Capítulo 08 - Alessandro

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– Eu estou tentando descobrir se você ama essa mulher, ou se odeia ela. – Meu amigo argumentou, enquanto segurava o saco de boxe para desferir alguns golpes.

– Não seja louco, é óbvio que a odeio!

– Alessandro, desde que conheceu essa tal de Narah só fala sobre ela. O quanto é irritante, reservada e ingênua.

Bufei me afastando do saco e pegando a minha garrafinha de água.

– Me deixe em paz, Leston!

O conheci quando cheguei na França, ele também trabalha na indústria do sexo. Hoje tem uma lavanderia e a noite faz programa, mas prefere o público masculino.

– Meu amigo, estou muito curioso para conhecer essa mulher. Nunca citou o nome das suas clientes para mim, não fala sobre elas. É estranho você reclamar sobre a Narah o tempo todo.

– Ela entrou na boate fazendo o maior escândalo, quando me aproximei dela me abraçou como se fôssemos íntimos. Agora as fofocas que sou casado estão se espalhando entre as clientes e como você trabalha nesse ramo também, está ciente que elas gostam de exclusividade. Sabe que ser o administrador da boate me traz uma renda boa. E também sabe que Kathie odeia escândalos dentro da sua boate, levei sermões de uma mulher de 64 anos como se fosse um adolescente punheteiro. – Esbravejei, perdendo até o fôlego.

– Essa mulher é só confusão, gostei dela! Seja otimista, tem sempre um lado bom na história. Pelo menos você está comendo ela e ganhando dinheiro para gozar.

Comer? Eu só coloquei o dedo dentro daquela boceta apertada. Para falar a verdade, quero transar tanto com ela que preciso me controlar quando estou ao seu lado. Narah é aquele tipo de mulher que muitos homens gostariam de ter uma relação, é inteligente, uma empresária bem-sucedida, bonita e recatada. Além de saber agir com integridade e coerência, tem segurança nas palavras, uma boa autoestima e isso é realmente encantador. Mas Narah não é certa para mim, ou eu não sou certo para ela, não podemos manter uma relação íntima sendo que não sou honesto e verdadeiro. Meu passado não pode ser descoberto pois carrego uma bagagem de mágoas e dor, que não posso e não vou descarregar naquela mulher.
Lembro-me a primeira vez em que esbarrei com Narah, estava no seu restaurante em um almoço comum. Ela chegou sorridente no estabelecimento e acompanhada, o marido estava ao lado dela e parecia orgulhoso, feliz. Os dois pareciam felizes, passando a imagem de um casamento perfeito. Nunca imaginei que um dia encontraria a proprietária do restaurante Le’Biran na boate.

– No que está pensando? – Leston me encarou com os olhos semicerrados.

– Sobre casamento.

O meu amigo ficou atônito, resmungando: – Casamento? Ficou louco?

– Estou pensando em como alguns casais se prestam a um papel ridículo. Vivem uma mentira e usam máscaras, o famoso casamento de fachada.

– Me deixa adivinhar, esse pensamento tem a ver com Narah a cliente da boate?

Murmurei xingamentos o fazendo gargalhar.

– Hoje vamos jantar no Le’Biran. Estou curioso, quero conhecer a mulher que roubou o coração do meu amigo.

– Acho que sua imaginação é fértil demais, precisa procurar uma terapeuta para se tratar. – Zombei.

****

Leston é um pau no cú! É tudo que tenho a dizer sobre esse cara. Nesse momento estou sentado em uma cadeira, aguardando o meu jantar. Não acredito que ele me convenceu no final, a sorte é que a Narah parece não estar no restaurante essa noite. Olho ao redor procurando por ela e depois certifico o horário em meu relógio, é começo de noite e com certeza já voltou para a sua casa. Os dias daquela mulher estão sendo difíceis.

– Procurando por alguém?

– Agradeça aos céus por ser meu melhor amigo, senão já teria esmurrado o seu rosto até estourar esses lábios cheios de preenchimento. – Esbravejei, bebendo meu vinho para relaxar a garganta que doía.
Merda! É uma ótima hora para pegar um resfriado.

– Está irritado porque ela não está aqui? E não fale do meu preenchimento, aquela travesti detonou o meu rosto e precisava arrumar o estrago.

Leston namorava uma travesti, era gente boa, como dizemos no Brasil. Porém, um pouco ciumenta. Em uma noite de discussão ela acabou agredindo o meu amigo com uma faca de cozinha, o estrago só não foi maior porque os dois estavam acompanhados com um grupo de amigos. Até hoje ele não me contou o motivo da briga, mas tenho certeza que andou passando dos limites.

– Tudo bem, só quero comer e sumir desse lugar!

– Vai para a boate hoje? – Neguei com a cabeça, realmente estou irritado e estressado.

– Não. Só quero ter uma noite boa de sono, descansar um pouco e esquecer o mundo. – Confessei.

Não posso reclamar da minha vida, como expliquei para Narah, a sorte andou do meu lado todos esses anos. Entretanto, a vida às vezes fica tediosa. Sem nada de extraordinário, todo mundo espera por um acontecimento especial no seu a dia a dia. Os garçons servem nosso jantar, como sempre muito educados.

– Com licença, a proprietária do restaurante a senhora… é…

Eu vou matar o Leston!

– A Senhora WelKyn? – O garçom franziu a testa.

– Exatamente, ela está no restaurante hoje?

– Hoje não compareceu no restaurante, ouvi comentários que foi visitar os pais. – O garçom explicou, parecendo desconfiado.

– O namo…

– Diga para ela que João veio a sua procura, – Disparei antes que meu amigo falasse o que não devia. – Sou um amigo próximo.

O garçom afirmou com a cabeça, dizendo: – Gostaria de falar com o gestor do restaurante? O senhor pode deixar um telefone ou cartão para a senhora WelKyn entrar em contato.

– Não será necessário, agradeço atenção.

Ele assentiu e se afastou.

– Nossa, esses caras têm aulas de etiqueta? – Leston disse paquerando o garçom.

Que Deus me ajude!

****

No dia seguinte a dor no corpo, o mal-estar e a fisionomia péssima só comprovaram sintomas de uma gripe forte. Mesmo sendo um dentista e podendo me auto medicar, decidi procurar um especialista que me receitou alguns remédios (que eu já esperava). Desmarquei todas as minhas consultas e avaliações, o trabalho odontológico requer dos seus profissionais ações precisas. Uma gripe pode causar transtornos, não é aconselhável trabalhar doente. Só precisava confirmar a minha agenda de amanhã e passar algumas instruções a minha secretária, caso essa gripe me acompanhe por mais alguns dias.
O dia chuvoso só aumenta a vontade de estar em minha cama, dormindo e me recuperando. Quando estacionei o meu carro, a surpresa. Em frente à Salon de Thé, Narah estava parada segurando um guarda-chuva estampado com flores coloridas. Ela trocava o peso do corpo entre uma perna e outra, ao mesmo tempo em que tremia de frio. O que essa mulher faz aqui?

– Quer fazer contato com uma nave alienígena com esse guarda-chuva? – Zombei quando me aproximei dela e ela enrubesceu com a minha chegada inesperada.

– Quando estava saindo do restaurante começou a chover e seria desnecessário dirigir três quadras, sendo que eu poderia muito bem andar. Comprei o guarda-chuva no caminho.

– O que faz aqui? – Questionei um pouco rude. Eu só quero descansar, não estou com cabeça para os problemas dessa mulher hoje.

– Meus funcionários informaram que foi a minha procura ontem à noite no restaurante, fiquei preocupada e resolvi aguardar você chegar no seu consultório.

Soltei um riso debochado.

– Há quanto tempo você está parada na chuva?

– Acho que uns 40 minutos.

Problemas e mais problemas. Será que todos os meus dias serão assim?

– Me acompanhe, está toda molhada.

Concordou e me seguiu até o meu consultório. Subimos a escadaria e na entrada do apartamento três, ficava a sala de espera. Quando entramos minha recepcionista se levantou, esbanjando o sorriso de sempre.

– Senhor Martins! Por favor, deixe-me ajudar. – Se aproximou pegando meu casaco molhado e o guarda-chuva da Narah, que estava reparando em cada detalhe do lugar.

– No balcão – Apontei ao dizer: – tem chá e café, sirva-se à vontade. Eu não demoro.

– Obrigada! – Ela respondeu com leve sorriso.

Está sendo uma péssima ideia deixar Narah conhecer a minha vida, além do garoto de programa.


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