Capítulo.4

22 7 0
                                    

22:30h

23 de Agosto de 2017 

O belo rapaz olhava através da sua janela. Faltavam exatamente 1 hora e 30 minutos para completar 17 anos neste planeta inútil que apenas servia de expectador para a sua dor e ele não conseguia dormir.

Ele sabia o que iria acontecer.

Demónios! Ele não estava pronto ainda.

Mas o tempo não espera nem para, apenas avança e quando olhou de novo para o grande relógio de bronze que dava o charme merecido á parede pálida do seu quarto , reparou que faltavam apenas 84 minutos.

17 anos!

Porquê aos 17? Porque tudo seria tão rápido na sua vida?

A sua vida era tão confusa, tão dolorosa... Porquê a mim? Eu era tão inocente na altura! Como seria se nada disto ocorresse, será que seria alguém normal? Alguém que pudesse sentir, ser amado e retribuir com amor? 

Inconscientemente o seu pensamento foi a ela. O seu anjo.

Tão inocente mas tão corajosa.

Tão doce mas tão sincera.

Tão linda mas tão distante.

Esta era ela. Sempre assim o fora mesmo quando Dominic lhe arrancou a inocência e a colocou num mundo obscuro onde não existem os seus contos de fadas .

Ele sempre a admirou, mas em segredo. Nem nunca comentou com ninguém sobre ela, mesmo muitos sabendo da sua relação embora não fosse muito pública. Ele apenas a tratava como outra qualquer  e talvez com o tempo se tenha habituado de mais àquela ideia.

79 minutos.

Dominic volta a olhar para a lua. Aquela esfera magnifica que era capaz de iluminar a escuridão. Esta sim era a rainha da noite.

78 minutos.

Dominic dá um suspiro frustrado e resolve deitar-se um pouco. Ele atravessa o quarto na escuridão mas ,ao aproximar-se  da cama, pisa algo que se encontrava embrulhado no seu tapete. Sem dar muita importância , Dominic abaixa-se e pega no objeto.

Era uma pulseira.

Não uma simples pulseira.

Era a pulseira.

Quando Kiara se mudara para Steplond, eles costumavam se encontrar ás escondidas na sua casa na árvore. E num dia que a sua mãe tivera mais um de seus ataques, Dominic subiu para a pequena casinha e sentou-se encostado á parede e com as mãos nas pernas, tentando se proteger. Ele lembra-se que se sentia perdido, sem ar para respirar. 

Ela era a sua mãe.

Tinha que o proteger.

Mas só piorava, mais e mais. Ele não aguentava mais. Mesmo não podendo chorar por proibição dele, Dominic sentiu os olhos ficarem húmidos mas ele limpou rapidamente as lágrimas.

Ele sabia que se o fizesse depois seria pior e ele já estava mal o bastante. 

O seu corpo pequeno balançava de um lado para o outro e o seu corpo sentia frio por culpa do vento forte que entrava pela porta e pela janelinha que apenas continha uma cortina para o proteger.

Ele ali ficou por um tempo. Observava o teto, as cortinas a balançarem com o vento e sem saber quando e como, acabou por adormecer.

E o seu corpo ali ficou. Encostado na parede, com as mãos caídas no chão e com o pescoço um pouco torto. Era uma posição deveras desconfortável mas ele nem chegou a acordar para se aperceber. 

O resto da tarde assim se passou, enquanto sua mãe gritava descontroladamente dentro de casa, Dominic dormiu bem aproveitando sonho que esperava á eternidades .

No entanto, acordou com algo suave lhe acariciando a cara.

Ele é tão lindo!Pensou Kiara. Porque não poderia ser dela?

Para não mostrar fraqueza, Dominic continuou fingindo que estava a dormir, mas no entanto apreciava cada carícia recebida.

Porque esta era uma das únicas vezes que se sentira amado na sua vida, porque era uma das poucas vezes que tinha estado com ela. 

Estar com ela significava poder respirar sem ser algo pesado e insuportável. 

Estar com ela era transformar um pesadelo em sonho.

 Estar com ela era poder escutar os acelerados batimentos de seu obscuro coração calmamente mas loucamente.

 Ali poderia ser ele próprio, o problema era que ele já não fazia ideia de quem era.

Assim,continuou de olhos fechando por um bom tempo tentando entender porque aquela baixinha o afetava tanto.

Passado um longo tempo, Kiara suspirou e retirou a mão de seus cabelos. Dominic não gostou. Ele queria continuar a sentir aquele toque que o desconcertava, mas mesmo assim não fez nada.

Poderia abrir os olhos de uma vez e falar-lhe o quão bonitinha ela era. Depois, lhe daria a flor mais bela que encontra-se e assim poderia lhe dar um beijinho na cara.

Mas ele não o fez.

Apenas ficou deitado ouvindo Kiara se levantar. A menina pegou algo e em passos lentos se direcionou a ele e, quando se encontrava em frente da janelinha e em frente dele, ajuelhou-se e prontificou-se rapidamente a colocar-lhe algo no braço.

Dominic não consiguiu de imediato perceber o que era já que se encontrava de olhos fechados, mas depois veio a concluir que deveria ser alguma pulseira que lhe rodeava o pulso. A verdade é que Kiara ouvira um pouco dos gritos da mãe de Dominic e também o vira a entrar na sua casinha, logo ela sentiu-se quase na obrigação de o ir animar, mas como ele dormia Kiara decidiu que queria deixar algo dela ali. Algo que ela não fazia ideia e então foi ai que surgiu a ideia da linda pulseira.

-Sei que não me podes ouvir já que estás viajando no teu mundo dos sonhos, mas eu queria-te dar esta pulseira , porque...- a menina corou e deu uma rápida olhada pela janela e ali viu o seu pai a procurando. Ela tinha que se apressar.- Bom, ainda não sei porquê- retomou- mas talvez seja porque ela é importante para mim e você...também é importante para mim.-Kiara acabou dando um sorrisinho de lado fofo, mostrando as suas covinhas. E decidiu se levantar dando antes uma última olhada para Dominic .Ainda bem que ele dormia, pensava ela, se não eu nunca teria sido capaz de admitir que ele é sim importante para mim em voz alta.Antes de sair, dá uma última olhada pela janela á procura do pai e rezando para que ninguém a visse sair da casa da árvore e como ninguém foi detetado Kiara decide sair.

Enquanto isso Dominic já tinha aberto os olhos e admirando Kiara a olhar pela janela. Os seus cabelos meio loiros reluziam e ele sentia-se hipnotizado por aquela deusa.

No entanto, quando esta se fora embora, Dominic sente um vazio na sua alma. E instintivamente aperta a sua pulseirinha.

Ele ainda não se tinha lembrado desta, mas ao reparar notou que era uma pulseirinha bem fofa. Era branca e preta e tinha um pingente de um anjo.

Dominic deu um belo sorriso  e nunca mais a soltou. Usava-a sempre. E quando lhe perguntavam onde a tinha arranjado ele apenas dizia que fora um anjo que a entregara.

Kiara sorria feliz ao ouvi-lo dizer estas palavras.

Mas... durante um de seus pesadelos de tortura acabou perdendo a sua pulseira quando a arrancaram do pulso. Segundo a voz horripilante, coisinhas bonitinhas não foram feitas para demónios.














A Força do PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora