7- Ruptura

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Ana POV

-Entra.

Abri a porta para que Mike passasse. Passei o dia inteiro tentando me concentrar e escolher as músicas que cantaria no restaurante. Mas aquela maldita conversa não saia da minha cabeça, e tudo o que eu queria era acabar logo com aquilo.

-Quer alguma coisa? 

-Não, estou bem. Obrigado.

  Maicon parecia nervoso. Caminhou até a sala, sem olhar no meu rosto, com as mãos nos bolsos da calça. Parecia que não tinha dormido por uma semana, e que assim como eu, não parara de pensar naquela conversa. Me sentia incomodada pelo modo engessado como estávamos nos tratando, mas não tinha nada que eu pudesse fazer. 

Sim, eu sabia que provavelmente aquilo significava  um término, mas não podia dizer que estava arrasada com aquela situação. Sempre fui muito romântica, porém não era cega: aquele relacionamento andava  de mal a pior. Mike sempre fora meu amigo, antes mesmo de começarmos a namorar, então esperava que  uma amizade sólida e sincera entre nós se mantivesse depois que decretássemos o fim. Queria que ele estivesse por perto, e me apoiasse como sempre fez. Eu estaria para ele se quisesse minha amizade, e faria o possível para vê-lo feliz. Nosso namoro não daria mais certo, mas ainda podíamos seguir juntos.

-Ana, eu...eu não sei como começar isso...-ele disse assim que me sentei ao seu lado no sofá. Evitava olhar em meus olhos.

-Que tal se nós formos sinceros, como sempre fomos?- Mike olhava para o chão, e isso já estava me irritando. Tudo bem que aquela situação era incômoda, mas nós dois sabíamos muito bem aonde aquilo terminaria. O melhor a se fazer era terminar nosso relacionamento de forma madura e sensata, e conservar uma sólida amizade.

-Ok. Acho que é melhor dizer de uma vez. -ele suspirou, e esfregou os olhos. Se ajeitou no sofá, provavelmente escolhendo as melhores palavras, toda essa tensão me deixando maluca- Eu estou com a Michelle.

Pisquei algumas vezes, sem acreditar no que tinha escutado. Eu me lembrava daquela mulher: tinha olhos castanhos escuros e cabelos loiros, pele clara, alta e parecia pensar que era dona do mundo, pelo jeito como conversava com as pessoas. Mike havia me apresentado  Michelle certa vez, numa festa em que fomos juntos. Percebi que a mulher estava se insinuando para ele, mas não me importei. Meu namorado nunca havia me dado motivos para desconfiar de suas ações.

Até agora.

-Há quanto tempo?- minhas palavras saíram em um sussurro, mas eu sabia que ele tinha escutado. Minha mente estava em um turbilhão, com toda certeza eu não esperava por isso. Se tinha uma coisa que eu prezava em um relacionamento, era a fidelidade. Até aquele momento eu estava triste por saber que nosso relacionamento estava perto do fim, mas agora, podia sentir o sangue ferver em minhas veias de ódio.

-Três meses.

Me levantei de uma só vez, tendo certeza de que se continuasse sentada ao seu lado, teria metido um soco na cara dele. 

-TRÊS MESES, MIKE? VOCÊ TÁ ME TRAINDO TEM TRÊS MESES?- comecei a gritar tomada pela raiva. Mike apenas arregalou os olhos, visivelmente impactado com a minha reação. Nunca havíamos gritado um com o outro, apesar de nossas brigas. Tínhamos um namoro estável e tranquilo. Ele ia me visitar na minha cidade sempre que podia,  e quando dava, eu também passava uns tempos na sua casa. Uma traição nunca tinha passado pela minha cabeça, afinal de contas, já namorávamos a dois anos, e eu confiava plenamente nele.

Eu andava de um lado para o outro da sala, tentando compreender o que estava acontecendo. Parte de mim queria expulsá-lo logo da minha casa e nunca mais voltar a vê-lo. A outra parte, me fazia questionar se eu tinha o direito de estar tão irritada, afinal de contas, até minutos atrás, eu estava disposta a terminar com ele. Esses dois lados estavam me deixando cada vez mais confusa. O que estava desmoronando nos meus pés era a única coisa que havia restado daquela relação: nossas lembranças. Tudo que havíamos vivenciado e construído juntos, me parecia uma tremenda mentira agora. Todo o tempo que passamos juntos, os sonhos que compartilhamos, os beijos, os sorrisos..., pareciam não significar nada , tinham virado pó. Talvez eu estivesse sendo dramática demais, mas eu sempre acreditei no amor. E agora, ele estava sendo destruído também.

ContrastesWhere stories live. Discover now