Prólogo

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Os gritos da minha mãe me deixavam agoniado. Infelizmente não posso fazer nada além de proteger minhas irmãs, Ana Luísa de dez anos e Verônica de seis. O que um garoto, de apenas treze anos, pode fazer em uma situação dessas? Como defender sua mãe?
Meu pai é alcoólatra e quando chega em casa bêbado acaba agredindo mamãe. Ela sempre me pede para proteger as meninas, nos tranco no quarto e ficamos ouvindo os gritos, os barulhos do meu pai quebrando os poucos móveis dos cômodos da pequena casa pré-fabricada de madeira.
Não sou feliz, ninguém nessa casa é. Não sou um adolescente comum, não gosto de sorrir, odeio fazer amigos, e principalmente, frequentar as aulas naquela escola cheia de adolescentes que demonstram ter uma vida perfeita. Muitos dizem que os filhos são reflexos do modo de vida dos pais. Sinto muito dizer, mas nem todos os adolescentes têm pais amáveis.
Minha mãe é uma coitada, apanha quieta e não tem coragem de fazer uma única denúncia contra o homem que ela diz que ama, se permite ser espancada por ele até a inconsciência. O mesmo rouba todas as economias da sua bolsa para comprar “mistura” para o jantar, mas na verdade vai para o bar do Senhor Dirceu e bebe sua pinga pura até perder a sanidade, quando volta para casa o pesadelo começa. No outro dia se ajoelha aos pés da minha mãe e pede todos os tipos de perdões que possam existir, e ela por amá-lo demais aceita. Às vezes desejo a morte do meu pai, cheguei a esse ponto, só para um ter um único dia de paz.
Como é sorrir? Como é gargalhar até a barriga doer? Como é sentar com seus pais e irmãs na mesa de jantar e conversar como uma família normal?
Eu, Alessandro Martins de Oliveira, nunca vou saber. Aos treze anos de idade decidi abandonar tudo e fugir de casa, não aguentava mais a fraqueza de mamãe, a falta de responsabilidade do meu pai e viver em meio aquele inferno. Vendi meu celular, que minha mãe comprou em várias prestações e sofreu para pagar, pois precisava de uma garantia, dinheiro e de uma saída. Com lágrimas nos olhos me desfiz do aparelho simples, mas que tinha um grande valor sentimental para mim, e me aventurei na grande São Paulo.
A cidade era assustadora, mas para um jovem garoto com a esperança grandiosa dentro do coração, toda aquela euforia de pessoas e carros se tornava uma chance de um recomeço. Fiquei sentado nos bancos de uma rodoviária que não conhecia, pensando em qual caminho seguir.

– Está sozinho garoto? – Um homem de pele negra, muito bem vestido se aproximou.

– Estou, na verdade, é… – Não sabia o que dizer, apenas travei os lábios.

– Está com fome? – Indagou.

– Muita.

–Venha comigo. – Ele me segurou pelo braço e me puxou, quase deixei para trás a pequena mochila com as poucas roupas que tinha.

Fomos até um carro, um golzinho simples, com a lataria bem polida e o interior do carro muito limpo. A nossa conversa foi rápida, o homem apenas me perguntou sobre meus pais e se eu tinha algum parente próximo em São Paulo, a minha resposta foi rápida “não tenho pais e parentes”. Ele me levou até um bairro, parecia de classe alta, e estacionou em frente a um sobrado comercial de três andares.

– Vou lhe fazer uma proposta, você pode escolher trabalhar para essa mulher ou morrer de fome e frio nessas ruas.

Minha garganta se contraiu.

– Ela trabalha com drogas? – Questionei.

A minha mãe poderia ser uma coitada, mas sempre me alertou os perigos das drogas. O homem apenas sorriu com deboche.

– Saia do carro, vou apresentar você a Senhora Francisca!

Imediatamente fiz o que me pediu, saí do automóvel e olhei ao redor. Uau! O bairro era lindo. Merecia estar nesse lugar, sem o alcoolismo do meu pai, sem a fragilidade de mamãe e sem aquela miséria e tristeza em que eu vivia.

– Me siga! – Falou adentrando em uma simples barbearia, que fica no primeiro andar do estabelecimento. Muito bem frequentada, vários homens fazendo a barba ou cortando o cabelo. O homem que me acompanhava cumprimentou alguns profissionais do local enquanto nos movemos em direção a uma escadaria.

– Posso saber o seu nome? – Perguntei curioso, será que vou trabalhar como barbeiro?

– O meu nome não interessa, o importante é o dinheiro que vou ganhar com você!

Os pelos do meu braço eriçaram e todo meu corpo se arrepiou. O segundo andar era dividido por dois cômodos. Uma sala bem ampla com sofás, poltronas, pufes e uma televisão moderna, sendo usada por quatro garotos assistindo um filme qualquer. Todos com a faixa-etária entre dezesseis e vinte anos. A cozinha era estilo americana, separada apenas por um balcão da belíssima sala principal. E ao lado oeste outra escada, que com certeza levava até o terceiro andar.

– Alguém chame Francisca, tenho uma encomenda nova.

Encomenda?
Um dos garotos correu e subiu as escadas apressadamente. Fiquei esperando por alguns minutos com o homem ao meu lado extremamente impaciente.
Quem é Francisca?
Pelo nome com certeza é uma senhora da terceira idade, no entanto, eu estava errado, muito errado! Do terceiro andar desceu uma mulher por volta de trinta anos, lindíssima. Alta, cabelos negros como a noite que batiam na sua cintura, e um corpo escultural vestindo um macacão simples. Seus olhos verdes-rubi brilharam quando nossos olhares se encontram.

– Júlio, que bela surpresa! – Diz a mulher me avaliando da cabeça aos pés enquanto se aproximava.

– O encontrei perdido na rodoviária, diz que não tem pai nem mãe.

– Tem parentes em São Paulo? – Ela me perguntou, apenas neguei com a cabeça encantado com a beleza da morena.

– Perfeito! Esses olhos azuis serão a sua riqueza garoto, você se tornará um príncipe em minhas mãos. Que escolha maravilhosa, Júlio, pagarei o dobro por ele.

Francisca sempre me dizia o quanto eu era bonito, o quanto meus olhos azuis chamariam atenção. Uma semana vivendo no sobrado, ainda confuso com todo o acontecido, comecei a dividir o quarto com um rapaz de 22 anos. Ele fazia um curso técnico à tarde e todas as noites saía, voltando somente às 7 horas da manhã. Havia três camas em cada quarto e todos com banheiros, éramos oito garotos no total. Foi em uma tarde que Francisca mandou me chamar, pedindo que me dirigisse aos seus aposentos, fiquei receoso ao entrar.

– Me chamou? – A minha voz saiu trêmula.

– Sim, tranque a porta. – Ordenou, fiz o que me pediu girando a chave na fechadura. – Sabe por que está aqui? – Engulo em seco!

– Não! – Respondo com a espiração descontrolada.

– Você se tornará um príncipe. Todas as mulheres se apaixonaram por você, vão lhe desejar, gritar por seu nome. Será um homem que fará tudo que uma mulher fantasia na cama. – Francisca desfez o nó do seu robe de seda, o deixando cair no chão. Ela estava completamente nua. Quando pensei em sair correndo do quarto, ordenou novamente: – Deite na cama e não precisa sentir medo!

Foi nessa tarde que aconteceu meu primeiro beijo e minha primeira vez com uma mulher. Francisca me ensinou todas as suas técnicas de prazer, me explicou várias maneiras de masturbar e o sexo oral foi a aula mais explorada por ela. Várias posições, sentindo outras experiências de orgasmos. Descobri tudo sobre o corpo feminino, como elas gostam de serem beijadas, tocadas e até mesmo penetradas.
O sexo continua sendo um assunto delicado, os direitos não são iguais. E Francisca é uma cafetina que quebra o tabu, uma das mais procuradas de São Paulo. Seus garotos de programas são amantes de empresárias, políticas, atrizes, médicas, socialites e mulheres importantes dessa grande cidade.
Ela me treinou até os meus dezesseis anos, quando aconteceu meu primeiro programa com uma empresária. Estava nervoso e com medo, mas fiz exatamente tudo que treinei durante três anos e a empresária gostou, tanto que dois dias depois estava me requisitando novamente para um encontro privado. Era tudo sigiloso, Francisca era boa com a prostituição, uma empresária esplêndida na indústria do sexo.
Aos dezoito anos eu já tinha minhas clientes fixas e uma grande quantia em dinheiro no banco. Os pagamentos da cafetina eram generosos e não demorou muito para comprar o meu próprio apartamento, mas Francisca tinha regras.

Primeira delas: Nunca usar drogas e exagerar nas bebidas alcoólicas, pois prejudicam o desempenho sexual;
Segunda: Jamais passar o seu endereço para as clientes ou corresponder os sentimentos delas. Muitas vivem um casamento fracassado, são infelizes ou com a solidão e a carência em abundância, acabam se apaixonando pelo garoto de programa que as escutam, entendem e principalmente, as fazem gozar;
Terceira delas: O estudo é importante. Francisca nos obriga a estudar, principalmente outras línguas, com dezoito anos já era fluente em inglês e francês;
Quarta e mais importante: Sempre usar preservativos e fazer exames mensalmente.

Decidi viajar para o Paraná em um final de semana. Pedi autorização para a minha patroa que me deu um prazo de dois dias, caso não voltasse mandaria me matar.
Fui até aquela cidadezinha imunda à procura da minha família e encontrei apenas a minha mãe e irmãs. Meu pai havia falecido, mas não perguntei a causa da sua morte. Não me importava.  Mamãe com a mesma fisionomia sofrida. Pedi a ela que fizesse uma conta em um banco, todo mês iria depositar uma quantia em dinheiro para ajudar com as despesas. Voltei para São Paulo mesmo com os gritos e o choro extenso dela para permanecer ao seu lado, eu ignorei, não sentia nada por minha família. Só lembrava do quanto minha mãe foi fraca e de todas as vezes que ela ignorava os hematomas horríveis em seu rosto e culpava um simples tombo.
Minha rotina de programas começou, atendia no máximo sete mulheres por noite. Algumas clientes pagavam para dormir ao lado delas, só para ter uma companhia. E todas, simplesmente todas, falavam da cor dos meus olhos e como eu as tratava com imenso carinho. Uma delas até me propôs uma vida de luxo só para ser seu amante fixo, sem prostituição, apenas viajar com ela pelo mundo.  Eu, tão jovem, me prendendo a uma mulher de 35 anos só porque o seu marido não sabe foder uma boceta? Nunca!
Aos vinte anos fui negociado, Francisca me vendeu para uma boate na França e foi nesse momento que a minha vida mudou completamente!

O meu Garoto (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora