Sara

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Ela me levou em direção a um Range Rover Evoque preto, apertou o botão da chave e destravou o carro. Sentei-me no bando do carona e esperei ela dar a ignição. Saímos da garagem e fomos em direção à rua. Passei o endereço para Michelle: Upper East Side. Passamos por várias direitas, esquerdas, rotatórias e faróis. A cada fechada que levávamos Michelle colocava a cabeça para fora da janela e gritava algum xingamento para alguém.

-Somos nova iorquinos, o que podemos fazer? Somos escandalosos e apressados- dizia ela para se justificar.

Tentei manter-me focada no caminho, afinal, frequentaria bastante a casa de Nicolas, mas sempre que tentava focar-me em algum ponto de referência, meus devaneios levavam-me às memórias com Nicolas. Nossa história mais engraçada ocorreu no dia 21 de setembro de 2002. Porém, lembro-me como se fosse ontem. Eu estava na casa dele, como de costume, e comecei a sentir uma enorme dor em baixo da barriga, mas decidi ignorar, nada poderia estragar a minha brincadeira. Lembro-me de sentar na cama dele e ele continuar no chão. Quando éramos pequenos, eu era mais alta que ele, e ele pediu-me para pegar um carrinho que estava na prateleira. O carrinho estava ao meu alcance, mas não ao dele. Levantei-me e fui pegar o carrinho. Quando me virei, Nicolas estava com uma expressão horrorizada estampada no rosto. "O que aconteceu, Nicolas?" perguntava desesperada, "Você vai morrer, Sara!" dizia ele chorando, "Não vou, Nicolas, não vou! Por que acha que eu irei morrer?", a essa altura eu já estava chacoalhando-o loucamente, "Você está sangrando muito, Sara. Sua calça se manchou inteira! Vou chamar a minha mãe para te ajudar". E então ele corria desesperado pela casa a procura da mãe, e quando toquei minha calça, percebi o sangue, e então cai aos prantos, pensando que iria morrer também. E então, a mãe dele chegou e perguntou o que havia acontecido, Nicolas explicou toda a história para ela, e quando ela viu o sangramento, começou a rir. Ela explicou que eu havia menstruado, e ensinou-nos certinho o que a menstruação era. E então nos acalmamos, e eu roubei alguns absorventes dela.

-Sara, você é retardada?- perguntou Michelle, me interrompendo.

-Não, por quê?

-Você está rindo sozinha- disse ela franzindo o cenho.

-Não é nada, estava só lembrando da minha infância, dos momentos com o Nicolas. Estou morrendo de saudade dele, Chel.

-Chel? Novo apelido?- perguntou ela rindo.

-É sim. Você gostou?- perguntei erguendo uma sobrancelha e abrindo um sorriso quando ela respondeu: Não, mas tudo bem.

-Chegamos, sra. Desespero- disse ela parando o carro e saindo.

Saímos do carro e subimos em direção a casa dele. Meu coração estava a mil, saber que eu o veria novamente me deixava nervosa, mas ao mesmo tempo com uma felicidade que não cabia dentro de meu peito. Eu o veria. Eu veria o garoto que mudou minha vida. O meu irmão. O meu melhor amigo. E eu não via a hora disso.

Subimos até o terceiro andar, e aguardamos em frente á porta no fim do corredor. Bati três vezes na porta e dei um passo para trás. Escutei uma voz masculina que vinha de detrás das paredes dizendo "O que foi amor? Tem alguém na porta? Obrigada por me avisar, vou te levar até o quarto e a abro depois ok?".

Nicolas.

Era ele! Eu reconheceria aquela voz até em meio a um show de rock. Mas, amor? Ele estava com alguém? Ele estava namorando? Não, impossível. Ele estava apenas três meses a mais do que eu morando lá. Não se pode arranjar um "amor" nesse curto período de tempo, não é? Eu tentava me enganar, era possível ele ter arrumado alguém, isso não vai mudar o que ele sente por mim, não é? Ou mudaria? E se eu dissesse que eu também estava namorando? Assim, ficaríamos no mesmo nível! É isso! Genial. Mas e se ele estiver noivo? Eu não poso dizer que estou noiva sem um anel! Ai não. Eu estou desesperada. Meu coração está acelerado e minha mente está a mil. O que eu faço? Socorro.

-Você está surda, Sara?- disse Michelle no pé do meu ouvido, e eu neguei com a cabeça- Graças a Deus. Eu estou te chamando há um tempo, mas você simplesmente se desligou. O que aconteceu?

-Chel, e se ele estiver com alguém? Você sabe, em um relacionamento. O que eu vou fazer?

-Nada. A vida é dele, e ele pode muito bem ter encontrado a felicidade em alguém- disse ela afagando meu braço calmamente.

-E eu?- perguntei e tirei a mão dela de mim- Como eu fico nisso, hã? Ele vai me trocar, vai me esquecer, e eu ficarei sozinha em um lugar desconhecido!

-Você tem a mim, garota. Eu não te deixaria sozinha nessa cidade gigantesca. E ele nunca te trocaria. Sara, vocês são amigos há muito tempo. Ele ama você e não te deixaria por nada nesse mundo. Eu não o conheço, mas se você gosta tanto dele, ele com certeza não é qualquer um. E ele tem minha confiança. Se ele te magoar, eu simplesmente vou dar uma surra nele, está bem?- perguntou ela sorrindo, e eu concordei com a cabeça- Olha ele parece ser muito legal, e às vezes ele está falando, sei lá, com um bichinho de pelúcia, e não com uma pessoa real. Coloque os miolos ai dentro pra funcionar, garota- dizia Michelle enquanto bagunçava meus cabelos e depois os arrumavam- Você está mais calma agora?- respondi sim balançando a cabeça e sorrindo.

Ela realmente havia me ajudado, ela realmente era a minha amiga, e eu não a perderíamos por nada nesse mundo. Segurei suas mãos e disse:

-Chel, obrigada. De verdade. Você me ajudou demais. Não sei como teria sido minha chegada aqui sem você. Obrigada de verdade.

-Imagina, sem essa vai. Algo me dizia para te ajudar, eu só segui minha intuição. Que nunca falha por sinal. Você está melhor?

-Estou sim, obrigada.

-Então eu vou indo- disse ela arrumando a bolsa em seu ombro- Quando quiser me ligue que eu venho lhe buscar. Certo?

-Certo. Obrigada de novo.

Quando ela virou às costas, a porta se abriu, e ela voltou á posição anterior para ver quem havia aberto a porta. De lá, saiu um homem alto, ruivo, com uma franja bagunçada e molhada, e usava uma roupa amassada, sinal de que havia saído do banho há pouco. E um sorriso de conquistar qualquer garota, com lábios bem rosados e dentes brancos e retos. Ele tinha olhos azuis e sardas em baixo deles, e um formato de rosto quadrado, bem másculo. As mangas da blusa azul marinho estavam coladas em seus músculos.

-Nicolas, é você?- perguntei.        

40 diasWhere stories live. Discover now