9- Piscina

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Vitória POV 

-Vem Ana, me dá sua mão.

Ajudei Ana Clara a descer os degraus e depois subi a escada novamente, para fechar o portão. Não queria que ninguém nos encontrasse, muito menos que a morena voltasse para a festa. Como ela se recusava a ir embora, e eu já estava preocupada com seu estado de embriaguez,  decidi levá-la até a parte inferior da casa da Gabriela. Lá tinha uma piscina enorme e uma área para churrasco, um esconderijo bom o bastante para manter Ana longe das bebidas.

A encontrei sentada na beira da piscina quando voltei, uma silhueta pequena balançando os pés distraidamente na água . Como essa parte da casa era descoberta, o vento soprava seu cabelo pra trás. Me aproximei devagar, o coração aos saltos dentro do peito. Depois do que Ana disse na festa, minha cabeça não parava de se questionar o rumo que estávamos tomando. Eu queria perguntá-la, entender o porquê de ela ter dito que era minha namorada. Mas ao mesmo tempo, sabia que ela estava sofrendo por alguma coisa, mesmo que tentasse camuflar. 

E eu tinha uma necessidade de protegê-la. Ninha parecia frágil e um instinto protetor se apossava de mim quando eu estava com ela. Me lembrava da Mariana. Eu ainda não sabia lidar direito com o modo como elas se pareciam, como elas conseguiam ser donas de mim com tão pouco, ou como o riso se tornava fácil na presença delas. Mesmo que uma não conhecesse a outra, era como se elas se pertencessem, tivessem uma conexão que ia além da minha compreensão, e que talvez só eu enxergasse.  Mas era inegável o quanto ambas eram importantes e especiais para mim.

Toquei seu ombro de leve, sorrindo para aqueles olhos caídos que me faziam flutuar. Ela sorriu pra mim também, indicando um lugar do seu lado para que eu me sentá-se. Obedeci, tirando as sandálias e estremecendo com o contato com a água fria. Ficamos olhando nossos pés criando pequenas ondulações na água azul. Ana parecia ter entrado em um universo só seu depois de alguns instantes, então não ousei interromper o silêncio. Seus olhos se fecharam devagar, e sua cabeça pendeu levemente pro lado. A observei por um instante, aflita por não saber o que ela estava sentindo, mas a vi dar um sorriso de lado.Virei minha cabeça para cima, olhando o céu escuro, em busca da lua. Sorri quando encontrei: ela tava cheia, iluminando a nossa noite com um brilho um tanto incomum.

-Vi.- Ana falou num murmúrio e eu acabei rindo, era evidente o quanto ela tava bêbada. Meu riso logo se desfez quando vi sua expressão séria. Era a hora de termos a conversa.-Tu já amou alguém?

Fiquei parada alguns instantes, a morena olhava para seus próprios pés, subindo e descendo as pernas na piscina. Pensei na Mari. Eu a amava. Muito. Mas não era agora o momento de falar dela com Ana. Os casos que eu andava tendo nos últimos tempos não chegavam nem perto de poderem ser intitulados como relações de amor. Então visitei minhas lembranças, deixando que as minhas memórias dolorosas se derramassem sobre minha mente, uma por uma.

-Teve uma pessoa.-suspirei, passando a mão na água e depois olhando na direção de Ana Clara. Seus olhos estavam atentos ao que eu dizia- Há um tempo atrás. Não sei se posso dizer que eu o amava, mas eu também nunca soube dizer exatamente o que era esse sentimento.Talvez eu o amasse e não soubesse. 

-Ele te amava?

-Sim-respondi sem hesitar.-Eu sei que é estranho, eu saber que ele me amava sendo que eu nem mesmo sabia o que eu sentia. É que na verdade, pra mim tinha uma coisa muito maior do que aquele relacionamento. Algo...-engasguei com um nó que se formou de repente na minha garganta. Era sempre difícil se lembrar daquilo-algo que me fazia nos manter como casal. E quando essa coisa deixou de existir, só não fazia sentido pra mim continuar com a relação.

-Tu terminou com ele?- confirmei com a cabeça. Ana estava genuinamente interessada na minha história, mas mesmo assim, escolhia bem as palavras que usava comigo. Dava pra ver a compaixão nos seus olhos, e isso me impelia a continuar. Mesmo que ainda não estivesse pronta para contar tudo para ela, me sentia confortável dividindo parte da minha dor com Ana Clara.

ContrastesWhere stories live. Discover now