—Pecado? —Alexandre olhava desnorteado para Laura e para Mário, que trocavam sorrisos confidentes.
—Pecado, Alexandre. —Explicava Laura enquanto bebericava seu café. — Essa é a única explicação que pode unir as duas vítimas. O pecado motiva nosso assassino. Ele é religioso e quer livrar Laranjal dos pecados. Catarina representava um pecado. Era fruto de uma família desestruturada. Jurandir, o depravado, o gay. A mãe da menina quase uma Maria Madalena. Quem era o pai real da criança? Ninguém sabe. Um pecado com "P" maiúsculo. Lá se vão os olhos de quem via todo o pecado em casa.
—Mas e a primeira vítima? —Questionava Alexandre ainda ressabiado de não ter entendido a ligação, agora tão clara.
—Essa foi mais difícil. —Falou Mário levantando os olhos do seu caderninho. Aquilo irritou Alexandre.
— A menina parecia um exemplo de perfeição —falou Laura — mas ninguém é perfeito, todo mundo tem um passado. — Laura olhava suas unhas roídas e meditava sobre sua afirmação tão verdadeira sobre si mesma.
— Isabela Oliveira tinha um passado em Capão dos Sonhos. Você deve saber que pagar uma faculdade nem sempre pode ser algo barato. Só o emprego no escritório de contabilidade não dava para arcar nem com a metade das dívidas que ela acumulava, inclusive ajudando em casa. Aos finais de semana, por exemplo, a garota não estava em grupos de estudo. A não ser que fossem grupos de estudo de anatomia. — Laura disse piscando um olho para Alexandre.
— Ela era puta? — Questionou Alexandre nitidamente incrédulo.
— Não fale nesses termos, Alexandre. — Repreendeu Laura. — Ela trabalhava como acompanhante de luxo. Não foi tão difícil assim descobrir. Eu acordei uma noite dessas sem sono e comecei a me debruçar sobre o caso. Aquela menina tão bonita e doce não podia ser uma Virgem Maria. Comecei a pesquisar nas redes sociais e descobri que a tal festa a que elas iriam era uma bela mentira. Isso estaria publicado em algum grupo. Você sabe, hoje as pessoas publicam tudo na rede. E aqueles sapatos com os quais ela foi encontrada eram caros demais para quem tinha um trabalho tão simples. E exuberantes demais para uma menina católica fervorosa. Juntei tudo isso e comecei a navegar em sites de acompanhantes. Bárbara Sweden. É assim que ela se chamava. Era assim que pagava tantas contas. A amiga que deu o depoimento mentiroso deveria saber, claro. Ou desconfiava de algo e tentou encobrir essa informação da gente.
—Pecado. —Repetia Alexandre.
— Pecadoras. Direta ou indiretamente. Nada de novo sob o sol. —Dizia Mário descontraído.
—Como assim? —Questionou Alexandre.
—Pecados em uma cidade do interior. Pessoas altamente religiosas envolvidas. Uma carta de um Anjo do Senhor, o vingador, o exterminador do pecado, o homem (ou mulher, sei lá) santo. Algo totalmente trivial. — Relatava Mário.
—Então quem é o assassino? — Perguntou Alexandre irritado. Cada vez gostava menos de Mário.
— Trivial é a situação, não o caso. —Mário anotava no seu caderninho preto com ar de pouca preocupação, mas, apesar disso, olhava disfarçadamente para a amiga delegada. Ela exalava preocupação pelos poros. Será que se questionava se poderia ser ela mesma a própria vingadora dos pecadores? Mário ainda não acreditava nessa possibilidade absurda. Laura seria incapaz de diferenciar Jesus Cristo de São Francisco, como poderia ter obtido tantos conhecimentos bíblicos assim?
—Então, a gente pode excluir o Jurandir, certo? — Perguntava, irritado, Alexandre.
— Por que você diz isso? —Mário saía do seu transe momentâneo.
— Por que ele iria querer expiar seus próprios pecados? Por que mataria a filha sabendo que isso colocaria todos os seus segredos em evidência? Sendo ele próprio um pecador, não teria como querer tirar de cena os demais, ele não teria condições de fazer isso. —Explicava Jurandir.
—Isso seria verdadeiro. Mas, lembre-se que estamos trabalhando com o perfil possível de alguém com dupla personalidade. A mente humana é um labirinto. Talvez ele tenha encontrado nos crimes justamente a redenção dos seus pecados. Todo mundo tem um passado. E nós já descobrimos alguns: das vítimas e do Jurandir. Mas e dos outros envolvidos? — Laura parecia falar mais com ela mesma do que com os demais.
—Quem são os outros que você suspeita? —Perguntava Alexandre.
Laura deu um suspiro forte.
—Eu suspeito de todo mundo.
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O Anjo de Laranjal
General FictionVocê já imaginou um serial killer a solta em uma pequena cidade do interior de São Paulo? Laranjal, uma cidade fictícia, com pouco mais de 30 mil habitantes viu seus membros serem assassinados brutalmente por uma mente criminosa. Uma garota escalpel...