Capítulo 1º

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CAPÍTULO 1º

O Despertar.

Prólogo

Ele acorda, olha para os lados e nada reconhece. Paredes sujas o cercam, algo pinica seu corpo e o odor do ambiente é fétido. Seus ossos e cabeça doem, e ele mal consegue se mexer, mas esforça-se assim mesmo, pois a náusea é mais forte que a dor. Sabe que, se continuar deitado, muito provavelmente vomitará. Assim que se senta, luta entre controlar a dor e recobrar os pensamentos, mas a náusea não o abandona. Sem muito pensar, ele corre em direção à primeira porta que vê e a abre, agradecendo mentalmente ao encontrar o vaso sanitário, onde se debruça e despeja tudo aquilo que nem lembrava que havia ingerido.

Após longos minutos, que mais parecem horas, não havendo mais o que colocar para fora, encosta-se no azulejo frio e desce até o chão, tentando controlar a dor latejante em sua cabeça. Nervoso, esfrega o rosto; precisa se lembrar de como foi parar ali. Então sente algo viscoso na testa, constatando que precisa de um banho, mas, quando olha para a mão, o pânico se instala. Ela está banhada em sangue.

Ele quer gritar, chorar, fugir dali. No entanto sente que a consciência está por um fio, então invoca seu refúgio mental e, de alguma forma, tudo o que sente parece sumir, suas pálpebras pesam; seus olhos nada mais veem.

***

Dias depois...

Frio é a primeira coisa que sente. Muito frio. Tanto que seus pés parecem estar congelados. A vontade de urinar também é grande, mas, de alguma forma, parece aliviar quase que instantaneamente. Então ele sente um ardor em seu membro e tenta tocá-lo. Antes que consiga o intento, seu braço é puxado e a dor o desperta. Ai!

A luz é forte, muito forte, e o obriga a apertar os olhos com força algumas vezes. O que antes era um borrão, começa a tomar forma, até que sua visão se adapta ao ambiente. Sua atenção se volta para as paredes brancas ao redor, e logo recai sobre um dos pulsos, esclarecendo a causa da dor que ele sentiu há pouco. Seus pulsos e dedos estão ligados por agulhas e pegadores de metal, ao soro e algo que parece um medidor de batimentos cardíacos. Então é daí que vem esse barulho ensurdecedor. Sem dúvida está em um hospital, constata. Mas... como vim parar aqui? Então vê que não está só.

— Ei! Quem é você? — pergunta ao desconhecido, que dorme na poltrona ao lado.

— Luca! — desperta o desconhecido, um tanto assustado. — Finalmente você acordou. — Levanta-se, aproximando-se da cama, com o semblante nitidamente aliviado. — Você deu um baita susto na gente, cara! O que aconteceu contigo? Em que merda se meteu para tentarem abrir a tua cabeça em duas?

— Minha cabeça? — Franze o cenho e começa a se lembrar do sangue nas mãos, da dor, do vômito. — A última coisa de que me lembro é de ter vomitado em um banheiro.

— Você foi encontrado por uma camareira, desfalecido no chão do banheiro de uma pocilga. Sei disso porque fui ao local tentar obter mais informações, já que você não estava em condições de falar, e quase não acreditei que ali pudesse mesmo haver uma camareira. O lugar é um verdadeiro pulgueiro, Luca! Como você foi parar ali, cara?

— Quem é você? É da polícia?

— Polícia, eu? — Gargalha. — Luca, você viajando. Acho que colocaram alguma daquelas paradas que você costuma usar nesse soro.

Paradas? — Franze o cenho. — Que paradas?

— Ah, cara, ansiolíticos, anfetaminas, erva... essas paradas que você toma diariamente.

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