Alexandre, o esquilo

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Alexandre, o esquilo

Alexandre Rodrigues tinha 28 anos. Entrou para a Polícia cedo, jamais pensou em ser outra coisa na vida. Nasceu e cresceu em Laranjal e só saiu de lá para estudar, não que morar em Capão dos Sonhos seja assim um exemplo de “morar fora”, mas foi o máximo de experiência que ele teve longe do solo laranjense.

Com a idade avançando e o estímulo de Laura, Alexandre almejava agora se tornar Cabo e logo Sargento. Na verdade, seu sonho era se tornar Agente da Polícia Federal e para isso vinha se dedicando muito: estudando como um camelo nos contraturnos e pegando pesado nos treinos físicos.

Ele sabia que Laura já havia reparado nas suas intenções. E mesmo sem dispensar nenhuma palavra a ele, a delegada aprovava suas ambições. Alexandre não sabia explicar, mas sentia uma atração feroz pela chefe e, de alguma forma, acreditava ser retribuído.

É claro que o romance não estava nos seus planos, por isso, aos 28 ainda estava solteiro. Era quase uma “aberração” na cidadeca, já que a maioria dos seus colegas não só estavam casados, como contavam com uma penca de filhos ranhentos e mal educados. Alexandre não pensava nessas coisas, sua ambição era a carreira na Polícia e nada poderia desviar seu foco, nem mesmo as belas coxas de Laura...

O soldado viera de uma família simples, mas muito batalhadora. Seus pais trabalhavam na Brandão e Cia, a empresa de suco de laranja e outros alimentos a base da fruta que sustentava praticamente a maior parte dos laranjenses. Ao contrário de 90% da população local, os pais de Alexandre não eram católicos. Quando o soldado completara dez anos, seus pais fundaram o Centro Espírita Romualdo Ferreira, em homenagem ao primeiro espírita da cidade, que muito tinha feito pelos laranjenses mais humildes.

A batalha religiosa era difícil, já que os espíritas eram constantemente perseguidos pela Igreja, que os acusavam de hereges e de outras palavras mais inquisidoras. Porém, apesar de todas as dificuldades, o Centro sobrevivia e, entre a carreira na Polícia e os estudos, Alexandre ainda arranjava tempo para ajudar na creche e no Lar Romualdo Ferreira, que cuidava das crianças mais carentes enquanto as mães trabalhavam fora.

Por tudo isso, era de se esperar que o soldado não visse o Padreco com bons olhos. Apesar de seus pais sempre lhe instruírem para o poder de todas as religiões, ouvir as pregações de Milton contra sua família e contra o Lar lhe deixavam com os pelos arrepiados de raiva. E enfiar aquele corvo na sua viatura lhe proporcionou certo ar de vingança pelo qual ele tinha esperado durante tanto tempo.

De alguma forma, Alexandre acreditava que Milton tinha culpa no cartório. Só não sabia se estava relacionada aos homicídios, mas, alguma coisa de muito errada aquele padreco tinha... Ah se tinha! E quando Alexandre tinha uma intuição sobre alguém, dificilmente errava!

O Anjo de LaranjalOnde histórias criam vida. Descubra agora