8- Festa

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Vitória POV

-Ana?

Olhei surpresa para a morena parada diante da minha porta. Ana Clara parecia transtornada, o rosto vermelho e as mãos inquietas mexendo na barra da camiseta.

-Eu preciso de um lugar pra beber, Vitória. Agora!

Pisquei algumas vezes, tentando entender a expressão dura de Ana. Não estava entendendo nada, ainda mais o que ela estava fazendo parada na minha casa uma hora daquelas, querendo beber. Mas a julgar pela sua postura, coisa boa não tinha acontecido. Fui tomada por uma onda de preocupação, mas achei por bem não perguntar nada pra ela naquele momento.

-Tudo bem, espera só eu me arrumar.

Abri passagem para que ela entrasse. A morena caminhou até a sala sem dizer uma única palavra, enquanto eu me dirigia até meu quarto. Vasculhei minha mente em busca de algum sinal em nossas conversas para aquela aparição misteriosa, um gesto, algo que estivesse preocupando Ana Clara, mas foi em vão, eu não me lembrava dela ter me dito nada; então me limitei a tentar ajudá-la no que fosse possível, mesmo estando confusa com o que estava acontecendo.

Voltei pra sala e a encontrei olhando fixamente para a parede, mordendo os lábios e batendo impacientemente os pés no chão. Suspirei frustrada por não saber o que estava tirando sua paz, mas senti um pouco de alívio por saber que ela tinha me procurado para ser sua companhia e aliviar sua cabeça do que quer que estivesse a afligindo.

-Vamos?

Ela se levantou, balançando a cabeça afirmativamente. Descemos em silêncio até entrarmos no meu carro. Perguntei se ela já tinha algum lugar em mente para irmos, e Ana me respondeu que não fazia ideia e que qualquer lugar estava bom. Sugeri que fôssemos para a casa de uma amiga, que estava dando uma festinha e não era muito longe da minha casa. Ana Clara apenas concordou, e passou o caminho inteiro olhando pela janela.

Chegamos na casa de Gabriela, na festa com mais bêbados por metro quadrado que eu já tinha visto. Minha amiga nos cumprimentou logo na entrada, me lançando uma piscadinha pela minha companhia. Ana estava quieta demais, o que eu interpretei como sendo um pedido silencioso por álcool. Deixei ela na pista de dança improvisada, e fui buscar umas bebidas.Ela engoliu tudo num só gole tão logo lhe entreguei a garrafa.

-Vamo dançar, Vi.

Ana saiu me puxando, parecia disposta a se divertir a qualquer custo. Eu queria muito entender o porquê de tudo aquilo, mas não forçaria uma conversa indesejada. Ao invés disso, acompanhei o corpo da mais baixa conforme o ritmo sensual da música. As pessoas dançavam muito próximas, e o espaço estava cada vez mais quente. Flagrei Ana Clara com outra garrafa, e percebi que ela já começava a se alterar. Quando uma nova música se iniciou, ela atirou o braço que segurava a bebida no meu pescoço, jogando o cabelo pra trás com a outra. Eu já não pensava com coerência, a música tava alta demais, e tê-la tão próxima a mim não estava ajudando muito. Pus minhas mãos na sua cintura, acompanhando o seu rebolado. Ana fixou seus olhos negros nos meus, e por um segundo, pareceu que estávamos só nós duas naquele ambiente. Puxei o corpo da pequena para mais próximo do meu, e sua respiração no meu pescoço me fez arrepiar. Ana Clara se mexia nos meus braços, acompanhando a música em uma dança que estava me deixando maluca. A cada vez que sua pele encostava na minha ou eu ouvia ela cantar, minha vontade de beijá-la aumentava.

Girei Ana Clara, afastando-a antes que eu acabasse fazendo uma besteira. Ela riu, aquela risada gostosa que me tirava de órbita, e terminou de beber o líquido que estava em sua garrafa. Se aproximou de mim, colocando meus cachos atrás da orelha, e sussurrando no meu ouvido que ia buscar mais bebida. Concordei ainda sentido um formigamento onde seus dedos haviam estado, e me perguntado o que era tudo aquilo. Ok, eu estava apaixonada. E não sabia lidar com aquela morena, e muito menos com as reações que meu corpo sentia com ela estando tão próxima. Me prometi que quando ela voltasse, faria de tudo para levá-la embora. Até porque, ela já tinha bebido muito pra uma única noite.

Ana POV

Tinha muita gente na casa da amiga de Vitória, e estava muito quente. Desde que chegamos, eu me ocupei de ingerir a maior quantidade de álcool possível, e já podia sentir minha cabeça girar. Tinha vontade de dançar, de pular, de gritar. A música me contagiava num nível enlouquecedor, e sem perceber, eu já estava nos braços da cacheada rebolando e curtindo a festa. Estar com Vitória tornava as coisas mais leves, então eu não estava pensando muito na traição de Mike.

Enquanto estávamos dançando, meus olhos foram atraídos pelos dela, e eu pude sentir uma mudança na sua postura, que me provocou um leve frio na barriga. Me pareceu uma boa ideia começar a provocá-la. por isso comecei a dançar cada vez mais perto de Vitória. O calor que vinha do corpo dela me alucinava, e era bom sentir suas mãos se apossarem da minha cintura. A cacheada me girou, parecendo nervosa com nossa proximidade. Eu ri, e decidi ir um pouco mais longe, passando os dedos no seu cabelo e sussurrando no seu ouvido.

Fui buscar mais bebida gargalhando da cara de Vitória. Também estava rindo de mim mesma, por ter demorado tanto pra perceber a tensão em que nos encontrávamos. Era claro que ela sentia algo a mais por mim, e eu percebi que também sentia. Era estranho admitir isso, ainda mais nessas circunstâncias, mas não deixava de ser verdade: aquela mulher tinha mexido comigo desde a primeira vez que nos vimos.

Peguei a garrafa na cozinha, consciente de que teria uma ressaca daquelas no outro dia, mas também disposta a terminar aquela noite bem, com aquela sensação de liberdade aflorada.

Voltei para a pista de dança, só para sentir meu sangue ferver em minhas veias com a cena que tive que presenciar.

Vitória POV

Estava esperando Ana voltar, quando senti alguém envolver minha cintura. Me virei e me deparei com Marcos, com um sorriso no rosto.

-Oi, Vi. Sentiu minha falta?

Sua voz soou próxima ao meu ouvido. Tirei suas mãos do meu corpo, e estava prestes a respondê-lo, quando avistei uma Ana Clara atravessando a sala como um furacão. Quando se aproximou, suavizou a expressão, deixando que um lindo sorriso tomasse conta de sua feição. Passou na frente de Marcos, como se ele nem estivesse ali, e me entregou uma das garrafas. A música estava mais baixa nesse momento, por isso pude ouvir claramente o que ela disse.

-Oi amor, tá aqui sua bebida.

Olhei no fundo daqueles olhos escuros, e depois para o homem a minha frente, que parecia entender tanto quanto eu daquela situação. Ana Clara ficou do meu lado, uma das mãos tomou posse do meu quadril.

-Cês são amigos, Vi?- como nem eu nem Marcos respondemos, ela estendeu uma das mãos para ele, com uma cara de cínica que me fez sorrir-Prazer, Ana Clara. Namorada da Vitória.

Meu peito se aqueceu com aquelas palavras, mesmo percebendo que elas saíram um tanto enroladas da boca de Ana. Ouvi o homem murmurar um "Prazer, Marcos", e se afastar sem graça. Em seguida, a gargalhada gostosa de Ana Clara preencheu o ambiente, e eu fiquei ainda mais confusa. Tudo naquela noite estava fora do comum. Ana ter aparecido na minha porta sem qualquer explicação, aquela festa, e agora essa reação que parecia ser....ciúmes?

Afinal de contas, o que diabos tava acontecendo?



ContrastesWhere stories live. Discover now