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-Tá maluca, menina? - gritou um taxista meio indiano de dentro do carro.
-A preferência é do pedestre, seu doido! -gritei em resposta. Mas a verdade é que nem seu sabia de quem era a preferência. Eu precisava comprar um café e ir para o trabalho.
Eu amava meu emprego, de verdade. Eu trabalhava como chef de cozinha em um restaurante francês que ficava a 3 quadras da minha casa. Eu ainda morava no mesmo prédio, mas agora eu e Michelle dividíamos um apartamento. Afinal, nós duas gastávamos dinheiro com aluguel, então decidimos dividir as contas.
-Um expresso grande, por favor. – Pedi para a atendente assim que cheguei na cafeteria. Sem nenhuma fila, assim como havia planejado.
Segui meu caminho andando até o restaurante. Abri a porta dos fundos marrom, com algumas rachaduras, e entrei. A cozinha era simplesmente linda. Tons amarelados nas paredes, eletrodomésticos pretos, chão marrom lapidado e os utensílios brilhavam de tão limpos. Andei em meio a toda a bagunça de panelas e talheres sendo limpos e colocados nos lugares devidos. Avistei o meu gancho. Ele era simples, de madeira e ele apoiava o meu dólmã e a minha touca de cabelo, e meus sapatos de proteção se mantinham em baixo de tudo isso.
Coloquei meu dólmã e comecei a prender o cabelo, quando meu chefe aparece e me chama:
-Bonjour, Sara!
-Bonjour, chefe Benoit!
-Me encontre na minha sala quando terminar de se arrumar, por favor.
Assenti com a cabeça. Prendi meu cabelo e coloquei meus sapatos de proteção e fui em direção á sala. Os pensamentos negativos rodeavam na minha cabeça. Demissão? Não, eu fazia tudo certo. Será que coloquei muita pimenta na comida? Foi só uma vez que eu fiz isso.
-Sara, sente-se. Tenho uma proposta.
Eu me sentei devagar. Minhas pernas estavam bambas e minhas mãos tremiam. Ele falava alguma coisa, mas minha mente não processava. Só conseguia pensar em todos os erros que cometi em minha vida, até que meus devaneios foram interrompidos.
-Então, como recompensa por todo o seu esforço, eu gostaria de te oferecer o cargo de sous chef. Você aceita?
"Sous chef? Sério? Eu não posso acreditar que meu sonho está se tornando realidade!"
-Claro que sim! Obrigada!
"Sara, não comece a chorar!" Então eu me segurei. Me segurei o dia todo para não chorar. Mas desabei de felicidade ao chegar em casa. Me joguei no sofá e sorri, e chorei. As lágrimas escorriam pelo meu rosto e tocavam meus dentes. Parecia que eu tinha colocado um cabide na minha boca! Ela não fechava de jeito nenhum! E então eu ouvi o som da fechadura.
-Você está sorrindo! Mas você está chorando! Sorrir e chorar são opostos. Eu tô confusa- disse Michelle com as sobrancelhas franzidas.
Michelle chegou do trabalho pouco tempo depois de mim. Ela estava visivelmente cansada. Seus cabelos estavam na altura dos ombros e com uma coloração ruiva escura, e com óculos de grau com armação de gatinho. Ela se sentou do meu lado e ficou me encarando.
-Ganhei uma promoção!
-Mentira!
-Verdade!
E então levantamos e começamos a pular no meio da sala e a gritar extremamente alto. Até que escutamos umas batidas no chão, era nosso vizinho de baixo, que batia com a vassoura no teto sempre que ele se sentia incomodado com nosso barulho.
-Vamos comemorar! - disse Michelle, que na hora pegou seu celular e discou um número- Adivinha só! - falou ela com um sorriso de canto de boca.
Após alguns minutos de ligação, ela me diz:
-Certo, falei com o Nick. Se arrume, por que vamos sair. Ele vai levar a gente numa balada aqui perto.
-Balada? Quanto tempo não vou em uma. Nem lembro o que se faz numa balada, na verdade- eu disse franzindo as sobrancelhas.
-Existem 3 tipos de pessoas na balada: o primeiro tipo de pessoa é aquele que fica totalmente bêbada e acaba perdendo o sapato, borrando a maquiagem e em algum momento acaba vomitando, às vezes até em público. O segundo tipo é aquele que vai na balada só para beijar, isso é acarretado graças a términos recentes ou baixa autoestima. E o último tipo de pessoa somos nós, aqueles que estão lá para comemorar, dançar até o pé querer desprender do tornozelo, sem preocupações.
-Então melhor eu ir com um salto confortável- respondi rindo.
Depois de um tempo, lá estávamos nós três, na frente da balada, olhando aquelas luzes que mudavam de cor a cada segundo e ouvindo a música alta. Nicolas vestia uma blusa social escura com calça jeans e sapatênis, seu cabelo ruivo estava desarrumado, mas com algumas mechas que cobriam a testa numa tentativa de esconder um corte recente que eu acabei causando (eu derrubei o vade mecum que ele usa para trabalho na cabeça dele acidentalmente). Michelle vestia um macacão jeans rasgado nos joelhos, com uma blusa preta com decote em barco, que mostrava seus ombros e um tênis tão branco que os olhos chegavam a doer. Já eu, estava usando um vestido vermelho curto de camurça de mangas compridas e um salto agulha. Aquela ideia do salto confortável não foi bem planejada.
Perdi a hora na pista de dança. Eu estava suada, meu cabelo bagunçado e meu sapato estava nas mãos de Michelle, que estava sentada no bar bebendo um drink. Fui até ela:
-Cadê o Nicolas? - eu perguntei gritando, já que a música nos atrapalhava.
-Ele me disse há um tempo atrás que iria no banheiro. Mas não voltou até agora- ela respondeu olhando para os lados, procurando o banheiro.
-Ah, ele com certeza está em algum canto com alguma menina! Todas sempre foram caidinhas por ele, desde quando éramos pequenos. Eu vou dançar de novo!
Eu tinha certeza de que Nicolas estava com alguma menina. Mas eu não sentia ciúmes, muito pelo contrário. Eu sempre torci para que ele encontrasse uma garota legal que fizesse ele feliz. Até por que ele sempre cuidou muito bem de mim, e eu tenho certeza que a menina que namorar ele, será muito bem cuidada, e receberá muita atenção.
Só conseguia pensar nas qualidades de Nicolas enquanto andava até a pista. Eu já não sabia que horas eram, mas sabia que era tarde. Eu ia aproveitar o máximo que eu pudesse, pois eu sabia que a qualquer momento Michelle ou Nicolas me avisariam que estava na hora de ir, e aquilo era o que eu menos queria naquela noite.
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40 dias
RomanceSara estava morando nos EUA, sua vida ia perfeitamente bem, com seus dois melhores amigos: Michelle e Nicolas. Mas uma carta a manda para o consulado e ela se vê numa enrascada: seu visto inspira em 40 dias. Ela teria que se casar para se manter no...