Whit

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Aquele corte de cabelo de vendedor de seguros, a camisa polo colorida, a calça social bem passada , mas, acima de tudo , aquele jeito dele de sabe-tudo tinham deixado Byron marcado como o maior puxa-saco da história da escola. De perto, a cara dele era bicuda e seu olhar era malvado, como um furão de estimação com planos de se tornar representante da classe. Jogando uma pasta sobre a mesa de metal, ele fez que sim com a cabeça para os dois guardas e deu um passo para trás, contra a parede.
—Está malhando, Swain? —perguntei, cerrando os punhos. —Quer dizer, parecer não parece, mas você não precisa de pelo menos seis guardas para tomar conta da sua retaguarda? O rosto de Swain ficou vermelho de raiva.
—Sabemos por que é que vocês estão aqui —ele disse, andando de um lado para o outro da sala. —Hein?
O idiota estava tentando soar autoritário e machão, mas a voz dele, naturalmente fina e anasalada, se mostrava ao final de cada frase. Seus olhos frios não desgrudavam do meu rosto.
—Quanto mais rápido admitirem seus segredos e contarem o que queremos saber, melhor será para você e sua irmãzinha cuspidora de fogo.
—Não tenho a menor ideia do que você está falando, soldadinho —eu disse.
Ele estreitou os olhos de furão. De repente, se debruçou sobre a mesa e colocou o rosto bem perto do meu.
—Pode parar com o showzinho de vilão de novela, tá? —falei para ele.
—Vocês dois, seus canalhas, estão protegendo alguém? —ele perguntou sem cerimônia, ignorando meu sarcasmo. —Bom, porque com certeza eles não estão protegendo vocês. Seus bons amigos já nos contaram tudo o que precisamos saber. Já sabemos do seu problema com a bebida, Whitford. E nem precisamos confirmar as tendências piromaníacas da sua irmã. Mas esse é apenas o começo do carregamento de informações que seus “amigos”entregaram para nós. Foi lindo. Quer dizer, nem uma velha fofoqueira teria contado tudo com tanta facilidade.
—Jura? —perguntei. —Tipo, eles contaram para vocês onde eu guardo minha reserva de bolinho de chuva? Meus códigos para roubar nos jogos de video game? O “D”que levei na minha última prova de Biologia e que nem meus pais ficaram sabendo? Sabe, ficar de castigo não é mais uma ameaça tão séria como antes.
— Você quase repetiu de ano em Biologia? — Wisty sussurrou enquanto eu via uma veia saltar na testa de Byron. — Legal.
— Cala a boca, sua esquisitinha! — ele rosnou para Wisty, que tinha acabado de mostrar a língua para ele. — Eu vi o que você aprontou mais cedo! Você pegou fogo! E nem ficou machucada depois! Se isso não for anormal, não sei mais o que é! Vocês acham que isso aqui é ruim, ficar nessa? Ah, mas vai ficar muito pior! Podem acreditar em mim, seus anormais... Vai ficar muito pior.
— Sabe, Byron — Wisty disse com sua voz mais calma e sarcástica —, na verdade, o anormal aqui é você. Podemos muito bem colocar seu nome na nossa listinha secreta de bruxaria e vodu.
Swain perdeu a paciência. Ele se jogou por cima da mesa e agarrou o braço de Wisty com tanta força que ela soltou um grito. E, então, a coisa mais estranha, e estou falando sério, aconteceu: um raio de luz tão brilhante que poderia cegar alguém saiu da mão livre da minha irmã e atingiu o peito de Byron.
O imbecil soltou um gritinho de porquinho-da-índia e foi jogado para trás, caindo de bunda perto dos guardas surpresos.
Meus olhos quase saltaram para fora das órbitas. Eu não acreditava naquilo: olhei para a minha irmã e me dei conta de que ela tinha atingido Byron com um relâmpago. Relâmpago. Um raio pequeno, claro, mas foi um relâmpago ! Saindo da ponta dos dedos dela!
—Mais uma prova! —Byron berrou com a voz superfininha, o rosto quase roxo. Ele estava passando a mão sobre o peito, obviamente horrorizado com a marca de queimado na camisa. —Você é uma bruxa! Você vai ficar presa para sempre! —Ele finalmente se levantou e saiu cambaleando da sala de interrogatório.
—Então, agora você anda jogando raios nas pessoas? —perguntei para a Wisty. —Quer dizer... Uau!
Eu devo ter caído no sono logo depois da visita do imbecil do Swain. Acordei na minha cela com lágrimas mornas rolando pelas bochechas.
Não que eu seja uma manteiga derretida total, a não ser às vezes, quando assisto a uns filmes tristes. Eu estava chorando porque tinha acabado de falar com a Célia em um sonho. Acho que foi um sonho , mas foi tão real! Não, foi real mesmo! Eu me lembro de ter abraçado Célia com tanta força como se estivéssemos no encontro mais triste da história do mundo.
—Oi, Whit! Estava com saudade de você —ela disse, como se fosse perfeitamente normal para mim vê-la de novo depois de todos aqueles meses, desde que ela desapareceu.
— Célia, você está bem? O que aconteceu com você? — Eu queria perguntar tudo ao mesmo tempo. Meu coração batia forte como um tambor. — Chegaremos nesse assunto. Prometo. O mais importante agora é: você está bem? E a Wisty?
— Claro... Você me conhece, Célia, eu aguento qualquer coisa. E a Wisty também é corajosa. Na verdade, ela é fogo! — Dei uma risadinha da minha piada fraca. — Mas acho que estamos um pouco chocados com isso tudo.
Célia sorriu de novo e quase não aguentei. Até aquele momento, eu não tinha me ligado como tinha sentido falta daquele sorriso incrível dela. E ela estava mais linda que nunca, se isso fosse possível. Pele lisinha, os cachos pretos e compridos, os olhos azuis tão brilhantes e que sempre me diziam a verdade, mesmo quando eu não queria escutar.
— Você está lindo, Whit... para alguém que foi sequestrado, apanhou e ainda foi preso ilegalmente . — Dessa vez ela deu um meio sorriso.
— Não se preocupe comigo. Quero saber de você. Célia, o que está acontecendo? Para onde você foi?
Ela estremeceu, girou a cabeça lentamente de um lado para o outro e lágrimas rolaram de seus olhos.
— É uma pergunta difícil . Sei que acabei de chegar aqui , Whit, mas preciso mesmo ir agora. Só queria confirmar que estava tudo bem. E Whit... é difícil acreditar que sou eu quem está dizendo isso para você... mas você tem que ser forte. Você e a Wisteria. Caso contrário, vocês vão morrer.
E, então, Célia desapareceu. Eu estava bem acordado e tinha sido avisado. Nós precisávamos ser fortes.

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