Nicolas

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Era ela, Sara

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Era ela, Sara. Eu nem acredito que ela realmente veio. E ela estava linda! A última vez que a vi, ela estava em prantos e não me queria deixar vir, eu sabia que aquilo doeria nela, mas meu coração partiu-se do mesmo modo. Ao lado dela, estava uma mulher que eu não conhecia ainda. Mas admito que ela me despertou o interesse.

-Princesa Sara- disse fazendo uma referência em frente a ela- E dama de companhia, mademoiselle...

-Michelle Hampton- completou completou a amiga devolvendo a reverência. Eu simplesmente adorei o fato de ela ter entrado na brincadeira comigo. Normalmente, as pessoas acabam não gostando, e eu acabo sendo repreendido, nem Sara gosta muito das brincadeiras ( normalmente é ela quem me repreende ). Mas dessa vez não! Acho que eu encontrei alguém igual a mim, finalmente.

- Bom, a dama de companhia necessita voltar ao castelo e arrumar as coisas. Princesa, quando acabar me envie um pombo e eu trago vossa carruagem.

-Fique, jante conosco, madame- disse eu, que inclinei e beijei sua mão.

Ela olhou para Sara, que respondeu:

-A princesa decreta que você jante conosco.

-Com um pedido desses, é impossível recusar- disse Michelle, que passou por trás de mim e entrou em minha casa.

Olhei para Sara, rindo com a atitude de Michelle, e ela, com lágrimas nos olhos me abraçou fortemente. Foi ótimo ela estar em meus braços novamente. Eu sentia tanto a falta dela. Todos os momentos em que estivemos juntos na infância voltaram a minha mente como um furacão, e o clima de melancolia instalaram-se no ar. Ficamos lá, nós dois, abraçados, juntos novamente. Uma sensação inexplicável. Dei um beijo no topo de sua cabeça e disse:

-Vamos entrar! Eu fiz uma macarronada especial para você.

Quando ela entrou em casa, ficou espantada. Todos diziam que minha casa era chique, mas eu nunca acreditei nelas. Eu tinha apenas um apartamento legal, limpinho, com móveis. Acho que ter móveis no apartamento é um bom sinal. Um pisinho de madeira, um sofá vermelho, uma mesa de madeira cerejeira e algumas estantes compõem minha sala e a copa. De verdade, isso é chique?

-Então, Nicolas. Conte mais sobre você- disse Michelle.

-Você é uma desconhecida e está jogada no sofá da minha casa sem nem saber meu sobrenome. Acho que eu preciso saber sobre você primeiro, não é? Vai que você é uma criminosa e eu não sei. - ela levantou o dedo com a intenção de se defender, mas desistiu.

-Touché- retorquiu Michelle.

-Ela não é nenhuma criminosa, Nic. Ela é minha melhor amiga, seu bobo.

Não contive minha risada com aquele comentário. Mas ao mesmo tempo em que eu achei graça, achei aquilo triste. Quero dizer, era óbvio que Sara conseguiu criar um laço com Michelle, elas vieram juntas. E era exatamente aquilo que me magoava. Vir para os Estados Unidos era um grande feito para Sara, e ela teve que enfrentar aquilo sozinha! Não sozinha, exatamente, mas sem mim. Ela teve sorte por ser ajudada. Mas me senti culpado por não tê-la ajudado, por não tê-la buscado no aeroporto e por não fazer uma celebração especial para sua chegada. Eu estava errado. E agora ela arrumou outra amiga. Não quero perdê-la, e não irei.

Sentei-me no sofá ao lado de Michelle e a encarei. Quem sabe ela ficaria incomodada e fosse embora. Assim, ficaríamos a sós. Então, ela percebeu, e me encarou de volta. E assim ficamos por um tempo, até que Sara se pronunciou:

-Nic, onde fica o banheiro? Vou lavar ás mãos e me preparar pra provar a sua macarronada especial.

-Segunda porta ao fim do corredor. Se o sabonete estiver acabado tem mais em baixo da pia, no armário- ela assentiu com a cabeça e entrou no lavatório. Ao ouvir o barulho da tranca, virei-me para falar com Michelle, que estava brincando com o zíper da jaqueta.

-Então Michelle, de onde você é?- ela bufou, olhou para mim e declarou:

-Nicolas, eu não estou aqui para tomar seu lugar. Ela é, e sempre será a sua amiga. Sua melhor amiga. Eu apenas a ajudei! Sei também que você queria um momento a sós com ela, mas me convidou por educação. E eu realmente me desculpo se estou atrapalhando. Mas eu não vou embora e deixá-la sozinha. Eu sei que é você, e que não tem problema. Mas de início, vou estar com ela em todos os lugares possíveis.

Ela, definitivamente, não era uma ameaça. Eu não ia poder estar com Sara em todos os momentos, então uma amiga seria legal. Ela estaria protegida em todos os lugares, e saber disso me tranquilizou muito.

-Então por que não está com ela no banheiro?- perguntei desdenhoso.

-Não, não -dizia ela enquanto colocava o indicador em minha boca em sinal para eu me calar- eu sou a engraçadinha. As piadas e ironias são comigo. Você cuida da parte de ser fofo tá?

-Mas eu queria ser engraçado.

-Você já é bonito, não precisa ser engraçado.

Eu a olhei nos olhos e comecei a rir. Rimos juntos por alguns segundos, mas fomos interrompidos por Sara, que havia saído do banheiro e estava secando as mãos na blusa.

-Vi que vocês se entenderam, hein. Meus dois melhores amigos agora são amigos. Isso é muito bom. Agora briguem para ver qual dos dois vai me servir, estou faminta.

-Vou deixar essa tarefa com o dono da casa- disse Michelle.

Arrumei a mesa, e coloquei os pratos e a panela no centro. Abri uma garrafa de vinho e enchi as três taças. Sentamos-nos, eu na ponta, Sara á direita e Michelle á esquerda. Propus um brinde:

-Vamos brindar á vinda de Sara, e a esse novo momento. E ás novas amizades, é claro.

Levantamos as taças e as batemos no alto. Aquele tin que a taça emitiu no ar, não foi apenas mais um brinde, mas sim, o início de uma nova jornada.

-Acho que vou amar morar aqui- disse Sara.

-Com certeza você irá- disse Michelle, que olhou para mim e piscou. Então pisquei de volta.

Sentamos-nos, e comemos em paz. Finalmente havíamos tido paz.

40 diasWhere stories live. Discover now