Capítulo 06

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Foi horrível, desconcertante. Solene ficou tão embaraçada com a situação, que destratou não só o filho como também a sua acompanhante. Pharrell descontou a grosseria e a falta de educação da mãe em mim, dizendo que fazia mais de dois anos que não sentia nenhum tipo de sentimentos, que não conseguia dormir ao meu lado e precisava da ajuda de indutores de sono. Jogou na minha cara que nosso casamento era um teatro, que não se sentia motivado, alegre e que até pensou em tomar medidas drásticas, como o suicídio. Cada palavra que saia da sua boca foi matando tudo que existia de bom dentro do meu coração.
Eu corri o mais rápido possível daquele apartamento, desabando em lágrimas, soluçando no elevador. Não sei como cheguei até o meu carro, não sei como não causei nenhum acidente dirigindo tão abalada e devastada. E não sei o que estou fazendo em frente à boate @VipSex, merda! 
Eu sou uma mulher patética, que sempre achou que tinha uma vida feliz e perfeita. Um marido amável, uma profissão dos sonhos e uma família adorável. Eu estava vivendo uma mentira, sou desprezível, sou burra em acreditar e ter esperanças. 
Meu coração estava um caos e minha aparência também, a boate estava lotada e todos olhavam para a mulher (euzinha) chorando desvairadamente. Procurei por ele, esfregando meus olhos, implorando que estivesse aqui. Por favor, estou perdida! Alguém afaste a dor, não mereço sofrer assim.

– Puta Merda! – Uma pessoa me puxou pelo braço. – Narah, o que aconteceu com você?
 
Até que enfim encontrei aqueles olhos azul-céu, me fitando com preocupação. Enterrei minha cabeça no seu peito, urrando, gritando, achando que se chorasse toda a dor, eu ficaria bem.

– Meu Deus mulher, estão todos olhando para nós. Venha. – João me arrastou em direção ao elevador, cambaleando e transtornada apenas o segui.

No quarto eu chorei. Chorei e chorei, até meu rosto inchar como se tivesse sido atacada por um enxame de abelhas. João ficou sentado na beira da cama, quieto, com os pensamentos distantes e me deixou chorar até me cansar. Às vezes ele se levantava, andava pelo cômodo suspirando e passando a mão pelo cabelo até ficar todo desgrenhado. Quando achei que estava mais disposta me sentei na cama.

– Pronto? – Indagou e eu apenas afirmei com a cabeça. – Alguém da sua família morreu?

Neguei, encolhendo meus joelhos próximos do peito e abraçando os mesmos.

– Quero saber por qual motivo você entrou na boate aos prantos, gritando e soluçando como se tivesse presenciado as piores das mortes.
 
Eu tranquilizei a minha mente e contei tudo que aconteceu para o garoto de programa, ele não me interrompeu um único segundo e prestou muita atenção na minha história. Aproveitei o desabafo para dizer dos meus defeitos e como eles me atrapalham socialmente, com relações amorosas e amizades.

– Todo esse escândalo foi porquê um homem quis culpá-la por seus erros? – João me questionou.

– Ele não errou.

– O homem descontou a raiva dele em você e ainda acha que não errou? Você era a vítima na história, pelos céus! Nem deveria ter comparecido nesse jantar.

– Eu sei. A minha vida acabou! – Lamuriei, sentindo mais lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

– A sua vida acabou? Você é o tipo de mulher que cresceu em meio a uma família perfeita, não imagina o quanto esse mundo pode ser cruel. – João me encarou enojado. – Sabe quantas mulheres conheci? Você não pode nem calcular, até eu mesmo me perdi nas contas. Sua vida é esplêndida perto da mulher que teve a filha assassinada pelo próprio companheiro, ou a mulher que teve 60% do corpo queimado pelo marido.

Tudo que ele está dizendo me machucava, ao ponto de despejar tudo que tinha no estômago. Eu não conseguia parar de vomitar.

– Você é horrível. – Gemi.

João não protestou, apenas ligou para recepção da boate e em cinco minutos no quarto estava uma bandeja de cama com uma sopa, frutas, água e remédios. A funcionária que trouxe a bandeja também limpou o vômito no chão, exagerando no desinfetante. Quando terminou saiu do quarto, me deixando sozinha com o João novamente.

– Tome os remédios para azia, o excesso de vômito foi causado pelo nervosismo. E depois tome um banho, está precisando. Eu preciso me certificar se o seu escândalo não afetou nossas clientes, não vou demorar e não saia desse quarto. – Eu assenti com a cabeça.

****

Os remédios foram ótimos, meu estômago melhorou e depois de um banho e uma luta para tirar a maquiagem do meu rosto (meu rímel manchou a toda minha pele) me deliciei com a sopa. João voltou para o quarto, desfazendo o nó da sua gravata e suspirando alto.

– Por que me procurou em meio a essa tempestade? 

– Porque você em um único momento me falou verdades, que uma pessoa que vivia a nove anos ao meu lado nunca falou. Precisava da sua sinceridade, mesmo você sendo maldoso com as palavras. – Expliquei e me concentrei nos morangos. Hum! Amo morangos.

– Está se sentindo melhor? – Ele perguntou, observando o meu roupão.

– Ainda com um vazio no peito. Eu peguei esse roupão no closet se não se importa, a minha roupa está cheirando a vômito. – Faço uma careta enojada.

– Termine de se alimentar e volte para a sua casa. Eu preciso trabalhar, já perdi dois programas com o seu escândalo. Algumas mulheres que são clientes novas da boate acham que você é a minha esposa, um boato começou a se espalhar. Sabe o quanto você me prejudicou hoje? – Me encolhi. Droga! Eu não gosto de causar transtornos. 

– Me desculpa. Na hora eu só queria ver você e mais ninguém. – João piscou seus lindos olhos azuis-céu e parecia processar a minha resposta.

– Que seja. Eu preciso ir e não me procure mais. – Ele girou pelos calcanhares para sair do quarto, mas hesitou por um momento para dizer: – E fiquei longe do seu ex-marido, não crie esperanças, não pense que vão reatar o casamento e tudo será diferente. Que viverão felizes para sempre, voando em um tapete mágico. Simplesmente acabou, Narah! O seu casamento já era. 

– Acha que foi o sexo? Eu deveria ter sido mais honesta sobre meus desejos. Talvez, se eu fosse uma mulher mais ousada. É tudo minha culpa.

João debochou, rindo com desdém.

– E o seu marido não tem culpa por essa relação desastrosa? O desejo sexual está ligado ao casal, a descoberta de prazeres é entre o marido e a esposa. Um casal precisa inovar, buscar novos estímulos, esquecer o que é moralmente incorreto e se aventurar. Buscar o que satisfaz cada um. É tão deprimente ver uma mulher como você, se culpando porque o seu ex-marido não sabe foder.

Fiquei boquiaberta, esse homem existe? É claro que existe Narah, ele está parado na sua frente. Lindo, gostoso, cheiroso e pode ser todo seu. Acertei um tapinha na minha cabeça. Saia da minha cabeça pensamentos da luxúria, do pecado! Acertei outro tapinha na minha cabeça.

– Por que você está se auto agredindo? – João parecia estar de frente com um dragão de sete cabeças, a perplexidade estava estampada no seu rosto.

Pigarreei com a garganta, envergonhada com meu comportamento. Eu sou uma mulher adulta, de vinte e sete anos, bem-sucedida e que precisa seguir em frente.

– Queria evitar certos pensamentos. 

O homem franziu a testa e cruzando os braços no peito interpelou:

– Que tipo de pensamentos?

Ele é curioso, interessante.

– Pensamentos sobre um homem me deitando na cama e realizando todos meus desejos sexuais. Ele poderia preencher o vazio na minha vida, ser o meu calor em uma noite fria de inverno. Talvez, um amigo que possa contar a qualquer momento do dia ou um amante para me incendiar de paixão. – Mordi meu lábio inferior.

– 900 euros.

Argh!

– Eu não trouxe dinheiro. – Que saco! 

– Boa noite Narah. – Ele saiu do quarto me deixando sozinha. Que homem filho de uma…respira, respira mulher! 

O meu Garoto (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora