Capítulo 2º
A realidade
— Ah, querido! Fiquei tão mal quando soube. Estou há dias sem dormir, preocupada com você. Olha só o estado das minhas olheiras. — Aproxima-se a loira exuberante, apontando o próprio rosto.
Ela tem a pele tão viçosa que mais parece ter vindo de um SPA. Lucas se pergunta como pode uma pessoa ter uma aparência assim, estando sem dormir há dias. A mulher é tão bonita, que ele não consegue sequer imaginar como ela poderia ficar melhor.
— Então você é a minha esposa? — pergunta, ainda duvidando que tenha se casado com uma mulher como ela. A garota exala luxuosidade. Nunca se imaginou casando com alguém assim; não por não achá-la atraente, pois isso é incontestável. Ela parece uma top model, mas beleza, para Lucas, vai além da aparência física, e a garota a sua frente não parece ter as características de personalidade que ele preza. À primeira vista, parece-lhe fútil; algo nela, ele não sabe explicar o quê, incomoda-o. É como se a amabilidade dela fosse falsa. Bom, melhor não tirar conclusões precipitadas, afinal de contas, se me casei, é porque devo nutrir algum sentimento forte por essa mulher.
— Sou o amor da sua vida — diz ela, tocando a face de Lucas. — O que mais disseram sobre sua situação? Terá que operar? O médico que me ligou disse que você está um pouco confuso e não se lembra de muita coisa.
— Estou com amnésia e não consigo me lembrar de absolutamente nada que aconteceu comigo nos últimos anos.
— É permanente?
Lucas nota que o timbre de voz dela é preocupado, mas não vê tristeza em seus olhos. Muito pelo contrário. Parecem estar em expectativa.
— O médico disse há chances.
— Quanto de chance? — pergunta, demonstrando certa ansiedade.
— Mínima — responde, olhando-a nos olhos. Lucas é muito bom em ler pessoas e esperava que sua esposa demonstrasse o mínimo de preocupação, mas o que enxerga no rosto dela se parece muito mais com decepção, e isso o deixa um pouco intrigado. — Geralmente a memória volta em horas ou dias, mas também pode demorar meses e até anos.
— Ah, meu amor! — Aproxima o rosto do dele e o beija rapidamente, pegando-o de surpresa. — Que chato isso.
— Chato? — questiona-a, franzindo o cenho. Não sentiu absolutamente nada, quando os lábios dela encostaram-se nos seus, e isso é no mínimo estranho. Tão diferente de quando... represa os pensamentos.
— Eu quis dizer triste — corrige-se a loira, notando o semblante cismado do marido.
— Como se chama?
— Nem do meu nome se lembra?
— Não. — Solta o ar longamente. — Minha última memória é de quando eu estava em turnê pelo interior do Nordeste, aos vinte e dois anos.
— O que você faria em uma turnê pelo interior do Nordeste? — pergunta a Loira, um tanto enojada.
— Além de eu ser nordestino? — responde, um tanto irritado, pois não gostou da cara enjoada que a "esposa" fez ao referir-se a sua terra natal. — O Nordeste é como se fosse a casa de um cantor de forró, que é o que eu sou.
— Você, cantor de forró? — Ela tem um ataque de riso tão grande, que chega a se contorcer, perdendo a compostura. E é acompanhada por Xandão, que também não consegue se conter.
— Qual é a graça? — fala Lucas, ríspido.
— Você não é cantor de forró, querido.
— Não? — pergunta, assustado, e desvia o olhar para Xandão em busca de explicação.
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DESPERTAR
RomanceEle acorda, olha para os lados e nada reconhece. Paredes sujas o cercam, algo pinica seu corpo e o odor do ambiente é fétido. Seus ossos e cabeça doem, e ele mal consegue se mexer, mas esforça-se assim mesmo, pois a náusea é mais forte que a dor. Sa...