Capítulo 3 - As verdades do pai

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Mateus caminhava sem rumo pela estrada quando uma carroça com uma família o ofereceu carona.

- Para onde está indo senhor?

- Para além daquelas montanhas.

- Não é muito chão para ir andando e sem ao menos um pouco de água?

- Nada me falta bom senhor, assim como a tua família que segue a palavra daquele que está acima e também em baixo ao redor e dentro de nós.

- Não sei do que tu falas.

- Sabes mais que o profeta dos templos e ainda hoje salvará mais de uma vida.

- Não posso leva-lo comigo mais fique com isso.

O senhor entregou a Mateus um cantil com água e um pedaço de pão duro.

- Rafael, ainda que andes pelas trilhas escuras do homem não temeras o mal, porque tua fé é mais forte que as espadas dos homens.

- Como sabes meu nome senhor, és um profeta?

- Sou apenas um jovem andarilho que carrega consigo o livro do pai, e nele está escrito que aquele que estende a mão para um irmão, em verdade não receberas a chibata da lei do homem se não pela vontade do próprio Deus.

Mateus agradeceu e sentou-se para comer e beber enquanto a carroça se distanciava de suas vistas. O homem sabia do que Mateus falava, havia ouvido historias de um Deus único e em segredo orava todas as noites pedindo proteção a sua família. Em sua carroça havia uma estátua que levava para um templo, serviço que sempre fazia naquela época do ano. Ao cair a noite ele se juntou a um pequeno grupo que era escoltado por guardas reais.

- Que a Deusa da lua lhe seja protetora senhor. Disse um dos guardas.

- Boa noite jovem guarda, eu e minha família podemos parar aqui próximos a vocês?

- Vocês estão em quantos?

- Somos eu, minha esposa e minha filha.

- Filha é, quantos anos ela tem?

- Porque quer saber jovem senhor.

- Apenas me responda. Disse o jovem guarda apontando-lhe a espada.

- Dezessete.

- Hum, na flor da idade. Deixe a comigo essa noite e os protegerei.

- Não posso fazer isso, é minha filha.

- Ousa me desafiar velho? Disse agarrando as vestes e o levantando alguns centímetros do chão.

- Por favor, peço desculpas, permita que eu me vá com minha família.

O guarda o jogou para trás e apontou para onde havia mais outros três guardas armados.

- Vê, nossa comitiva é de prisioneiros que cultuam um Deus único, se não quiser que você e sua família façam parte dela. Traga sua filha aqui agora.

O guarda passou levemente a espada no rosto do homem que de joelhos e olhos fechados lembrou das palavras do jovem andarilho. Sem medo e em voz alta ele falou com todo o ar de seus pulmões.

- Hoje foi me dado o poder e ainda que aquele que crê andes pelas trilhas escuras do homem não temeras o mal, porque a nossa fé, a fé no Deus único é mais forte que as espadas dos homens.

De onde estavam presos, as outras pessoas disseram em voz alta. - Salve senhor e a ele toda a glória. Os outros guardas não entenderam nada.
- Então és um desses fanáticos! Agora serás preso e tua filha será minha de qualquer jeito.

- Se for da vontade do Deus único assim será, porem minha fé me diz que tua espada não pode me ferir e aqueles que estão cativos hoje pelo poder de seu nome serão libertos.

- Senhor, não havia entendi quando viestes a mim em forma de andarilho. Mas tu sabes meu nome e a ti hoje entrego a mim e a minha família.

- O guarda levantou a espada e ia atravessar o peito quando uma mão em seu ombro o deteve. Seus músculos paralisaram e ele não conseguiu se mexer.

- Boa noite meu irmão, a ti não foi dado poder para com essas pessoas de Deus. Segue teu caminho sem eles e nenhum mal cairá sobre ti e teus soldados.

Saindo do estado petrificado o guarda deu um passo para trás.

- Quem es tu e que magia negra é essa?

- Eu sou Mateus, um andarilho que segue as palavras do pai. E nela está escrito que não cai um fio de cabelo da cabeça de seus filhos que ele não o saiba. Agora vá, tua esposa está em casa e tua filha nascerá saudável.

- Bruxo, como sabes que minha mulher está gravida e nosso filho para nascer?

- Pois assim disse me um anjo do senhor.

- Tu és outro fanático, vocês estão por todo lugar. Bruxaria! Meus deuses me protegerão de suas palavras.

- Chegará o tempo que todo homem conhecera o caminho, ele virá, caminhará entre vós e muitos ainda assim não o reconhecerão, tu serás um deles. Mais quando teu outro filho adoecer clame pelo nome de Deus e ele o ouvirá.

O guarda levantou a espada, mas Mateus continuou o que estava fazendo, levantou o senhor que ainda estava de joelhos e soltou todos os outros que estavam presos por seguir a fé do Deus único sem nem um guarda o tentar impedir.

- Vão meus irmãos, tua fé hoje os liberta do cárcere dos homens e nela continuem para que em breve estejam libertos da carne que vos prendem ao solo.

Todos foram embora seguindo a carroça do senhor que mais cedo ajudara Mateus.

Sozinho cortando agora caminho por uma estrada solitária Mateus falava com um dos espíritos que o acompanhava.

- Ainda falta muito?

- Menos do que ontem, e não te esqueças...
- Eu sei...Lê, aprendes, segue o que está escrito e então ensina a teu próximo.

- Viu como você sabe o que tem de fazer, porque ainda resmungas como a criança de anos atrás...

Mateus levantou a cabeça para o céu e respirou oar puro da noite, nesse mesmo instante em outro lugar um jovem de mesma idadecom sua túnica branca e ornamentos dourados fazia a mesma coisa.   

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