Capítulo 9 - Notoriamente

30 2 0
                                    


Enquanto se banhava seu pensamento vagava pela história de Mateus, ela pode ver até o que ele não viu, o momento da morte de seus pais. Ele era parecido com ela, havia se entregue a algo e na hora que precisou foi deixado para trás. Como podia seguir a mesma fé que levou seus pais a morte. Jamais os perdoaria, seu pai era única coisa que amava nesse mundo e jamais havia pedido nada depois de tanto ajudar. Ela ia por a roupa que sempre usava mais por um momento ela pareceu comum. Pegou um vestido que havia feito a muito tempo e ele ainda cabia perfeitamente no corpo. Ela foi até a mesa onde Mateus havia acabado de servir a janta.

- Espero que o gosto esteja bom como o cheiro.

Mateus se virou e quase derrubou a jarra de água. Seus olhos não puderam deixar de notar tamanha beleza.

- Me desculpe não sabia que ia sair.

- Não vou, porque diz isso?

- Você está muito bonita.

Ela conteve um sorriso de satisfação olhando para o lado, mais suas bochechas contraíram deixando claro o agrado.

- Apenas deu vontade de usar esse vestido que fiz a algum tempo.

Até aquele momento suas vestes nunca haviam feito diferença em sua vida. Porem vê-la

como estava o fez querer estar melhor.

- Perdoe a minha presença nesse estado.

- Não tem culpas de ter nascido feio.

- Talvez tenha razão.

- Estava brincando.

- Então achas que sou bonito?

Ela foi pega de surpresa.

- Acho que deve servir a janta antes que esfrie.

- É claro, é uma sopa que sempre via minha mãe fazer, espero que esteja a seu gosto.

- Veremos.

Eles jantaram e conversaram sobre o livro do pai, conforme a conversa caminhava ambos iam se abrindo e afrouxando as correntes que os prendiam ao passado, talvez com um pouco de ajuda do vinho que ela serviu e o fez beber.

- Então você também é órfão.

- Sim, desde muito pequeno.

- Sinto muito pela execução de seus pais.

- Como sabes que eles foram executados?

- Você me disse.

- Nunca contei isso a ninguém. Por que não me diz a verdade?

- Porque você já sabe não é mesmo?

- Prefiro ouvir de tua boca.

- Minha história é só minha.

- A dor é como o Amor Ana, precisamos compartilhar, só assim ela se transformará em algo melhor.

- Não me chame de Ana.

- Me desculpe, não queria lhe recordar seu pai.

- Viu, tu és como eu não é, pode velos e ouvi-los.

- Sim, desde muito jovem.

- Porque os ouve, assim como eu eles não salvaram seus pais.

- Está enganada Califa, meu pai descansa a sombra do altíssimo, seu nome foi escrito no livro da vida no momento que se entregou a fé do Deus único.

- Mas ele morreu assassinado covardemente.

- Não sou digno nem mesmo de tentar imaginar como Deus pensa. Sigo a sua vontade e que ela seja feita assim na terra como no céu acima de nós.

- Você segue sem questionar, está cego pela palavra escrita nesse livro.

- O que está escrito é apenas uma parte de um todo, gravado em cada um de nós está a palavra de Deus, se tu sabes o que é acerto e errado, é porque ele já te ensinou e gravou isso em seu espirito.

- Pois era certo que ele salvasse meu pai depois de tudo que fiz.

- E teu pedido foi atendido e teu pai está salvo.

- Salvo debaixo da terra, morto em agonia por conta da doença.

Mateus se levantou e tocou o peito de Califa com a palma da mão aberta e com a outra mão cobriu-lhe os olhos. Ela não o impediu.

- Em verdade vos digo, que quem promove a caridade em seu nome sem buscar nada para si, não derramara uma lagrima que não seja de alegria em seu reino. Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir que siga seus ensinamentos. Deus pai, ouça meu pedido e permita que tua filha veja a verdade que só tu conheces.

Uma luz forte saiu das mãos de Mateus e Califa foi ficando sonolenta, ela ia cair da cadeira quando ele a pegou nos braços e a levou até a cama.

- Que assim como eu você esteja com Deus em seu coração, para que ele lhe mostre a verdade que teus olhos se negam a enxergar e teus ouvidos não ouvem.

Ele estava saindo quando ela inconscientemente segurou-lhe a mão, ele sentou ao lado da cama e velou seu sono.

- Enfim podes ver.

- Papai?

- Sim minha filha, sou eu, seu pai.

Ela correu e o abraçou em meio as lagrimas, enquanto ele a girava no ar, ia ficando menor até voltar a ser uma criança.

- Você está vivo.

- Mas de que quando em terra.

- Espere, não estamos na terra?

- Não minha filha, estamos no reino do Céu e aqui há muitas moradas.

- Então Mateus estava certo, é o Deus único que comanda tudo e não os deuses.

- Muito ainda há de aprendermos sobre aquilo que está acima de nós. Não importa para quem você reza minha filha, desde que seu coração esteja com amor e caridade ao teu próximo. Ou te esqueces que rezavas para os deuses e ainda sim fazia milagres.

- Tem razão meu pai.

- Pergunte o que vai em teu coração, não percas a oportunidade que teu amigo lhe ofereceu.

- Não entendo.

- Estas comigo pela caridade de teu amigo na terra, a ele foi dado muitas tarefas, mas também o poder da palavra de Deus.

- Você sofreu?

- Nada que não tenha merecido pelas minhas próprias escolhas.

- Eu pedi, eu pedi muito por você meu pai.

- E usei minha filha, e lhe sou muito grato, pelas suas palavras bondosas de amor e carinho, eu pude ser resgatado assim que saí do corpo da carne.

- O que quer dizer?

- Que quando a alma abandona o corpo ela volta ao seu estado original, os espíritos que vês na terra são muito das vezes espíritos que ainda não foram resgatados ou estão ligados a terra por algum motivo. A também aqueles que estão por vontade e voluntariamente para ajudar os irmãos no aperfeiçoamento de suas próprias almas.

- Então mesmo que tenha morrido meu pedido foi atendido é o que quer dizer?

- A morte não existe minha filha, um dia todos saberão dessa verdade.

- Estou com muita saudade.

- E eu também, lembre-se desse abraço quando acordar e nunca se sentira sozinha novamente minha querida Ana.

Califa o abraçou forte e sua forma foi voltando ao tamanho adulto. Quando despertou estava abraçada a Mateus com seus olhos cheios de lagrimas. Ele fez que ia solta-la, mas ela o abraçou ainda mais forte e o puxou para cama. E assim dormiram os dois até de manhã, abraçados como se fossem um só.

Pelo amor se chegara as portas do céu e pela caridade ela se abrira para vossa entrada.

Assim está escrito no livro do pai.

O livro do PaiOnde histórias criam vida. Descubra agora