Meu Célebre Homem Culto

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Em meio a luz alaranjada da lamparina minha mãe me concebeu.

— É um menino!

Grita a parteira do velho quarto em um casebre isolado no extremo norte de Minas Gerais.

Sotoque arrastado e chinelo de borracha.

Fui criado entre o fogaréu de madeira.

Irmãos até perder vista.

O povo de fora contorce o rosto em desdém.

Considera as crias da minha terra ignorantes.

Ah! Se eles soubessem o que cultivamos nesse pedaço de chão.

Não somos envaidecidos de vestimentas.

Não desejamos nada além do nosso canto.

Estudo eu não tive.

Mas eu sei trabalhar.

Debaixo desse sol forte nem vejo a hora passar.

E nada de corpo mole, em casa tenho bocas pra alimentar.

Não sou conhecido como alguém importante para a história desse país.

E não ganho honrarias como um dos célebres homens cultos.

Mas carrego comigo algo valioso.

Fui agraciado com uma preciosidade que muitos nem ao tardar de suas vidas terão.

A sabedoria.

NOTAS FINAIS

Poema feito em homenagem ao aniversário de 80 anos do meu avô Pedro Santos.
Nascido, criado e morador de Taiobeiras-MG.

A Chuva Me Viu ChorandoOnde histórias criam vida. Descubra agora