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Maya seguiu pelos corredores daquele shopping, olhando atentamente cada detalhe. Os corredores eram espaçosos e com um ar um tanto deprimente, o piso, que um dia já foi branco, agora estava de um tom amarelo mostarda, todo arranhado. As lojas se limitavam em cores escuras e nem um pouco chamativas, manequins vestidos com roupas da era vitoriana, na maioria das vezes, estavam com alguma coisa faltando. Em cada canto com um lugarzinho disponível, tinha uma planta (99% estavam mortas), que ao invés de dar mais vida ao lugar, só demonstrava o desespero de seja-lá-quem-teve-a-terrível-ideia-de-colocar-plantas-mortas-como-decoração.

Depois de muito explorar, a atenção de Maya foi focada em uma loja, a mais medíocre do shopping. Parecia que ninguém entrava ali a séculos. As vitrines quebradas estavam tapadas por tábuas podres, o local onde deveria haver uma porta tinha apenas um pano segurado por fita adesiva e cola super bonde, no letreiro estava escrito !$-!-!% %-!$-²)-!*-% ²)-*-!#-% ² , algo que Maya imaginou ser pura idiotice, nada relevante. Nas paredes, tinham várias pichações escritas coisas escrotas como "não sou privada para ter que aparar merda" e "Foudasse os pacifistas", a pintura era uma coisa inexistente ali, apenas o reboco, o que fazia parecer que ainda estava em construção. Para muitos aquele seria o pior lugar do shopping e que, certamente, não passariam, nem sonhando, dos limites que aquele pano colocava sobre a construção. Mas Maya, não é um ser humano provido de muita noção, então, como se fosse a coisa mais normal do mundo, ela resolveu examinar um pouco mais aquela loja. Afinal, qual seria o perigo em entrar ali?

- Por favorzinho, que não tenha muitas baratas aí.- Sussurrava enquanto entrava naquela loja misteriosa.

Fedorento e assustador, as palavras que descreviam perfeitamente o interior daquele lugar. O piso era de madeira e a cada passo que Maya dava, um rangido ecoava. Quando passou pela cortina, ela se encontrou em uma sala grande e cheia de móveis quebrados e cadeiras sem pernas, comida estragada e mini bonecos de padeiros em um balcão de frente para "porta", no centro, um mesa com um papel em cima escrito "#-!%-!*-!*-%-$-!%-!* %-!$-²)-!*-%-&-!-!(". No canto esquerdo da sala, bem escondido, tinha um corredor minúsculo, quase imperceptível. Bom, quase. Por um momento, Maya pensou em dar meia volta e sair daquele lugar horrível. Bom, por um momento. A curiosidade era maior do que tudo naquele instante, ela tinha que fazer isso.

Foi andando até o corredor a passos de tartaruga, coração disparado. De alguma forma, ela sabia que ia se arrepender daquilo, mas não deu muita atenção aos seus instintos. O corredor era grande e escuro, iluminado apenas por um lâmpada que já estava nos seus últimos dias de utilidade. Apesar do breu, uma porta extremamente branca e limpa emanava puro luxo no final do corredor. Como se fosse puxada por um linha invisível, Maya foi em direção a porta, os olhos fixos no olho-mágico que ficava no centro de toda aquela branquidão.

- Que isso não dê merda, amém.- Falava Maya enquanto girava a maçaneta de ouro, ouviu alguns ruídos mínimos no outro lado, mas ainda assim, empurrou a porta, tomando um susto com o que encontrou.

Um homem muito alto estava apoiado a parede de frente a porta branca, segurando uma garrafa de uísque barato em uma mão e um plástico com alguma coisa dentro na outra. Usava uma blusa marrom manchada de tinta vermelha, uma calça folgada e um boné azul escuro também sujo de tinta vermelha que encobria metade do seu rosto. A barba longa, estava suja de baba misturado com um catarro esverdeado nojento que fez Maya ter ânsia de vômito. Ela tentou se aproximar do homem para verificar se ele estava vivo, quando a porta fechou.

- Puta que pariu.- Disse Maya se impressionando com o que falou logo depois, ela odiava xingar.

Começou a bater na porta sem se preocupar com o fato do homem babado acordar. Não adiantava, ela estava presa em uma loja ao pedaços em um shopping decadente trancada em uma sala junto com um homem bêbado e babado. E como se isso não fosse o suficiente, uma voz ecoou de uma caixa de som no canto da parede do outro lado da sala.

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