Sara

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2014

-Filha, você vai ficar bem?- disse minha mãe com lágrimas escorrendo por seu rosto.

-Vou mãe. Não se preocupe.

-É que você vai ficar tanto tempo fora- nesse momento mamãe apoiou sua cabeça sobre meu ombro, que ficou molhado instantaneamente.

-Não se preocupe mamãe, eu vou te ligar todos os dias, e vou vir te visitar quando der também.

Todos no aeroporto nos olhavam, não sei se era pelo fato de mamãe estar chorando igual um menininho que acabou de perder a bola, ou se foi pelo fato de eu levar, talvez, muita bagagem. Acredito que 2 malas, 1 bolsa e 1 mochila esteja bom para essa viagem. Talvez eu seja meio exagerada. Mas essa viagem não tem tempo determinado, então nesses casos melhor se precaver, eu acho.

"Chamada para o voo 096 com destino a Nova Iorque, passageiros favor dirigir-se ao portão de embarque."

Dei um último abraço em minha mãe:

-Te amo mãe- eu disse

-Te amo minha princesa- respondeu ela.

Dirigi-me ao meu irmão mais novo Lucas, abaixei e disse:

-Sabe o que fazer certo?

-Sei, quando você embarcar vai me mandar uma mensagem, então eu entrego o computador ao papai e mamãe, e quando eles ligarem você vai estar logada no Skype e vai falar com eles.

-Bom garoto. Eu te odeio, mas sentirei saudades de você, pirralho. - disse enquanto bagunçava os cabelos dele.

-Eu não vou sentir saudades de você, mas me manda mensagem, só pra... Você sabe, não é?

Dei um abraço apertado nele e fui ao meu pai. Ele estava sério, como sempre. Dei um abraço nele e ele beijou o topo de minha cabeça, como de costume. Ele não sabia expressar seus sentimentos muito bem, mas essas pequenas ações mostravam que ele tinha um coração, embora não parecesse.

-Filha, pegue isso. - ele me entregou um envelope branco sem nada escrito, o abri na hora e vi que havia várias notas de dólares, nem tentei contar o quanto tinha, só olhei para ele e disse:

-O que é isso? Você está louco? Onde arrumou tanta grana?- parece que eu disse isso calma, mas na verdade eu falei gritando mesmo.

-Eu fiz um extra no trabalho e consegui isso, não é muito, mas é um estepe pra você.

-Eu já havia dito que tinha tudo arrumado! Lá eu arrumo um emprego e pronto!

-Filha você sabe como os latinos são tratados. Fique com ele, nós nunca saberemos quando vamos precisar.

-Obrigada, de coração. - Minha mãe já ia chorar novamente, quando a voz misteriosa do aeroporto diz:

"Última chamada para o voo 096 com destino a Nova Iorque, passageiros favor dirigir-se ao portão de embarque."

Não disse mais nada, apenas dei um abraço em cada um e fui até o avião, consegui ouvir minha mãe gritando de longe "mande um beijo para o Nicolas", vergonha? Não, já estou acostumada com a loucura mesmo, decidi esquecer o grito para não chorar e me concentrei em outra coisa, o meu reflexo no vidro que mostrava o avião, e percebi o quanto mudei desde minha época no colegial, o meu cabelo, que antes era na cintura, se transformou num long bob, que era muito mais fácil de cuidar. Meus óculos grossos viraram lentes. Meu aparelho foi arrancado e meus dentes ficaram alinhados. E meu modo de vestir, mudou bastante. Eu usava sempre calças jeans rasgadas e cardigãs, talvez uma combinação estranha, mas eu era estranha. Já hoje, me visto bem, uso muitos vestidos com meias grossas e coturnos no frio, terninhos e botas, muitas botas. Eu mudei muito desde aquela época, mas uma coisa não mudou. Permaneceu intacta até hoje. Eu sou e sempre fui: uma cagona.

Simplesmente pelo fato de que eu estou dentro de um avião voando para Nova Iorque sozinha, indo morar em outro país sozinha, sem conhecer nada nem ninguém, apenas meu melhor amigo Nicolas, que me buscaria no aeroporto. Isso me confortava, pois a saudade dele estava me matando. Sentei-me na cadeira do corredor, e deixei a da janela sozinha, eu seria muito estúpida de sentar na janela, já que morro de medo de altura. Dei uma última checada no meu celular, e tinha uma mensagem de Nicolas, que dizia:

Sarinha,

Me desculpe, não poderei te buscar no aeroporto hoje, decidiram me deixar aqui no trabalho durante a tarde, a gente se vê a noite pode ser? Venha pra minha casa, vou mandar o endereço em outra mensagem. Desculpa mesmo, nos vemos mais tarde,

Te amo,

N.

"Eu to na merda" pensei.

Vi uma aeromoça loira passar ao meu lado e a chamei:

-Moça, então eu estou num avião, e eu morro de medo, tem como me dar um calmante só na hora da decolagem, por que senão eu meio que vou morrer.

-Vou ver o que posso fazer por você- disse a aeromoça saindo sorridente.

Tudo estava "bem" eu pensava "Vou tomar o remédio, dormir, e não passarei vergonha nenhuma". Mas só pensei mesmo, por que deu muito errado. Aquela aeromoça decidiu falar o seguinte naquele microfone de avião:

"Senhores passageiros, algum dos senhores teria algum calmante para a senhora da cadeira G-12 que está com medo da decolagem, por favor?"

"Obrigada por essa vergonha aeromoça!" pensei. Estava com o rosto vermelho de vergonha naquela hora, afinal todo o avião estava me olhando. Decido enfiar a cara nas mãos mesmo, afinal eu não poderia cavar um buraco no piso do avião e enfiar o rosto lá dentro. De repente sinto alguém do meu lado.

-Oi! Tenho um remédio aqui, pode tomar. Ele é feito de ervas, acalma um pouco. - disse a voz num português bom, mas com um forte sotaque indicando que ela não era brasileira.

Olhei para o lado e vi que era uma mulher. Com o corte de cabelo pixie, igual ao da cantora Pink, pintados com um vermelho bem chamativo, olhos azuis com um delineado grosso, vestindo uma blusa cropped vinho cheia de bolinhas, combinando com uma calça de cintura alta, botas de cano curto e uma jaqueta de couro preta. Aquela mulher parecia que tinha saído de uma ilustração de uma pin up rock dos anos 60. E eu tinha adorado aquele estilo irreverente.

-Este lugar está ocupado? Ah, vou sentar aqui mesmo e depois me viro se alguém vier. Toma o remédio amiga. Apesar, sou Michelle Hampton, e você é?- disse ela estendendo a mão.

-Sara Fontes- disse pegando a mão dela. Tomei o remédio logo em seguida, o engraçado é que ele tinha gosto de menta, mas não me importei na hora. Até por que o avião começou a se mover, ou seja, iríamos decolar. Fechei meus olhos e segurei firme no apoio da cadeira, tão forte que os nós de meus dedos estavam brancos. Senti um calor sobre minha mão e vi que Michelle estava com sua mão sobre a minha, olhei para ela e ela sorriu.

-Não se preocupe, estou aqui com você.

Olhei para ela e retribui o sorriso. Naquela hora eu percebi que eu não consegui apenas uma parceira de viagem, eu percebi que ganhei uma amiga.

-Enfim, fale mais sobre você!- disse animada, fechando a cortina da janela, certamente para eu não ver o avião subindo, um gesto do qual eu fiquei extremamente grata.

-Quando a decolagem acabar eu prometo que falo, deixe-me lidar com meu pânico rapidamente- disse fechando meus olhos.

Ela apenas riu e começou a mascar um chiclete de canela.

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Gente, eu preciso finalizar esse capitulo com uma homenagem. Sim, a todos os meus amigos, meus escritores vivos, principalmente Thai, Leandro e Carol, que não deixaram eu desistir de escrever e me apoiaram 100% na minha decisão de voltar a escrever. Sem vocês eu não estaria aqui, muito obrigada.

40 diasWhere stories live. Discover now