Ana POV
Subir em um palco. Não existe sensação mais confusa (pelo menos, não para mim) do que essa. É onde me sinto leve, a alma nua. Mas também é onde minha timidez se aflora, o coração bate forte no peito e as pernas tremem. Ainda sim, coloco meu querido violão branco a tiracolo e subo os três degraus do pequeno palco.
Ia me apresentar em um restaurante bem chique, totalmente diferente de quando eu cantava junto dos meus amigos e nas festinhas de família. Mas eu tinha escolhido aquilo, a música sempre foi o meu refúgio, porto-seguro, abrigo. E agora que eu viveria disso, era preciso ter coragem.
Me apresentei para o público: clientes sentados confortavelmente em suas mesas, aproveitando a vida e desejando um pouco de distração. Para mim, a música sempre foi mais do que um mero entretenimento, mas as pessoas daquele ambiente não pareciam se importar muito com a minha presença. Mesmo assim, dei o melhor de mim, entreguei minha alma em cada nota que saía de Tinho.
Comecei a cantar Tenerife Sea e automaticamente, meus olhos se fecharam. Eu podia sentir aquela melodia doce em cada célula do meu corpo, e tudo em volta de mim pareceu sumir. Estava flutuando, e a minha voz era quem me fazia subir.
Quando abri os olhos, quase errei as notas: tinha um casal dançando em frente ao palco. Alguém também sentiu a magia dessa música! Fiquei olhando para eles enquanto cantava, me sentindo subitamente segura e tranquila.
A mulher que estava dançando olhou para mim e quando seus olhos encontraram os meus, ela abriu um enorme sorriso que parecia estar atrelado ao que surgiu nos meus lábios. Seus cabelos eram loiros e cacheados, a pele bem branquinha. Estava com um vestido preto, que ressaltava as curvas de seu corpo. Sorri ainda mais ao ver que ela estava descalça, completamente entregue ao momento. Mas o que mais chamou minha atenção foram seus olhos, que eu não pude definir a cor.Pareciam ter a capacidade de capturar todas as cores do ambiente e depois refleti-las em tons de laranja, verde e castanho. Eu mal reparei no homem que a segurava pela cintura, tamanho efeito aqueles olhos tiveram sobre mim.
Terminei a música sem nem perceber. O nervosismo voltou com tudo. Era a primeira vez que eu apresentava uma música feita por mim para desconhecidos.
__Bom gente, essa é a última música, ela é autoral. _ arrumei o Tinho, tentando controlar as batidas aceleradas do meu coração_Se chama Singular.
Comecei a cantar aquela melodia tão conhecida por mim. Vi que o casal tinha voltado a dançar, e mais pessoas estavam se levantando das mesas. Sorri e me deixei levar. Aquela música tinha sido feita para o meu primeiro amor. Sempre que eu a cantava, me lembrava dos nossos bons momentos, das risadas, dos abraços, dos beijos. Fechei os olhos por um instante, tentando sentir ao máximo cada emoção que aquela música me proporcionava. Abri os olhos de novo e me encontrei com os da moça cacheada. Ela me sorriu, eu sorri de volta. Ela pareceu sentir a importância daquelas palavras que saíam da minha boca, uma energia boa emanava dela e só fazia aquele momento ser mais perfeito.
Singular acabou. Eu só sabia sorrir, meu rosto parecia que ia rasgar.Ainda mais quando as palmas começaram, puxadas pela moça de olhos não-sei-de-que-cor. Agradeci. A timidez se mostrou de novo na minha fala, mas eu não me importei. Tudo tinha sido tão lindo, tão especial.
As pessoas voltaram para suas mesas. Eu desci do palco e tirei meu violão. Tentei ligar para o meu namorado, mas ele não atendia. Fiquei preocupada. Já ia ligar novamente, quando uma voz rouca roubou minha atenção.
__ Hey, moça da voz mais doce que eu já ouvi._Era a loira cacheada. Seu sorriso ia de orelha a orelha._Eu adorei teu show!Tu canta com tanta leveza. Traz uma paz pra gente.
__ Ah, obrigada moça._ o sorriso logo se fez presente nos meus lábios_ Fico muito feliz que tenha te tocado. E eu adorei te ver dançando, viu?
__ Até parece que eu ia deixar passar a chance de dançar com uma voz linda dessas cantando __ nós duas rimos, e eu percebi o quanto ela era alta, minha cabeça mal batia em seus ombros. E mesmo de perto, eu não era capaz de atribuir uma cor para aqueles olhos.
__ Vamos? __ o homem que estava com ela a chamou. Nos despedimos e eu a segui com o olhar, completamente hipnotizada.
Quando ela saiu do restaurante, voltei a tentar ligar para meu namorado, novamente sem sucesso. Decidi ligar pra minha melhor amiga vir me buscar.
__ Que foi?_ ele atendeu com um tom impaciente na voz.Revirei meus olhos, mesmo que ela não pudesse ver_ Acho bom que seja importante.
__ Boa noite pra você também, Bárbara_ ouvi ela bufar do outro lado_ Tu pode vir me buscar aqui no restaurante?
__ Ué, cadê teu príncipe encantado?_ Ela disse, irônica. Incrível a capacidade de Bárbara de me irritar.
__ Ele não tá atendendo o celular, deve tá ocupado. Tu pode vir ou não?
__ Você não tá parecendo uma pessoa que precisa de um favor.
__ ANDA LOGO, SIS!_ eu disse, fazendo ela rir e dizer que já estava a caminho.
(...)
__ Como foi o show?_ minha melhor amiga perguntou, logo que entrei no carro.
__ Ai Babi, foi tudo incrível!_ eu sorri, lembrando do quanto me senti completa naquele palco_ Teve até gente dançando. Tu tinha que ver quando cantei Singular, foi lindo!
__ Viu, eu disse que tu não precisava ficar nervosa. E a tua música é maravilhosa, todo mundo tinha que ouvir.Me desculpa por não poder ir te ver._ Bárbara disse enquanto dirigia até a minha casa. Seu olhar triste demonstrava a culpa por não ter ido ao show.
__ Ei, tá tudo bem, eu sei que você tava ocupada_ Bárbara era minha amiga desde criança, sempre esteve ao meu lado, cuidando de mim e me protegendo. Eu só podia me sentir grata por tê-la ao meu lado._ Além disso, você só ia me atrapalhar com suas besteiras.
__ Ah, até parece. Agora é fácil falar, depois que implorou pra que eu fosse_ eu me fiz de desentendida, mas tinha realmente implorado pra que ela fosse.
__ Eu só estava nervosa, só isso.
__Me engana que eu gosto, Ana Clara.Sei que tu não vive sem essa beldade aqui _nós duas rimos. Bárbara era mesmo uma palhaça_E aquele idiota do teu namorado? Por que não foi?
__ Ele teve uma reunião no escritório, não podia faltar. Deve tá lá até agora.
__ Hum, sei... Até quando você vai fingir que não tem nada de errado com teu relacionamento, sis?_ eu devia saber que aquela conversa chegaria naquele ponto.Babi não aceitava o meu namoro, sempre dizia que ele não era a pessoa certa pra mim. Eu só queria chegar em casa, mas Bárbara parecia dirigir cada vez mais devagar. Eu não ia me salvar da bronca dela.
__ A gente tá muito bem sis, para de implicar com ele._ liguei o rádio, mais para fugir de Bárbara do que para qualquer outra coisa. Ela desandou a falar, mas eu já não prestava atenção.Olhei pela janela, vendo as luzes daquela cidade agitada e subitamente, me lembrei dos olhos daquela mulher. Eles me transmitiam tanta energia positiva, segurança, conforto. Sorri ao lembrar de como ela dançava, alheia a todos a sua volta.
__ Ô, ANA!_ Bárbara disse, me tirando dos meus devaneios. Na certa deve ter feito a caveira do meu namorado enquanto eu viajava nos meus pensamentos_ Tá me escutando mais não, demônia? E esse sorriso de besta na cara é por quê?
__ Só tô feliz sis_ eu disse, compartilhando um sorriso sincero com minha melhor amiga. _Só isso.

YOU ARE READING
Contrastes
Fiksi PenggemarMinha primeira fanfic e eu não sei resumir minhas histórias sem dar spoiler, então sem descrição. Espero que gostem, é sobre o duo mais lindo desse Brasil.