Sara estava morando nos EUA, sua vida ia perfeitamente bem, com seus dois melhores amigos: Michelle e Nicolas. Mas uma carta a manda para o consulado e ela se vê numa enrascada: seu visto inspira em 40 dias. Ela teria que se casar para se manter no...
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Busquei Michelle pontualmente as três. Ela não estava na portaria. Ela não era pontual. Chegou cinco minutos mais tarde, com uma roupa larga e estampada, parecia um pijama.
-Está indo para uma festa do pijama, Michelle? E não me convidou?
-Você que está indo para um casamento, e não me levou. Olha esse terno! Engomadinho.
-Eu acabei de sair do trabalho, por isso estou assim.
-Mas eu também! - Respondeu ela em tom de indignação, mas logo começou a rir.
"Graças a Deus, ela não ficou brava! "
Liguei o carro e dei a partida, calmamente seguia o caminho para meu destino. Michelle não questionou aonde íamos, apenas seguimos nosso caminho cantando. Mas algo me pareceu estranho: ela me fitava em alguns momentos enquanto estávamos dirigindo. Mas eu sabia o motivo, meu barbeiro cortou meu cabelo errado. O pior é que ele ainda me disse que não dava para perceber.
-Chegamos- eu disse.
-Onde estamos?
-Consulado. Faltava um documento para a renovação do meu visto, vim trazê-lo hoje. Ele fica pronto daqui a uma semana mais ou menos, afinal, só faltava um comprovante de trabalho. Ou seja, Nicolas prossegue firme e forte na América! De nada USA!
Michelle riu, e então ficou séria em questão de segundos. Entreguei meus documentos e voltamos para o carro. Ela continuava lá, intacta, com as sobrancelhas franzidas.
Nenhuma palavra foi dita até chegarmos ao mercado. Estava cansado. Perguntei:
-Está tudo bem?
-Estou pensando. Eu posso estar errada, mas você e Sara tiraram o visto durante o mesmo período, certo?
Acenei com a cabeça, concordando.
-Então, por que está renovando? - Ela perguntou enquanto pegava uma caixa de cereal da prateleira a nossa esquerda.
-Ele está perto de expirar. Preciso renovar o visto as vezes para continuar vivendo aqui. Tenho pouco mais de um mês ainda, mas a empresa sempre enrola para fazer o comprovante de que ainda trabalho lá. - Respondi empurrando o carrinho.
-Então, a Sara precisa renovar o dela?
-Ela ainda não renovou?
-Não! Precisamos avisar ela urgente.
Me agitei e comecei a virar o carrinho para irmos ao caixa.
-Aonde vai? Vamos terminar as compras primeiro- ela chamou minha atenção. Aquele período em que fizemos compras, foram os minutos mais tensos da minha vida.
Meu coração estava acelerado, precisava chegar à casa dela. Precisava avisá-la. Perder o visto seria uma besteira enorme. Talvez ainda desse tempo.
-Não precisa acelerar tanto o carro, Nicolas! Qual a pressa? -Perguntou Michelle enquanto arrumava o cabelo, que agora, estava uma enorme bagunça.
-Precisamos falar com Sara. Avisar ela sobre o visto.
-Ela está trabalhando, vai ficar até tarde hoje. Nunca te vi tão preocupado. Relaxe, assim que ela chegar, cuidamos disso.
A voz de Michelle era calma. Calma. Algo que eu precisava naquele momento. Eu simplesmente não podia perder Sara, ela tinha que continuar aqui comigo, realizar nossos sonhos, realizar aquilo que planejamos por anos a fio. O que eu faria se ela fosse? Não sei. Michelle era maravilhosa, era linda, engraçada, uma amiga perfeita. Mas ela tinha um defeito: ela não era Sara, nunca iria repor ela.
Meus devaneios foram interrompidos, ela me pediu para irmos tomar um café numa cafeteria lá perto. A levei. Pedi um expresso curto e ela um cappuccino. Minha bebida estava ficando fria, a colher nem saíra do lugar o qual o garçom a havia deixado.
-Já te disse para não se preocupar com ela. Estou ficando irritada já. Nós quase não saímos juntos, sempre que saímos Sara está no meio ou falamos única e exclusivamente sobre ela! Entendo que ela é sua melhor amiga do universo, mas eu também quero ser a sua melhor amiga e você me fecha! Parece que há uma barreira entre nós! -Michelle dizia com uma voz pesada, como se houvesse acabado de receber um soco no estômago.
-Você também é a minha melhor amiga do universo Chel, é tão importante para mim quanto Sara é- eu dizia enquanto pegava nas mãos dela.
-Não parece. Nic, amizades não tem a ver com o tempo em que se conhecem, mas sim com a disposição, a confiança que um passa para o outro. Eu não entendo! Fiz algo de errado? Foi por causa que no dia em que nos conhecemos eu deitei no seu sofá? -Ela estava ficando agitada. Ela queria respostas, e eu não sabia se poderia responder as perguntas dela.
-Claro que não! Mas, com Sara é diferente. São situações totalmente distintas, entenda isso.
-Eu tento! Mas não vejo diferença entre o tamanho da consideração que eu e ela temos por você! Mas o tamanho da consideração que você tem por ela, e a que você tem por mim, são tão diferentes quanto um pinscher e um husky siberiano. A menos que...- a voz dela diminuiu. Os olhos azuis dela se arregalaram em minha direção. Suas mãos, soltaram as minhas e foram em direção á sua boca. Eu estava tenso. Meu corpo estava duro como uma rocha milenar.
-Eu não estou te entendendo Michelle. Eu amo ter a amizade das duas. Sara cresceu comigo, éramos vizinhos, nossas mães eram melhores amigas, passamos por tudo juntos! Dos piores
até os melhores momentos de nossas vidas. E esse momento que estamos tendo agora, o de realizar um sonho, é definitivamente o melhor! Consegue entender?
Michelle abaixou os olhos. Suas palavras não saiam de sua boca. Ela balbuciou algo algumas vezes. Seus cabelos vermelhos escuro caiam sobre seu rosto. Ela levantou as mãos, tirou as mechas do rosto e me fitou por alguns segundos. Então ela me perguntou:
