Enquanto se banhava seu pensamento vagava pela história de Mateus, ela pode ver até o que ele não viu, o momento da morte de seus pais. Ele era parecido com ela, havia se entregue a algo e na hora que precisou foi deixado para trás. Como podia seguir a mesma fé que levou seus pais a morte. Jamais os perdoaria, seu pai era única coisa que amava nesse mundo e jamais havia pedido nada depois de tanto ajudar. Ela ia por a roupa que sempre usava mais por um momento ela pareceu comum. Pegou um vestido que havia feito a muito tempo e ele ainda cabia perfeitamente no corpo. Ela foi até a mesa onde Mateus havia acabado de servir a janta.
- Espero que o gosto esteja bom como o cheiro.
Mateus se virou e quase derrubou a jarra de água. Seus olhos não puderam deixar de notar tamanha beleza.
- Me desculpe não sabia que ia sair.
- Não vou, porque diz isso?
- Você está muito bonita.
Ela conteve um sorriso de satisfação olhando para o lado, mais suas bochechas contraíram deixando claro o agrado.
- Apenas deu vontade de usar esse vestido que fiz a algum tempo.
Até aquele momento suas vestes nunca haviam feito diferença em sua vida. Porem vê-la
como estava o fez querer estar melhor.
- Perdoe a minha presença nesse estado.
- Não tem culpas de ter nascido feio.
- Talvez tenha razão.
- Estava brincando.
- Então achas que sou bonito?
Ela foi pega de surpresa.
- Acho que deve servir a janta antes que esfrie.
- É claro, é uma sopa que sempre via minha mãe fazer, espero que esteja a seu gosto.
- Veremos.
Eles jantaram e conversaram sobre o livro do pai, conforme a conversa caminhava ambos iam se abrindo e afrouxando as correntes que os prendiam ao passado, talvez com um pouco de ajuda do vinho que ela serviu e o fez beber.
- Então você também é órfão.
- Sim, desde muito pequeno.
- Sinto muito pela execução de seus pais.
- Como sabes que eles foram executados?
- Você me disse.
- Nunca contei isso a ninguém. Por que não me diz a verdade?
- Porque você já sabe não é mesmo?
- Prefiro ouvir de tua boca.
- Minha história é só minha.
- A dor é como o Amor Ana, precisamos compartilhar, só assim ela se transformará em algo melhor.
- Não me chame de Ana.
- Me desculpe, não queria lhe recordar seu pai.
- Viu, tu és como eu não é, pode velos e ouvi-los.
- Sim, desde muito jovem.
- Porque os ouve, assim como eu eles não salvaram seus pais.
- Está enganada Califa, meu pai descansa a sombra do altíssimo, seu nome foi escrito no livro da vida no momento que se entregou a fé do Deus único.
- Mas ele morreu assassinado covardemente.
- Não sou digno nem mesmo de tentar imaginar como Deus pensa. Sigo a sua vontade e que ela seja feita assim na terra como no céu acima de nós.
- Você segue sem questionar, está cego pela palavra escrita nesse livro.
- O que está escrito é apenas uma parte de um todo, gravado em cada um de nós está a palavra de Deus, se tu sabes o que é acerto e errado, é porque ele já te ensinou e gravou isso em seu espirito.
- Pois era certo que ele salvasse meu pai depois de tudo que fiz.
- E teu pedido foi atendido e teu pai está salvo.
- Salvo debaixo da terra, morto em agonia por conta da doença.
Mateus se levantou e tocou o peito de Califa com a palma da mão aberta e com a outra mão cobriu-lhe os olhos. Ela não o impediu.
- Em verdade vos digo, que quem promove a caridade em seu nome sem buscar nada para si, não derramara uma lagrima que não seja de alegria em seu reino. Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir que siga seus ensinamentos. Deus pai, ouça meu pedido e permita que tua filha veja a verdade que só tu conheces.
Uma luz forte saiu das mãos de Mateus e Califa foi ficando sonolenta, ela ia cair da cadeira quando ele a pegou nos braços e a levou até a cama.
- Que assim como eu você esteja com Deus em seu coração, para que ele lhe mostre a verdade que teus olhos se negam a enxergar e teus ouvidos não ouvem.
Ele estava saindo quando ela inconscientemente segurou-lhe a mão, ele sentou ao lado da cama e velou seu sono.
- Enfim podes ver.
- Papai?
- Sim minha filha, sou eu, seu pai.
Ela correu e o abraçou em meio as lagrimas, enquanto ele a girava no ar, ia ficando menor até voltar a ser uma criança.
- Você está vivo.
- Mas de que quando em terra.
- Espere, não estamos na terra?
- Não minha filha, estamos no reino do Céu e aqui há muitas moradas.
- Então Mateus estava certo, é o Deus único que comanda tudo e não os deuses.
- Muito ainda há de aprendermos sobre aquilo que está acima de nós. Não importa para quem você reza minha filha, desde que seu coração esteja com amor e caridade ao teu próximo. Ou te esqueces que rezavas para os deuses e ainda sim fazia milagres.
- Tem razão meu pai.
- Pergunte o que vai em teu coração, não percas a oportunidade que teu amigo lhe ofereceu.
- Não entendo.
- Estas comigo pela caridade de teu amigo na terra, a ele foi dado muitas tarefas, mas também o poder da palavra de Deus.
- Você sofreu?
- Nada que não tenha merecido pelas minhas próprias escolhas.
- Eu pedi, eu pedi muito por você meu pai.
- E usei minha filha, e lhe sou muito grato, pelas suas palavras bondosas de amor e carinho, eu pude ser resgatado assim que saí do corpo da carne.
- O que quer dizer?
- Que quando a alma abandona o corpo ela volta ao seu estado original, os espíritos que vês na terra são muito das vezes espíritos que ainda não foram resgatados ou estão ligados a terra por algum motivo. A também aqueles que estão por vontade e voluntariamente para ajudar os irmãos no aperfeiçoamento de suas próprias almas.
- Então mesmo que tenha morrido meu pedido foi atendido é o que quer dizer?
- A morte não existe minha filha, um dia todos saberão dessa verdade.
- Estou com muita saudade.
- E eu também, lembre-se desse abraço quando acordar e nunca se sentira sozinha novamente minha querida Ana.
Califa o abraçou forte e sua forma foi voltando ao tamanho adulto. Quando despertou estava abraçada a Mateus com seus olhos cheios de lagrimas. Ele fez que ia solta-la, mas ela o abraçou ainda mais forte e o puxou para cama. E assim dormiram os dois até de manhã, abraçados como se fossem um só.
Pelo amor se chegara as portas do céu e pela caridade ela se abrira para vossa entrada.
Assim está escrito no livro do pai.
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O livro do Pai
SpiritualNo tempo dos antigos deuses Mateus era apenas um garoto quando a espiritualidade o chamou, ouvia e via pessoas que não eram desse mundo. Sempre com o livro de seu pai junto ao peito adentrava cada vez mais em território inexplorado, tomando todo cui...