Sara

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Naquele fim de semana, oficializamos tudo. Assinamos os papéis, compramos a aliança mais barata da loja e saímos.

-Então, você vai morar comigo? - Nicolas perguntou enquanto saíamos do cartório.

-Claro que não, querido. Tudo isso é fachada. Obviamente, alguns dias eu irei dormir na sua casa, mas em quartos separados. Tudo separado. Não somos um casal de verdade, não é mesmo? - Eu sorri e ele sorriu de volta. Ele era um homem esperto, ele entendia a situação.

-Se vamos fazer isso, temos que fazer direito. Isso é algo ilegal. E eu sou advogado. Já não estou sendo certo nisso tudo, então, vamos ser inteligentes.

Eu topei. Levava roupas para a casa dele só quando ia para lá. Não queria ter nada meu naquela casa. Não éramos um casal. Mas passei aquele final de semana na casa dele. Comemos sopa e assistimos a séries ruins, igual quando éramos adolescentes. Parecia que meu mundo finalmente estava se arrumando novamente.


Entrei em casa, e Michelle já estava de pé.

"Esqueci que ela não dorme"

-Bom dia, Chel.

-Bom dia, Sara. Não achei que viria para cá tão cedo- dizia ela enquanto terminava de coar o café.

-Não peguei nada do meu trabalho. Vou dormir aqui durante a semana, e os finais de semana eu passo lá. Pode me preparar uma xícara de café enquanto eu me troco, por favor?

-Claro.

Do meu quarto, eu ouvia o som do líquido caindo dentro da caneca, da colher colhendo o açúcar do açucareiro, da mesma mexendo o açúcar dentro do café. Eu conseguia até imaginar a sensação do café sendo adoçado.

Tomamos o café em silêncio, mas eu desisti após o primeiro gole. Ela lia o The New York Times, e eu olhava para o nada, então eu vi o relógio. Eu precisava sair. Sair da casa do Nicolas e ir até minha casa me atrasou muito, peguei minhas chaves e corri para fora.

Fui direto a cafeteria próxima ao restaurante, eu tomaria meu café no caminho. Graças a Deus ela estava vazia. Pedi rapidamente meu expresso e, antes de sair, o enchi de açúcar. Enquanto levava ele em minha mão esquerda, tentava guardar minha carteira na bolsa com a mão direita e então trombo com alguma coisa e meu café cai inteiramente sobre mim.

"Isso queima muito! Era só o que me faltava, eu já não estava atrasada o suficiente"

-Você não olha por onde você anda? Seu retar...- A pior coisa que fiz na vida foi olhá-lo nos olhos.

Ele era alto, magro (mas com músculos definidos, parecia que eu havia trombado com uma parede), com cabelos loiros compridos, e olhos castanho claro. Ele vestia uma blusa branca com uma jaqueta bege antiga, jeans gastos e tênis sujos de lama. Para completar, usava uma bolsa na transversal e levava um livro na mão.

-Mil perdões eu não estava olhando por onde andava. Eu estava lendo. Ah meu Deus, você precisa de ajuda? Quer um papel ou alguma coisa? Venha, vou te pagar um outro café- dizia ele pegando o copo vazio da minha mão.

"Droga de atraso. Droga de atraso! "

-Desculpa moço, mas eu estou extremamente atrasada! Senão eu tomaria um, dois, três, quantos cafés você quisesse tomar comigo! – Eu dizia enquanto passava a mão sobre a mancha de café em minha blusa. Mais uma vez eu estava tremendo.

-Então fico te devendo um café. Olhe- ele procurou algo em seus bolsos, e tirou um papel amarelo amassado, e começou a anotar algo rapidamente nele- Aqui está meu número. Me chamo Chris, aliás. Quando estiver livre, me ligue e eu te pago o café, pode ser?

-Pode.

Eu estava derretidinha.

Corri para o trabalho, e passei o dia inteiro pensando nele. Aqueles olhos. Aquele cabelo. Eu precisava me encontrar com ele. No fim do meu expediente, não hesitei. Liguei.

-Alô?

"Droga de voz linda"

-Alô! Chris, certo? Ham... você esbarrou comigo hoje, e ficou me devendo um café, lembra?

-Ah, claro! A menina do café!

"Socorro ele ainda lembra de mim. Se faz de difícil, Sara"

-Bom, eu acabei de sair do trabalho, se quiser pagar sua dívida, seria legal.

-Saio do trabalho daqui à uma hora, pode se encontrar comigo naquela mesma cafeteria?

"Não grita, pelo amor de Deus"

-Claro! Te vejo lá!

Eu precisava voltar para casa e me arrumar.

"Eu não aguento mais correr! "

Subi correndo. Michelle estava trabalhando, o que era ótimo, já que evitava perguntas. Peguei meu melhor vestido, coloquei uma meia calça grossa e botas com um salto pequeno. Eu não estava muito diferente do normal, mas não estava de se jogar fora, com certeza.

"Maquiagem. Maquiagem. Cadê minha maquiagem? Achei! "

Fiz uma linha fina com o delineador. Fino demais. Engrossei um pouco. Ainda muito fino. Engrossei novamente. Agora estava torto. Consertei, dessa vez estava bonito e grosso, mas aquilo era Michelle demais. Então tirei tudo e usei só um rímel mesmo.

"Aja com naturalidade e não mostre que você é retardada. Não estrague as coisas dessa vez. Só dessa vez, por favor. "

Andava nervosa, mas feliz. Com toda essa história minha do visto, da promoção, eu precisava de algo que me distraísse, que tirasse as preocupações da minha cabeça nem que fosse por um mínimo segundo, ou um milésimo. E quando eu o vi, tudo isso aconteceu. Minha mente, que era como uma cidade, tornou-se em um campo em questão de segundos. Tudo se acalmou, meu coração se encheu de sangue, e começou a bater rapidamente.

Eu estava pronta.

Fechei a porta atrás de mim, respirei fundo e saí, sem saber o que me aguardava.

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⏰ Last updated: Jul 18, 2018 ⏰

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40 diasWhere stories live. Discover now