𝑖 𝑛𝑒𝑒𝑑 𝑎𝑛𝑜𝑡𝘩𝑒𝑟 𝑠𝑡𝑜𝑟𝑦

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O Natal não é o feriado favorito para muita gente, principalmente para aqueles que vivem presos em um mundo paralelo a realidade. Ter que abandoná-lo não era fácil. Estourar a bolha de conforto e segura que seu próprio cérebro criou era pior ainda. Onde vozes em sua cabeça era o único conforto, por mais que às vezes elas sejam uma bagunça acumulada e muitas vezes sem anexo.

A mente de um escritor é uma avalanche de confusões. Há vozes por todas as partes. Essas sendo de um novo mundo pronto para ganhar forma. Essas sendo de novas personalidades criadas prontas para terem vida. E, às vezes, quando essas vozes se calam - o que por eles, escritores, é chamado de bloqueio -, é como se todo o seu corpo estivesse em coma.

Cada emoção some. Cada pensamento desaparece. Cada ideia que parece tão genial chega a ponto de não fazer sentido e não se encaixar em nenhum parágrafo criado por horas. Às vozes se calam, e seu corpo anestesia. E a realidade volta, tornando tudo novamente em cinza.

Talvez seja por isso que Liam esteja voltando para o chalé dos seus país aquele dia. Que, por última hora, conseguiu comprar a última passagem para Milão justamente na véspera de natal.

Algumas semanas atrás todas as suas emoções haviam entrado em coma, no fim de um parágrafo e o começo de outro, onde nenhuma palavra soava boa o suficiente para prosseguir. Liam se sentia frustrado, odiava com todas as suas forças o bloqueio de escritor, ainda mais quando estava no tão esperado ápice que marcou todos os fãs que aguardavam entusiasmados a última frequência de seus livros. Eles aguardavam a continuação, e Liam prometeu um final grandioso. E, a única coisa grande até agora, era aquele enorme ponto de interrogação a cima de sua cabeça.

Levemente umedeceu os lábios frios com a língua quente. Seus olhos chocolate vislumbravam com atenção a estrada coberta por neve, tomando todo o cuidado do mundo para não perder o controle e acabar por destruir o carro que alugou próximo ao aeroporto.

Respirou pesadamente quando avistou o chalé de sua mãe e lentamente a saudades de casa bombardeou o seu coração. Payne lembrou-se vagamente de correr por volta da casa com um trenó quando pequeno, descia a pequena rampa até uma pedreira que possuía uma lagoa que ficava congelada no inverno. O castanho ouviu a voz da própria risada de quando escorregava do trenó e rolava rampa a baixo, e da distância onde estava, com uma leve e sutil brisa, o cheiro da torta de maça que sua mãe sempre amou fazer alcança o seu olfato, fazendo um menino salivante correr de volta para casa.

O escritor sorriu levemente afetado, esquecendo por um segundo, que estava conversando no viva voz com o seu melhor amigo.

— São só dois finais de semana. – Niall repetiu. O castanho poderia ouvi-lo mastigar alguma coisa durante a ligação, e conhecendo o irlandês como só Payne conhecia, apostava tudo o que tinha que eram balinhas de alcaçuz. – Não precisa falar com ninguém se eles não quiserem falar com você. Sua família é estúpida, Liam. Huh, tirando os seus pais. Dos seus pais eu gosto.

Liam gargalhou levemente, conduzindo o carro para a entrada da propriedade que viveu toda a infância e metade da adolescência antes de ir para a faculdade.

— Acho que você tem razão. – Suspirou o escritor.

— Eu sempre tenho razão.

— Claro. – Liam rolou os olhos e examinou a sua volta. Reparou que, aparentemente, nada havia mudado ali. Afinal, havia quase cinco anos que não pisava naquele terreno, ou que passasse um feriado com a família inteira, tirando seus pais – só estou me sentindo meio desconfortável.

— E não te julgo. Me sentiria também se minha família me declarasse a ovelha negra por não seguir os padrões patéticos deles – Niall mostrou-se irritadiço, e soltou uma rajada de ar pesada – argh. Eu simplesmente não consigo suportar o fato de você estar aí. Volta para Nova Iorque agora, Liam. Vou comprar as passagens.

「a.té o fim do ano」+ ziam. au!shotficOnde histórias criam vida. Descubra agora