Capítulo I

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Um uivo cortou a escuridão. Yami olhou para o céu, a lua cheia se destacava no azul profundo, sendo coberta de vez em vez por nuvens acinzentadas. Eles chegariam em breve. Um calafrio percorreu seu corpo, sentia-se tensa, com uma mistura de emoções apreensão, ansiedade até mesmo medo.

O barulho do salto contra a madeira foi o único indício da presença de mais alguém. Yami sabia que a outra fazia o barulho de propósito, pois, caso quisesse, poderia ser silenciosa e majestosa como um gato, com um movimento ágil poderia atacar e matar e ninguém a veria. Ela não se virou, mas ouviu o barulho de um isqueiro sendo aceso e logo o cheiro adocicado do cigarro chegou a suas narinas.

-Achei que você tinha parado de fumar, Naty.

A outra se aproximou com um meio sorriso nos lábios vermelhos, duas presas afiadas se destacavam entre os dentes brancos. Yami sempre admirava a beleza dela, talvez tivesse algo a ver com o charme natural dos vampiros, mas não podia negar como ela era bonita. Os longos cabelos negros estavam presos em um rabo de cavalo que deixava solto apenas a franja que realçava ainda mais a pele alva.

-Não é como se eu fosse desenvolver um câncer de pulmão. -satirizou, se posicionando no parapeito da janela ao lado da jovem. -Você está tensa.

-É a primeira vez que irei participar oficialmente de uma reunião. E se eu fizer algo errado?

-Aí a anciã corta sua garganta, não é nada demais.

Yami a encarou sem esconder a expressão de terror.

-Hahaha, relaxa! Nada tão pesado irá acontecer... eu espero. – Naty olhou para a floresta escura que se estendia ao redor da casa, soltando a fumaça lentamente. Mesmo que fumar fosse um gesto insignificante, ela dizia que era uma boa forma de relaxar e passar o tempo. Ainda mais quando se era praticamente imortal, a vida começa a ficar entediante. -Eles são uns babacas, sabia? Esses transmorfos. Se acham superiores aos vampiros, mas esquecem que viemos primeiro. Somos mais fortes.

-É uma questão de adaptação. -disse Yami mais para si mesmo.

-O que?!

-Uma questão de adaptação. -repetiu. -Na natureza, a sobrevivência não tem a ver com quem é mais forte e sim quem é capaz de mudar, se adaptar.

A vampira soltou uma risada zombeteira.

-Percebe-se que nunca esteve em uma luta de verdade. -ela se aproximou, os olhos levemente puxados eram negros e penetrantes. -Em uma luta, além da inteligência, o que conta é a rapidez, agilidade, força e determinação de fazer o que for possível para vencer. Matar, rasgar, cortar... Tudo se transforma em um lindo mar vermelho. Os gritos de agonia são melodias para nossos ouvidos.

Yami engoliu em seco, não gostava daquele lado sombrio da outra. Ela tinha sede de sangue, como os antigos líderes. E isso podia ser um grande problema no futuro, já que a garota era uma das prováveis herdeiras da família.

-Por que já está perturbando-a, Naty? - indagou uma morena de longos cabelos pretos que surgiu de repente. Mesmo depois de anos aquilo ainda perturbava Yami, como podiam ser tão silenciosos? Mikaely não estava sorrindo dessa vez, o que claramente era um sinal de que algo estava errado, a garota nunca parava de sorrir. Talvez ela fosse a mais humana ali. Conseguia facilmente esconder suas presas e se passar por uma adolescente normal. Ninguém questionaria sua identidade, ninguém resistiria a seu charme. Por isso Yami a considerava uma das mais perigosas dali, ela era boazinha demais, perfeita demais, e essa era sua melhor arma.

Naty se recompôs terminando o cigarro e o depositando em um cinzeiro. Parecia incomodada com a interrupção.

-Eu só estava relembrando a ela nossa essência.

Quando a noite clamar por sangueWhere stories live. Discover now