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Enquanto Sam estava no pombal, cuidando de Asa Vermelha, seu falcão de estimação que trouxera do Brasil, seu celular vibrou com a chegada de uma mensagem de Riley, a qual estava escrito local e data. E ao fim algo do tipo "Precisa ficar um pouco por terra, Falcão!". Riley sabia que depois da morte dos pais de Sam, ele tornou-se uma pessoa fechada, do tipo que não se apega a ninguém. Algo que ele considerava sua melhor defesa.

Sam sorri com a mensagem de Riley e guarda de volta o celular no bolso, voltando a Asa Vermelha. Em seguida o falcão alça voo enquanto Sam observa, do terraço, as manobras rasantes da árvore. Já sentia saudades da sensação.

*

Ainda caminhando devagar, Sam seguiu até o Harlem. Não gostava muito de estar por ali. Não depois de toda a tragédia.

-Samuel! -Um homem de idade o chamou assim que viu Sam passar.

-George! -Sam diz ao se aproximar. -Como está?

-Muito bem! -George responde. Estava com uma bengala em mão, e uma boina marrom desbotada na cabeça. Contudo ainda exibia um sorriso embaixo da barba vistosa e grisalha. -O que faz por essas bandas?

-Eu estou indo à Igreja. -Sam explica. -Faz doze anos, hoje.

-Ah! -É tudo o que George fala. Não lembrava que era hoje, mas sabia que fazia doze anos. Longos doze anos.

-Eu vou indo. Foi bom te ver, George! -Sam comenta se afastando.

-Vê se se cuida! -George acena, enquanto Sam se vira, seguindo sua caminhada.

Ele não via aquele lugar há um ano. As casas pareciam ter mudado, mas essa era a sensação todo ano. Todo o ano em que ele visitava o bairro, para a visita anual que fazia à uma pequena igreja, ficava estranhando tudo, como se jamais tivesse visto aquele lugar.

Seguiu até a igreja, esta que parecia nunca mudar, lhe causando um desconforto nostálgico. Ele parou na entrada. Poucas pessoas estavam ali, rezando. Nem notaram quando ele chegou.

Sam ainda continuava parado na entrada, olhando o ambiente. Podia ver o púlpito, o mesmo em que Paul Wilson pregava seus discursos evangelistas. Olhou o primeiro banco, uma senhora de cabelos grisalhos com um chapéu rosa na cabeça estava sentada. Quase viu Darlene Wilson ali. Se perguntou se não estava delirando.

-Tudo bem, querido? -Uma mulher se aproxima, o assustando.

Sam recua, mas logo limpa a garganta, voltando a realidade.

-Estou bem. Obrigado. -Ele diz, tentando não soar grosseiro.

-Já vai começar. Gostaria de sentar-se? -A senhora perguntou, em tom gentil.

Sam apenas assentiu e seguiu junto com a mulher até um dos bancos. O pastor chegou, tomou seu lugar no púlpito e continuou a pregação. Sam ouvia tudo, atento, tentando absorver as palavras solenes que ecoavam pela igreja.

As mesmas palavras que seu pai, Paul, dizia, e as que sua mãe, Darlene, sempre repetia...

*

Assim que a pregação acabou, a  senhora, gentilmente, o convidou para uma xícara de café, e Sam, não tendo outras alternativas, aceitou.

-Você é novo? -A mulher perguntou.

-Não. -Sam nega. -Eu sou bem antigo. Não moro aqui, na verdade. Venho visitar o bairro por causa dos meus pais, foi aqui que eles morreram.

-Ah, sinto muito, querido. -A senhora lhe lançou um sorriso amigável. -Meu marido morreu aqui, também. Há dois anos. Meu filho há três. Voltei pra cá no início do ano. Mas ainda dói... -A mulher parece engasgar com as palavras e acaba sorrindo. -Ainda dói estar em um lugar assim.

Falcão - ShadowlandOnde histórias criam vida. Descubra agora