5- Almoço

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Ana POV

Já eram quase onze e meia quando acordei. Como de costume, depois de ir ao banheiro aproveitei para ver as mensagens no meu celular. Sorri instantaneamente ao me deparar com uma mensagem de Vitória me desejando bom dia e dizendo que não ia sumir assim tão fácil. Me lembrei do que havia dito para ela depois de sair do carro, e corei de vergonha. Tudo bem, eu realmente queria tê-la por perto, com toda sua alegria e energia positiva. Mas isso não passava de amizade, e tive medo que Vitória estivesse interpretando aquilo de forma errada. Resolvi ignorar este pensamento, afinal de contas, eu tinha um namorado.

Namorado esse que eu não via a muito tempo. Depois de responder Vitória com um bom dia bem animado, mandei mensagem para Mike afim de acabar com aquela situação que estávamos vivendo. Disse que precisávamos conversar e que estava cansada de ser deixada de lado. Fui ignorada.

Tomei um banho rápido, na tentativa de esquecer os problemas do meu relacionamento e esfriar minha cabeça. Afinal de contas, o que estava acontecendo? Nós sempre nos demos bem, Mike sempre foi carinhoso e atencioso, brigávamos pouco e tínhamos uma relação calma e estável. Por que ele estava tão indiferente agora? Simplesmente não conseguia entender.

Vesti uma roupa leve e decidi que o melhor a fazer era almoçar na rua, assim podia arejar a mente um pouco. 

Estava caminhando em busca de um bom restaurante, quando uma buzina soou ao meu lado.

_ Ninha! Nem acredito que te encontrei, mulher!

_ Tu tá é me perseguindo,Vi?_ me aproximei do carro enquanto ela ria.

_ Na verdade tô indo almoçar. Quer vir?

_ Pois eu também tava. Eu vou, até porque nem sei onde tem um restaurante bom por aqui._ disse já dando a volta para entrar no carro. Me sentia tão a vontade com aquela mulher que nem sequer pensei em recusar o convite.

_ Oxe, Naclara! Tu nunca comeu no Bonsai?_ fiz uma cara de confusa, que fez Vitória soltar uma gostosa gargalhada_ Chega a ser um absurdo, viu? Morar pertim do melhor restaurante da cidade e não saber...

_ Em minha defesa, não faz tanto tempo assim que tô morando aqui. E a gente vai comer ou ficar conversando?

A cacheada voltou a rir,e logo estava manobrando o carro em direção ao restaurante.

(...)

Quando chegamos, já fiquei encantada com o Restaurante Bonsai. A entrada era ornada por estruturas feitas de madeira, formando uma espécie de arco que dava um tom sofisticado e agradável ao estabelecimento. Um letreiro no alto do arco indicava o nome do lugar. Os tons escuros das paredes contrastando com o branco das janelas dava um charme a mais. Uma pequena trilha com seixos brancos levava à porta do restaurante. Imaginei como seria aquele lugar a noite, com luzes iluminando o caminho e fiquei maravilhada. Como seria quando eu entrasse?

_ Gostou, né?_ Vitória me olhava com um sorriso de canto, e tudo que eu pude fazer foi mexer a cabeça lentamente de forma positiva_ Então bora entrar!

Aquele lugar mais parecia um refúgio do que um restaurante. As mesas redondas com toalhas pretas simples, um balcão de mármore também preto,onde eram servidas as bebidas, painéis de madeira nas parede, com fotografias antigas e recentes feitas naquele mesmo espaço, possivelmente dos clientes.Confirmei minhas suspeitas quando vi uma foto de Vitória, com uma roupa bastante informal, próxima a um quadro negro e percebi que ela realmente gostava de comer ali. Vasculhei o espaço em busca do lugar onde a foto havia sido tirada, mas não encontrei.

 Embora o ambiente pudesse parecer um tanto escuro, tudo o que eu conseguia sentir era uma aura aconchegante emanando daquele lugar. Me sentia confortável como se estivesse em casa, porque não se tratava de um restaurante chique e elegante e tinha um clima bastante familiar e intimista.

 Para onde quer que eu olhasse, podia ver vasos com pequenas arvorezinhas: os bonsais.Fomos para o fundo, por trás de uma árvore frondosa( a única árvore de tamanho normal por ali), onde era possível ver vários fios enroscados nos galhos e no tronco, com pequeninas lâmpadas em suas extremidades. Me prometi que iria até aquele lugar à noite. Estava meio embasbacada olhando para tudo ao meu redor, mas ainda sim, conseguia ver Vitória sorrindo enquanto me acompanhava.

Nos sentamos e Vitória fez os pedidos, dizendo que eu adoraria o prato que ela escolhera. Ela tinha me dito que era vegetariana, então não me surpreendi quando a comida chegou. Eu não sabia dizer ao certo o que era aquela comida, mas tempero que invadiu minha boca era simplesmente maravilhoso. 

_ Oxe, Naclara. Que burocracia que tu tem pra comer! Num pode nem misturar._ Vitória disse apontando para o meu prato, onde todos os alimentos estavam separados.

_ É  uma mania, Vi. Só de ver esse teu prato aí com tudo misturado, já passo mal. Mas tu tava certa, essa comida é uma delícia, e num tenho nem o que falar desse lugar!

_ Que bom que tu gostou. Quase sempre como aqui, me sinto tão em paz.

Continuamos conversando e rindo. Adorava ter a companhia de Vitória, ela me disse que conhecia a dona do restaurante, e podia conversar com ela para que eu me apresentasse ali de vez em quando. Me contou sobre a família dela, os cachorros, o pai que havia falecido. Nessa hora, os olhos da cacheada encheram de lágrimas, e eu instintivamente afaguei seu braço em sinal de apoio.

Estávamos indo embora quando uma amiga de Vitória apareceu. Uma loira alta, muito bonita. Senti um certo incômodo se formar no meu interior, mas me forcei a fingir que nada estava acontecendo.Mesmo sem querer, acabei ouvindo parte da conversa das duas.

_ Eu preciso conversar contigo sobre a Mari, Vi.

_ É sobre o caso dela, Camila?_ Vitória parecia preocupada. 

Nessa hora, achei melhor me afastar, antes que minha curiosidade acabasse atrapalhando a conversa das duas. Caminhei pelo restaurante, observando as fotos nas paredes. Do lado esquerdo, avistei o enorme quadro negro, que cobria toda uma parede. Vários desenhos podiam ser vistos no quadro: borboletas, flores, corações e algumas frases. No topo da parede estava escrito " Coloque aqui tudo o que te fez feliz hoje". Sorri com a simplicidade daquelas palavras e daquele quadro negro, que todos os dias devia ser renovado com mensagens e desenhos bonitos.

_ Que tal escrever alguma coisa?_ Vitória falou perto do meu ouvido, me causando um arrepio e um pequeno susto._ Quer dizer, pra gente não esquecer esse dia, sabe?

Murmurei um sim enquanto tentava conter o meu coração que insistia em martelar no peito pela presença daquela mulher. Peguei um giz verde e escrevi: " Trevo, aconchego e sorriso". Talvez Vi não entendesse, mas aquelas três palavras resumiam perfeitamente o nosso dia.

Ela sorriu com as palavras, olhando por um longo tempo para o que estava escrito. Depois tocou com a ponta dos dedos seu pingente de trevo e olhou para mim. Não pude evitar sorrir, aquela mulher era capaz de entender até o que eu deixava nas entrelinhas.

Vitória pegou um giz branco e escreveu: "A moça de voz de açúcar ". Sorri grande com aquela declaração  de Vitória sobre mim. Desde que eu conheci aquela moça de cabelos cacheados e olhos de cor indefinida, tudo ao meu redor também tinha ficado mais feliz, mais encantador. Dentro de mim, os meus sentimento por aquela mulher começaram a se tornar mais intensos . E o que era para ter sido somente um almoço, virou a certeza de que minha felicidade estava atrelada a de trevo de quatro folhas.


Notas do autor

Preciso nem dizer que sou a pior autora do mundo, né? Desculpa pela demora, mas agora já voltei.Obrigada moça que conversou comigo ontem, e me motivou a voltar a escrever. Acho que perdi um pouco a mão, mas tudo bem, devagarim tudo se ajeita. Beijo procês.

ContrastesWhere stories live. Discover now