Michelle

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Nicolas chegou do meu lado e se sentou.

-Sara me disse que você estava com alguma menina. É verdade? -perguntei rindo.

-Claro que não. Já viu o tamanho da fila do banheiro? Parece que alguém vomitou lá, então eles interditaram por alguns minutos, por isso demorei. Ei, sabe que horas são? -ele pergunta tentando olhar no relógio que estava em seu pulso, mas não adiantou muito, já que estava escuro.

Olhei em meu celular e respondi que já eram 02:00 da manhã. Combinei com Nicolas de que iria chamar a Sara, estava muito tarde e precisávamos ir para casa. Fui até o meio da pista de dança com os olhos apertados procurando por ela, que estava olhando um homem dançando break no meio da pista. Entreguei para ela os sapatos e disse que estava na hora de irmos embora, e apesar de relutante, ela concordou. Pegamos um taxi e fomos para casa, Nicolas nos acompanhou, ele alegava que era muito perigoso duas garotas vagarem sozinhas de madrugada em Nova Iorque. Sara foi direto para cama, e adormeceu em segundos, de maquiagem e tudo. Nicolas sentou-se no sofá, ele estava claramente cansado.

-Quer um café? -perguntei.

-Quero sim. – Ele me respondeu enquanto me acompanhava até a cozinha.

Liguei a cafeteira e esperei. Estávamos em silêncio, apenas escutando o barulho da máquina. Até que o silêncio foi quebrado por ele, que disse:

-O banheiro estava realmente interditado àquela hora.

-Eu sei que estava. Não tem por que você mentir para mim. Açúcar ou adoçante? - eu falava enquanto tirava o bule da máquina e o cheiro de café se espalhava pela cozinha.

-Adoçante, por favor. Estou cansado demais, e pensar que tenho trabalho para ser feito amanhã em pleno domingo!

-Pode dormir aqui, eu arrumo o sofá para você. E amanhã cedo você volta, mais acordado. – Eu busquei um travesseiro e um cobertor e o entreguei- Você sabe onde guardamos a chave, não precisa nos acordar amanhã, se puder não fazer barulho eu agradeço.

-Boa noite- ele respondeu rindo, e eu fui dormir.

Acordei no dia seguinte e comecei a preparar o café da manhã. Meu celular continha uma mensagem de Nicolas enviada ás 07:53 da manhã dizendo que ele havia ido embora e me agradecendo pela noite anterior. Enquanto a água do café esquentava, fui checar como estava Sara: ela continuava com a mesma roupa da noite anterior e estava esparramada na cama, sinal de que não havia acordado no meio da noite.

Fui checar nossa correspondência, normalmente, Sara apenas separava as contas do aluguel, luz e água e as me entregava para eu poder pagar, e o resto, acabava ficando empilhado em nossa mesinha de centro. Meu pensamento acompanhava as cartas.

"Folheto de mercado, cupons de desconto, banco que não sou associada, outro banco que não sou associada, essa carta aqui é do vizinho de baixo, consulado, nada demais... Consulado?"

Olhei a carta novamente. O consulado brasileiro havia mandado uma carta para Sara! E ela nem viu! Havia algo de errado?

"Assim que ela acordar eu entrego essa carta" eu repetia em minha mente.

Algumas horas se passaram, e Sara saiu do quarto cambaleando de sono.

-Não sinto minhas pernas. Tem café? -disse ela com voz de sono.

-Na cozinha. Finalmente colocou um pijama, achei que nunca mais ia tirar aquele vestido de festa!

-Hoje é domingo, então posso me dar ao luxo de usar pijama o dia todo- dizia ela enquanto sentava no sofá, ao meu lado, segurando uma xícara de café quente- O que é isso? - perguntou ela olhando a carta que eu havia separado em cima da mesa.

-Sabia que o consulado te enviou uma carta, Sara? Tem noção de que isso pode ser algo grave?

-Chel, relaxe! Eles sempre enviam essas cartas para os imigrantes. Não se preocupe com isso, certo?

Eu confiei nela e parei de me preocupar. Passamos o resto do dia vendo séries e filmes na televisão, nos divertindo, sem imaginarmos o que nos esperava no dia seguinte.

Sara

A curiosidade de saber o que estava na carta era minúscula. Sinceramente, estava num momento bom demais na minha vida, e não queria que o consulado estragasse avisando que meu visto expiraria daqui a 1 ano. Mas confesso que pensei naquilo pela noite inteira, cheguei exausta no trabalho.

-Bonjour, Sara. Você parece exausta! Dormiu bem?

-Bonjour, chef. Eu não dormi de noite, o consulado me enviou uma carta, eles enviam sempre, mas estou preocupada.

-Perdon, o consulado envia sempre? Nunca recebi uma antes, apenas recebo em casos de entrevista ou em caso de checar documentos- dizia o chef enquanto ajustava o chapéu em sua cabeça.

-Então, acha que eu deveria checar?

-Oui! Agora preciso que você adiante os molhos de tomate, atum e verifique se os maçaricos tem gás suficiente.

"Checar a carta, checar a carta, checar a carta, checar a... O chef comprou panelas novas?"

E naquele dia, durante a noite, percebi que havia esquecido de algo. O molho de atum.

Michelle chegou em casa tarde, ela me encontrou na cozinha bebendo chá.

-Camomila? -Perguntou enquanto chegava mais perto para sentir o cheiro.

-Na mosca- respondi- Apesar, amanhã não poderei te ajudar com as compras. Um crítico virá ao restaurante, então terei que trabalhar até mais tarde. Talvez o Nic possa te ajudar, ligue para ele!

-Você pode ligar para mim? Preciso urgentemente de uma ducha, estou fedendo a vodca. E antes que você pergunte, estou assim pois alguns russos foram no escritório fazer negócios, e eles levaram uma garrafa de uma bebida impronunciável e cheiro forte.

-Vou fingir que acredito! –Gritei quando ela começou a caminhar em direção ao banheiro. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para Nicolas, que me respondeu logo em seguida. Pontual como sempre.

"Nic, amanhã de tarde Michelle vai fazer nossas compras do mês no atacado aqui perto, o problema é que ela precisa de ajuda! Tem tanta coisa que ninguém nunca conseguiria trazer sozinho. Você pode ir com ela? "

"Claro que posso! Quando eu chegar do trabalho preciso passar num lugar, mas ela pode ir comigo. Avise ela que passo aí por volta das três, pode ser? "

"Aviso sim! Você é um anjo"

"Eu sei"

-Michelle! Nicolas irá com você amanhã! -Gritei tão alto que minha garganta falhou.

"Eu devia ter esperado ela sair do banheiro, agora minha garganta está arranhando! Mas tudo bem, eu sou esquecida. Aliás, eu esqueci de algo muito importante hoje, algo que eu devia fazer. Ah sim. O molho de atum. Droga, Sara! "

40 diasWhere stories live. Discover now