04 de março, 15h50

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Faltavam apenas 10 minutos para o seu depoimento. Jurandir estava nervoso. As mãos suavam. Os dedos pareciam maiores do que o habitual e não cabiam direito nas suas mãos pesadas. O estômago gelado. Ele já tinha decidido contar toda a verdade. Mas até que ponto isso faria algum sentido? O quanto o seu passado era o culpado disso tudo?

Ele tinha se decidido também por ficar do lado de Laura. Ela era a mais qualificada ali para resolver o crime. Mas aquela conversa com Mário o deixara nervoso. Por que, diabos, a mulher foi chamar um antigo colega? E, pior, por que ele fizera aquelas perguntas sobre o passado de Laura?

Claro que Jurandir sabia, desde que pôs os olhos nela, que a delegada era a protagonista daquele crime horrível cometido por um escritor que o policial nunca tinha ouvido falar. Mas, o que isso tinha de ligação com a morte da sua pequena Catarina?

A cabeça de Jurandir estava em chamas e ele tinha receio de, ao abrir a boca, ficar mudo. Não conseguir falar, nem juntar meia dúzia de palavras que fizessem sentido. Nada tinha sentido. O mundo tinha aberto uma cratera, uma fenda para uma outra realidade e Jurandir se encontrava nela agora. O que faria, afinal?

Mesmo sem perceber foi direcionado à sala de depoimento. E, ainda sem se dar conta, começou a desabafar. Não foi difícil falar, não parou nenhuma vez. Tudo jorrou da sua boca. Parecia que Jurandir não estava ali. Ele se via de fora, falando, falando, falando. E o medo de ficar mudo? Ele se questionava olhando para si mesmo. Pelo visto era menor do que o medo de não encontrar quem matara sua filha. SUA. Mesmo que a genética dissesse ao contrário. SUA e de ninguém mais.

Jurandir não percebeu o olhar de espanto de Alexandre. Nem as anotações ágeis de Laura. A delegada já sabia de uma boa parte da história. Ninguém havia lhe contado, mas ela sempre soube que algo não batia na história de Jurandir. Agora algumas peças se encaixavam. Não que o passado do policial estivesse tão em cena assim nesses crimes. Para Laura a questão era outra: pecado.

O Anjo de LaranjalOnde histórias criam vida. Descubra agora