Chapter II - Elvis Presley

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01/07/2017 – Sábado

Havia dias muito ruins. Acontecia geralmente no transcorrer de um dia relativamente bom, quando Louis fazia ou descobria algo que lhe agradasse e sentia vontade de contar a Adam. Pensava se aquilo ia lhe agradar também ou não. O dia ficava ruim quando o garoto se lembrava que não poderia ir correndo contar para seu melhor amigo. Não poderia fazer isso hoje, nem amanhã. Nunca mais. Aquilo afundava Louis como um iceberg afundava um navio. Não havia nada que ele pudesse fazer para impedir a dor que viria. A cicatriz ainda era recente.

Tinham dias bons. Dias em que Louis acordava feliz, abria a sua janela e sentia a brisa bagunçar seus cabelos levemente. Dias que ele pegava algum livro e passava o dia relendo-o. Na hora do almoço, permitia que sua mãe ou Lottie, quem viesse, entrasse em seu quarto para deixar o prato de comida. Ele ficava particularmente feliz sem nenhum motivo, apenas se sentia bem com toda sua situação e mal lembrava de Adam.

Hoje era um dia bom.

Louis até mesmo colocou uma roupa que não fosse um moletom. Se vestiu com uma calça folgada e uma camiseta lisa azul. Arrumou seus cabelos na frente do espelho e cantarolou uma música da banda Rixton enquanto tirava todos seus livros da estante para escolher um para ler. Enquanto tirava o pó do seu exemplar de A Garota das Laranjas, seus olhos esbarraram com o piano que ficava no canto de seu quarto. Louis não tocava desde que Adam foi embora.

Deixou o livro em cima da cama e passou o dedo sobre as teclas, sentindo o toque gelado de cada uma delas. Respirou fundo e fechou os olhos, tocando tão leve uma das teclas que provavelmente ninguém mais na casa teria ouvido a não ser ele. O som agudo fez o coração de Louis se animar ansioso para tocar mais. Mas Louis apenas se afastou, voltando a tirar e limpar alguns de seus livros.

Como tudo ultimamente, não sabia por que não conseguia tocar piano. Sentia vontade de passar o dia tocando, mas simplesmente não conseguia. Se sentia como um espectador de sua própria vida, apenas observando os dias passarem sem poder fazer nada a respeito. Ao mesmo tempo que se "retirar" de sua vida era bom por não ter que lidar com certos sentimentos, era doloroso demais. Tinha a impressão de que nunca iria sair daquele estado deplorável que se encontrava e não sabia nem o que teria o levado a isso tudo. Sabia que a morte de Adam tinha sido um verdadeiro choque, mas no fundo de si tinha certeza que havia muito mais naquela história do que apenas um fato isolado.

Ouviu duas batidas em sua porta e se apressou até ela, colocando seu ouvido na madeira para poder ouvir melhor.

"Lottie?" Perguntou baixo. Sua irmã sorriu.

"Trouxe o almoço. É macarronada, quer?"

Louis imediatamente abriu a porta e sorriu fraco para a caçula, fazendo um sinal para que ela entrasse. A loira adentrou o quarto e entregou o prato para Louis, logo virando-se para ir embora.

"Ei." Chamou o irmão, tocando seu ombro. "Não quer almoçar comigo?"

Charlotte também sabia que Louis tinha dias bons e ruins, e naquele momento soube que estavam embarcando em um ótimo dia. Ela assentiu e correu até a cozinha, pegando seu próprio prato e logo se juntando ao irmão.

Os dois sentaram na cama, com as pernas cruzadas e os pratos acomodados entre elas. Vez ou outra, Louis implicava com a irmã por não prender o cabelo e deixar algumas pontas sujarem no molho vermelho. Lottie apenas ria e tentava colocar suas madeixas longas para trás.

"Como foi o colégio? Passou?" Louis mexeu no macarrão, tentando parecer despreocupado, mas Lottie sabia que falar sobre colégio ainda era algo difícil para ele.

"Sim. Obrigada por perguntar." A loira sorriu de forma verdadeira na direção do irmão, que soltou um suspiro longo e assentiu.

Louis sabia que Lottie sentia sua falta e por isso, sempre que dava, tentava falar com a irmã como se nada tivesse de fato acontecendo. Mas nenhum dos dois conseguia fazer isso. O mais velho percebia o modo cuidadoso que Charlotte o tratava, até mesmo o modo em que ela o olhava havia mudado. Louis se sentia como uma boneca de vidro quando a irmã fazia isso. Sempre pensava que não deveria ser assim, que deveria ser ao contrário. Ele deveria cuidar e se preocupar com sua irmãzinha. Porém, de qualquer forma, ele sabia que ela não estava errada. Louis estava instável e isso era perceptível.

A mais nova enrolou o macarrão no garfo e levou a boca, sujando sua bochecha por não estar prestando atenção. Louis gargalhou alto ao ver a bochecha manchada de vermelho da irmã, cobrindo sua boca logo em seguida. Lottie pensou em empurrá-lo da cama, como faria normalmente, mas então lembrou-se de quanto tempo fazia que ela não ouvia a risada típica de Louis. Escandalosa e alta. Por isso, apenas mostrou o dedo do meio para ele e limpou sua bochecha com um guardanapo.

"Você conhecia aquele menino que veio aqui ontem?" Louis perguntou curioso, colocando seu prato já vazio no criado mudo ao lado de sua cama.

Lottie deu de ombros. "Acho que o cumprimentei uma ou duas vezes porque ele é amigo de um amigo meu, Zayn. Sabe quem é?"

Louis assentiu. "Ele veio aqui uma vez, acho." Lottie balançou a cabeça positivamente. "Harry disse que voltaria hoje. Acha que ele vem mesmo?"

Charlotte levantou a mão, pedindo que o irmão esperasse que ela terminasse de mastigar. A garota colocou seu prato junto do de Louis e voltou a sentar na frente do irmão.

"Talvez. Ele parece ser um cara legal." O tom despreocupado de Lottie acalmou Louis.

Ele nunca foi o "popular" da escola e nem queria para falar a verdade. Sempre odiou tamanha atenção que aquele grupo de pessoas recebia por nenhum motivo aparente. Tudo aquilo lhe parecia superficial demais, então nunca se envolveu. Uma consequência disso, e claro, sua timidez contribuiu para isso também, foi que Louis não conhecia muito gente. Rapidamente, conseguia pensar no nome e rosto de cinco pessoas que estudavam em seu colégio, duas delas sendo Adam e Lottie, outro era o orador da classe e os dois restantes participavam de seu grupo de estudos.

Não se lembrava de absolutamente nada relacionado a Harry. Desconfiava que não trocou uma palavra sequer com o garoto em sua vida. Não conseguia entender o interesse dele de vir até sua casa e conversar com ele. Era mais confuso ainda Harry querer voltar no dia seguinte. Mas, apesar disso tudo, Louis se sentia levemente contente por alguém ter se lembrado dele.

"Você quer que ele venha?" Lottie sussurrou, com medo de que estivesse passando algum limite do irmão.

Louis abriu a boca para responder quando a campainha da casa soou por todos os cômodos. Lottie levantou-se prontamente e correu até a porta, abrindo-a sem sequer olhar no olho mágico quem era.

Harry estava ali, com um sorriso envergonhado e segurando uma grande foto antiga nas mãos. Ele acenou brevemente para a loira, que devolveu com um sorriso pequeno.

"Hey." Cumprimentou Charlotte, dando espaço para que Harry entrasse. O garoto pediu licença e adentrou a sala da casa, colocando as mãos atrás das costas como sempre fazia. "Quer falar com ele ou...?"

"Sim, sim." Ele sorriu grande. "Eu prometi que ia trazer o autógrafo do Elvis pra ele ver, então..." ele abriu os braços. "aqui estou."

Lottie assentiu lentamente, estranhando o jeito feliz que Harry esbanjava a todo segundo. Se perguntou se aquilo não era sinal de nervosismo, mas o garoto parecia tão confortável com a situação que nervosismo não poderia ser uma opção.

"Pode ir pra lá, se quiser."

Harry agradeceu e seguiu a passos curtos até a porta de Louis, revisando em sua cabeça o que iria falar para o garoto já que seria um monólogo. Era surpreendentemente difícil manter uma boa conversa quando a segunda pessoa não quer falar e nem está de fato ali. Mas, Harry apreciava um bom desafio. A verdade era que sempre tentou criar coragem para falar com Louis, mas nunca conseguiu. Sempre achou que ele e Adam estavam juntos ou algo assim, então nunca quis os atrapalhar. Mas, secretamente, toda vez que Louis ficava no mesmo corredor que ele, Harry se via admirando sua personalidade quieta e tímida. O modo que ele sempre puxava suas blusas até as palmas da mão e parecia impossível vê-lo rir sem sua mão tapando a boca. Eram pequenas coisas em Louis que o fazia sentir tanta curiosidade em conhecer o garoto por inteiro, mesmo que ele não soubesse sequer que Harry existia.

Louis ouviu abafado a conversa da sua irmã com Harry, então quando percebeu que o garoto se aproximava, correu até sua porta para fechá-la. Sentou-se no chão, apoiando suas costas contra ela e esperou que Harry começasse a falar, o que não demorou muito.

Harry suspirou alto ao encarar a porta fechada. Sentou-se como no dia anterior, contra a parede, bem perto da porta para que Louis pudesse ouvi-lo bem. Olhou para a foto em suas mãos e bateu levemente na porta.

"Oi, Louis. Eu voltei." Harry batucou no chão com seus dedos. "É o Harry, aliás, caso você não se lembre do nosso combinado. Eu, como sou um homem de palavra, trouxe o autógrafo do Elvis e quero que saiba que fui ameaçado pela minha avó por isso." Harry riu. "Então, nas palavras dela, se você estragar isto, ela vai ser obrigada a te matar."

Louis riu contra sua mão, pensando na conversa estranha que Harry provavelmente teve com sua avó, que parecia ser uma velhinha bem fã do Elvis para ter ameaçado matá-lo desse jeito.

Harry deslizou a foto por debaixo da porta, empurrando as laterais para que o papel entrasse por inteiro. Louis pegou a foto e arregalou os olhos ao ver o autógrafo do cantor bem abaixo de uma foto sua. Ele não pensou que seria seu autógrafo de verdade, e sim uma réplica impressa. Aquilo provavelmente custava muito dinheiro.

Louis passou os dedos pela caligrafia meio tremida e sorriu, desejando que tivesse vivido na época que Elvis era famoso e vivo. Ouviu Harry bater em sua porta levemente.

"Louis? Ouviu o que eu disse?" Perguntou preocupado. Louis sentiu suas bochechas corarem ao pensar que demorou tempo demais admirando a foto de Elvis enquanto Harry falava com ele. Ele bateu uma vez na porta, causando um suspiro de alívio em Harry. "Que susto! Achei que não tinha ninguém e teria que arrombar a porta pra pegar o autógrafo de volta."

Os dois riram, Louis mais baixo, mas alto o suficiente para que Harry ouvisse. Styles se remexeu e tentou achar algum assunto para conversar com Louis, mas nada parecia bom. Ele bufou irritado e soltou a primeira coisa que veio em sua cabeça.

"Qual sua música favorita do Elvis?" Louis franziu o cenho pensando na resposta para aquela pergunta. Harry balançou a cabeça negativamente, envergonhado. "Desculpa, vou fazer perguntas de sim ou não, assim fica mais fácil pra você responder."

Louis rapidamente levantou-se procurando por um papel em sua escrivaninha. Rasgou um pedaço da folha de seu caderno, escrevendo com sua letra torta o nome de sua música favorita de Presley. Ele deslizou o pequeno papel pela porta.

Harry assustou-se, mas logo pegou o papel, sorrindo pela resposta. "Love Me Tender, huh? Então, você é um romântico." Riu fraco. "Fico feliz em saber que nossa amizade está progredindo, Louis. Se quer saber, eu também gosto de músicas assim, melancólicas e lentas. São sempre as mais bonitas, né?" Tomlinson bateu uma vez na porta, sorrindo assim como Harry. "Bom saber que temos coisas em comum."

Styles continuou a falar, mas dessa vez comentou sobre como era suspeito a tal ida do homem à Lua. Segundo ele, havia diversos fatos que mostravam que muitas coisas nas imagens da transmissão norte-americana não deveriam acontecer na Lua. Harry contou sobre sua indignação com a NASA, pois não mandaram mais nenhum homem a Lua desde então. Para ele, tudo não havia passado de uma simples encenação para despertar o patriotismo nos norte-americanos durante a Guerra Fria. Para Harry, 1969 tinha sido um ano de merda, exemplificado pela saída de John Lennon dos Beatles. Nisso, Louis tinha que concordar.

Louis ouviu toda a narração atentamente, percebendo o tom de voz do garoto mudar de acordo com seu sentimento quanto ao que dizia. Harry era o tipo de pessoa que conseguia te fazer mudar de ideia com poucas palavras não intencionalmente, era apenas o jeito que ele falava que te fazia repensar em tudo. Por alguns segundos, Louis se viu confuso sobre a ida do homem a Lua, quando nunca tinha duvidado desse acontecimento.

Harry ficou uma hora ali antes de se despedir, explicando que tinha que ajudar sua mãe a limpar a casa. Dessa vez, Louis não se despediu. Apenas ouviu seus passos ficarem cada vez mais longes até que a casa ficou silenciosa.

Deitou na sua cama, sentindo os fracos raios do sol tocarem seu corpo, o esquentando. Pela primeira vez em duas semanas, Louis tinha de fato gostado de conversar com alguém por tanto tempo como tinha feito com Harry. O jeito envolvente do garoto fez Louis se esquecer de que ele estava enterrado no próprio quarto e Harry estava do outro lado. Tomlinson ficou completamente envolvido por ele.

Oi, meus amores!! Queria começar agradecendo todos os favoritos e comentários, adorei todos! Gostaria de desejar um ótimo ano para todos e que tudo o que vocês desejam se realize!
Comentem a opinião de vocês sobre o capítulo, ok? Até a próxima, amoras!

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