Contrastes

10-Domingo

Vamo fingir que eu não sumi.

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Ana POV

Minha cabeça doía como se tivesse sido atingida por uma barra de ferro. Esfreguei meus olhos antes de abri-los e me deparar com um lugar estranho. Me sentei rapidamente na cama, só agora notando que não era a minha, e sentindo uma forte pontada na cabeça. Ótimo. Eu estava de ressaca na casa de alguém que eu nem sabia quem era porque simplesmente não me lembrava de nada na noite anterior.

O meu coração acelerado pelo medo de estar com alguém ruim.Porém, notei que não estava com as minhas roupas. Vestia um blusão cinza, e reparei que todos os meus pertences estavam meticulosamente dobrados sobre o criado-mudo ao lado da cama, formando uma pilha com meu celular no topo. Bom, pelo menos estava com alguém cuidadoso.Toquei na tela. Já eram nove e meia da manhã, e o visor mostrava sete ligações perdidas, duas de Maicon e cinco da Bárbara, além de diversas mensagens dos dois. Ignorei totalmente qualquer coisa que meu ex possa ter dito e digitei uma mensagem rápida para a minha amiga, avisando que estava bem (mesmo não tendo ideia de onde estava) e que mais tarde lhe contaria tudo. 

Forcei meus olhos a tentarem enxergar mais alguma coisa familiar naquele quarto escuro. Parecia pertencer a uma criança. A cama era pequena, o quarto de um amarelo bem clarinho, com alguns desenhos de girassóis pintados nas paredes. Vi uma pequena bicicleta encostada em um canto, junto de um grande baú marrom. Minha cabeça doía em busca de alguma recordação com aquele lugar.Porém, a cada vez que pensava, tinha mais certeza de que nunca havia estado ali.

Me levantei e caminhei até um guarda-roupas, me questionando quem eu conhecia que pudesse ter filhos. Minha cabeça ainda doía, mas pouco a pouco, as recordações da noite anterior vinham a tona. As lembranças sobre meu término me atingiram em cheio, e depois a decisão de buscar refúgio na casa de Vitória. Abri as portas do guarda-roupas para tentar distrair a súbita vergonha que a preencheu, depois que as imagens da festa se tornaram nítidas para mim. 

Encontrei vários vestidos, blusas e casacos pendurados por cabides. Assim como apontavam as minhas suspeitas, aquele quarto era de uma menina. Passei os dedos pelas roupas, notando que a maioria ainda estava com a etiqueta da loja. Estranhei o fato de não terem sido usadas, e pensando bem, os brinquedos organizados em um armário de frente pra cama também pareciam novos. 

Voltei para a cama, pegando as minhas roupas. Nada parecia se encaixar. Mesmo com a maioria das minhas lembranças da noite anterior de volta, parece que tudo ficou embaçado depois que Vitória me levou até perto da piscina. Bufei, frustrada, e decidi que já tinha passado da hora de sair daquele quarto.

Troquei minhas roupas e bati no maldito criado-mudo quando estava saindo, fazendo uma gaveta se abrir. Ponderei por um breve segundo se deveria ver o que tinha dentro, e decidi que eu precisava ver o que tinha dentro. Para minha própria segurança,claro.

Abri um pouco mais a gaveta, e descobri uma foto e um porta-retratos, ambos virados. Peguei a foto que estava por cima e bingo! Era uma polaroid antiga de Vitória, ela estava com um vestido vinho, o cabelo preso em um coque bagunçado e os pés descalços.  O seu sorriso estava tão largo que foi inevitável não sorrir junto. Uma recordação doce da noite anterior me invadiu. A cacheada segurando a minha mão e dançando comigo.
Na borda da fotografia estava escrito: Vou sempre estar com você pinxesinha!!!
Toquei o sorriso de Vitória, me perguntando para quem poderia ser aquela mensagem, já descartando a ideia de aquele ser seu quarto de infância. Ela não havia me falado sobre filhos, mas afinal de contas, o que eu sabia sobre Vitória Falcão?

Me preenchi de alívio. Eu ainda estava com  Vitória. O estranho é que não me lembrava daquele quarto quando vim a casa dela no aniversário de sua irmã. Talvez estivéssemos na casa da sua mãe e esse fosse seu quarto de infância. Ainda que isso não explicasse todos os objetos novos que eu encontrei pelo cômodo. Ai, eu sou um desastre como detetive.