CAPÍTULO 02

606 48 3
                                    


Na sexta - feira de manhã, Maria examinou atentamente o guarda roupa, imaginando que cada peça produziria em Estêvão.
Como nao poderia esperar nenhum sentimento mais profundo e delicado, ela precisava de proteção. E o melhor modo de proteger-se era vestir -se com ousadia, provocando o desejo carnal e o desprezo daquele homem.

Maria sabia muito bem que ele nao tocaria alguém que desprezasse. Assim ela estaria a salvo.

Um vestido azul turquesa  chamou -lhe atenção, o vestido caía-lhe como uma luva.  Na parte de cima, a aderência ao corpo evocava, antes uma sutil promessa, em vez de uma aberta provocação.
Sutil ?? Não havia nada de sutil naquele vestido curtíssimo expondo as belas coxas e pernas. Uma vez usou ele no clube e sua foto saiu em todas as colunas sociais. Tinha certeza que Estevão tinha visto. Nada a fazia sentir -se melhor do que saber que poderia ter abalado o equilíbrio de San Roman.
Nao era uma questão de vingança por uma mulher desprezada Era uma questão de justiça. Estevão tinha que ser punido pelo que aconteceu no passado.

A imagem de sua filhinha veio -lhe à mente, mas Maria a  afastou. Estava treinada para nao pensar mais nisso. Tinha feito de tudo na tentativa de encontrá-la. Por fin havia desistido. Era matar -se, enlouquecer e tudo culpa de Estevão.

A decisão de deixar o passado para trás e prosseguir vivendo tinha sido corajosa. Isso não queria dizer que não sofrera mais, nem que conseguisse evitar tais lembranças. Essa era a segunda recaida. A primeira foi quando viu a maldita pedra preciosa.
Maria estremeceu, mas logo se recompos,  usando toda sua força de vontade para retirar do rosto a expressão de angústia. Seus olhos de tigresa  agora refletiam um brilho gelado capaz de aterrorizar qualquer inimigo. E, ultimamente, Maria tinha un único inimigo: Estevão San Roman.

Se usasse as sandálias de salto sete meio, pensou ela, poderia ficar com ele ombro a ombro.

Bem nem tanto, admitiu. Estevão era alto. Como se não bastasse, tinha ombros largos e pernas de fazer inveja a qualquer jogador de futebol. Acrescente-se a isso um rosto lindo, um olhar sedutor . Chegava ser injusto que houvesse um homem tão atraente.

Maria suspirou, seu corpo e coração faziam-na recordar coisas que ela queria esquecer: Estevão a beija-la na empresa , quando ela tinha dezessete anos; Estevão a fazer amor com ela pela ultima vez  sobre a mesa do escritório ....

Maria fechou os olhos, detestando a onda de calor que invadia seu corpo, mas arregalou -os ao sentir que os seios endureciam.

Furiosa com a falta de autocontrole, jogou o vestido sobre a cama e correu para o banheiro.

A excitação logo deu lugar a emoções mais satisfatórias. Um sorriso de malícia  saiu de sua boca. Hoje ela faria Estevão contorcer -se na cadeira. Era o mínimo que podia fazer por si própria e por seus malditos desejos.

>>>>>>>>> Horas depois

A determinação de Maria durou até o momento em que o táxi parou em frente ao palácio de justiça e ela viu Estevão caminhar em sua direção. Seu estômago contraiu-se ; desânimo e irritação juntaram-se para estragar o plano de mostrar-se impiedosamente sedutora e indiferente.

" O que está acontecendo ?", perguntou a si mesma. Tratava de Estevão, o homem que quase a destruira, não devia sentir- se abalada sexualmente por ele.

Entregou uma nota ao taxista e começou a sair do carro no momento que Estevão passava a seu lado. Ambos trocaram olhares, a porta se abriu, deixando as pernas de Maria expostas ao sol da primavera.

Quase parando, Estevão percorreu com seus olhos bonitos o corpo de Maria, atento a todos os detalhes que ela quisera exibir.

Tal reação restabeleceu a confiança de Maria, que se levantou, esticando o corpo  com graça de uma gata siamesa.

CORAÇAO DE FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora