma pessoa boa como você não pode estar seguindo um Deus falso.

Mateus leu o livro de seu pai até que Régis pegou no sono, cada trecho da palavra que ele narrava para Régis parecia infundir em seu peito e lhe dava mais certeza que estava no caminho certo, que nascera para aquilo.

- Boa noite Mateus.

- Meu Deus quem és tu?

- Um amigo, não te assustes. Escutei tua prece silenciosa a favor desse que te abrigastes a pedido de Deus.

- Tu és um anjo? Assim como está escrito no livro de meu pai?

- Muitas coisas ainda verás que no livro está escrito, e outras que não estão. Agora estende tua mão sobre teu amigo, pois o pai lhe dará poder sobre toda enfermidade.

Mateus obedeceu, Régis acordou e pode ver um brilho sair das mãos de Mateus e toda dor ir embora assim como a febre que não sessava.

- O que foi isso Mateus?

- O Deus de meu pai me permitiu curar sua enfermidade.

- Nunca vi nenhum deus fazer isso.

Régis se levantou com a força de um jovem e se ajoelhou na frente de Mateus.

- Não se ajoelhe para mim meu amigo, se tens agora fé no Deus de meu pai agradeça a ele, pois você se curou ao pedir para que a verdade lhe fosse dita.

- Louvado seja o Deus de teu pai, que agora é meu único Deus.

- Sabes que assim como eu por segui-lo poderá morrer.

- E a morte já vinha me buscar e ele me salvou.

- Aqui está escrito que aquele que segue a palavra de Deus nunca perecerá e terá vida eterna.

- Pois então chame a todos, serei prova desse Deus vivo que alivia a dor de seus filhos.

Régis contou a todos o que Deus havia feito sem medo do que poderia acontecer. Não demorou e a notícia se espalhou e outros em busca do conhecimento desse Deus vivo o procuraram, assim como também aqueles que perseguiam os seguidores do Deus único.

- Acordas e não faça alardes, leve apenas o livro de teu pai e se vá, é chegada a hora de iniciar sua obra e escrever sua parte no livro da vida.

Mateus acordou com Régis o balançando e tampando sua boca. Ele fez sinal de silencio e o entregou um pouco de dinheiro.

- Vá e não olhe para trás, que Deus o proteja.

Mateus o abraçou e assim como ordenado no sonho nada levou consigo. Pode ouvir Régis gritar que nunca negaria a Deus, depois de um silencio as chamas da tenda sendo destruída iluminaram a noite.

No livro havia muitas páginas em branco, Mateus se sentou em uma pedra e em uma dessas páginas escreveu: "E na verdade de Deus caminhará o homem de bem, para que nada contra ele seja feito se não da sua vontade, a vontade de um Deus vivo".

O livro do PaiOnde histórias criam vida. Descubra agora