5. Lenço Umedecido

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Deixei que a claridade, agora presente, me forçasse a abrir os olhos. Eu havia dormido demais? Espreguicei-me e passei os braços pela enorme cama notando-a vazia, porém o local ainda parecia quente. Então eu me lembrei: Chanyeol havia dormido ali. Olhei em volta, mas tudo o que eu vi foi a calça cinza emprestada anteriormente dobrada simetricamente sobre a cama.

Levantei com dificuldade me sentindo uma tartaruga que não consegue se desvirar por causa do casco. No meu caso, o "casco" era a criança espoleta que se formava em meu ventre.

- Bom dia, meu amor. - conversei com a minha barriga assim como todas as manhãs. - Papai está morrendo de fome. Você também está, não é? - acariciava-a enquanto caminhava até o closet.

Peguei uma camiseta em um tom de rosa clara bem larga e coloquei um short preto. Ele era um pouco curto, mas era uma das únicas peças que não apertavam a minha barriga e que servia em mim. A cada dia que se passava tudo se tornava ainda mais complicado. Esse último mês até Taehyung nascer estava sendo o mais doloroso. Eu estava cogitando fortemente em chamar minha mãe, mesmo que a senhora me repudiasse.

- Talvez se o Hannie não estivesse grávido... - pensei alto. Poderia pedir ajuda ao Do, mas ele mal sabia cuidar de si mesmo, quem dirá me ajudar com a casa e os afazeres domésticos. Suspirei alto, sentindo vontade de chorar. Malditos hormônios.

Deixei isso de lado e me recompus. Fui até minha cama e arrumei o lençol, parando subitamente ao sentir minha barriga doer. Eu realmente deveria parar de fazer esforço, já que tentar levantar a ponta daquele colchão pesado para colocar aquele terrível lençol de elástico custou todo o meu bom humor matinal por conta da dor incômoda.

- Ai...- sentei na cama, choramingando.

- Está tudo bem? Está com dor? - saltei, colocando a mão no peito.

- Chanyeol! - me virei com a carranca raivosa. - Vou perder meu bebê se continuar a me assustar assim! Aish. - o garoto me encarou de forma culpada e eu fui obrigado a rir de sua cara. - Eu estou brincando. Estou no oitavo mês, não tenho mais como perdê-lo. A única coisa que pode acontecer é ele querer vir mais cedo. - sua face se normalizou e ele se aproximou.

- Desculpe. Eu achei que estivesse passando mal. - se sentou ao meu lado. - Luhan e Sehun já se foram, Jongin e Kyungsoo também, mas disseram que depois te ligam.

- Aqueles bastardos... Você viu que consideração eles têm comigo? É absurdo, Chan! Já não se fazem mais dongsaengs e nem hyungs como antigamente... Ingratos! - desabafei emburrado. Chanyeol se pôs a rir.

- Esses hormônios... - negou com a cabeça. - Eu já vou indo também, mas deixei um café da manhã na mesa para você e Tae. - voltou sua atenção para a minha barriga, acariciando-a brevemente. Fez uma pequena festa ali conversando com o bebê (que passou a se contorcer dentro de mim), para então me encarar com um sorriso pequeno. - Bem, muito obrigado pela hospitalidade, foi muito bom. - ele voltou sua atenção para o meu ventre. - Obrigado por me deixar conhecer esse campeão que está para nascer. - sorriu divertido, se levantou e passou a andar em direção à porta.

- Espera, eu te levo até a porta. - me levantei, colocando uma mão na base de minhas costas e indo até si. - Obrigado por toda a ajuda. No final das contas você é um cara legal. - sorri segurando a mão que o mais novo estendia para mim, me agarrando ao seu braço. - Minhas costas estão me matando. Desculpe te incomodar até para isso. - apontei para as escadas.

- Não se preocupe.

E ao final do pequeno lance de degraus, eu pude ver a mesa repleta de comida. Olhei para Chanyeol ainda com o braço envolta do seu enquanto ele caminhava até a porta de entrada. Parei subitamente, o forçando a parar também.

- Não quer ficar mais um pouco? - lhe sorri com um biquinho se formando no final. Ele parecia pensar sobre. - Eu e Tae não vamos conseguir comer tudo sozinhos. Coma conosco, Chan. - ele riu soprado, assentindo com a cabeça.

Então nos colocamos a caminhar em direção a mesa.

Conversávamos sobre os mais variados assuntos. E sem querer, deixei escapar as dificuldades que eu estava sofrendo por não conseguir cuidar do meu apartamento devido às dores que eu sentia sempre que tentava algo mais pesado. Tive de explicar a relação conturbada que eu tinha com a minha mãe e que somente o meu pai aceitava o fato de eu ser um grávido solteiro. Porém ele não pediu que eu me aprofundasse ainda mais nesse assunto. Chanyeol respeitava meu espaço de forma inacreditável.

***

- Você vai realmente ficar bem sozinho? - ele me encarava com o cenho franzido. Eu estava pronto para dizer que sim, ficaria, mas algo me fez travar. - Quer ajuda? - ele buscava meu olhar, que até então estava cabisbaixo. O encarei mordendo o lábio.

- Luhan está ocupado demais com a própria gravidez e Kyungsoo ainda é praticamente um bebê... - comecei logo suspirando. - Eu sei que acabamos de nos acertar e eu não deveria abusar da sua boa vontade dessa forma. - segurei minha barriga, fazendo um breve carinho ali. - Mas, não. Não vou ficar bem aqui sozinho. Eu preciso sim de ajuda. - desviei o olhar do de Chanyeol. Era terrível admitir isso para mim mesmo. Logo eu, que era tão autossuficiente.

- Então eu ficarei aqui se me permitir. - ele segurou meu queixo o elevando. Senti meu coração falhar uma batida. - Te ajudarei nessa reta final.

Então com um obrigado seguido de um sorriso por minha parte, Chanyeol se foi, prometendo voltar em breve com algumas roupas e muita disposição para aturar um grávido de 31 semanas com os nervos à flor da pele.

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