-"S-sim, Pati, pode me falar".
-"Não sei se você havia percebido, mas...".
-"...".
-"Faz tempo que eu... Faz tempo que eu estou sentindo algo, muito estranho".
-"E você saberia me dizer o que é?".
-"É totalmente inexplicável".
-"Algo perturbador?".
-"Muito pelo contrário... Ou é... Não sei".
-"Estranho... Mas devo compreender".
-"Sério?!".
-"Seria como um 'All In'? Em que você aposta todas as fichas em algo, se tudo vai bem, é a melhor coisa do mundo, mas se você perde... É simplesmente o pior sentimento do mundo".
-"É...".
-"Mas onde exatamente isso se aplica".
-"Não sei direito. É uma espécie de sentimento inevitável...".
-"Inexplicável?".
-"Exatamente o que eu estava pensando".
-"Nossa!".
-"Parecemos ter uma forte ligação, não acha?".
Senti muitos arrepios, foi muito assustador:
-"N-não sei, Pati".
-"Mudando de assunto, o que acha de irmos hoje à algum lugar, conversar, passar o tempo".
-"Sei lá, eu gostaria sim. Mas eu preciso voltar pra casa".
-"Precisa mesmo?".
Ela me olha nos olhos, segurando minha mão. Ela é tão delicada e meiga. Como eu fui parar aqui? Estou de mãos dadas com uma garota, com os olhos coberto por lágrimas, mesmo tendo conhecido ela à algumas horas atrás. Algo aqui não está certo:
-"Não sei ao certo, mas acho que posso ficar um pouco mais".
-"Mesmo?".
-"Sim".
-"Que bom!".
-"Você com muitas lágrimas nos olhos... Tudo bem contigo?".
Ela rapidamente passa a manga de seu moletom sobre os olhos, assim secando as lágrimas:
-"Ah! Me desculpe por isso Victor".
-"Não tem problema. Mas por que estava assim, foi algo que eu lhe fiz?".
-"Sim... Mas não é algo negativo, é algo muito bom".
-"Ah...".
-"Er... Você pode ficar para almoçar comigo?".
-"Sim, mas preciso avisar meus pais".
-"Beleza então".
-"Mas, você vai cozinhar?".
-"Bom, eu iria fazer arroz e esquentar uma carne que minha mãe preparou antes de sair".
-"Onde eles estão?".
-"Não sei ao certo, mas ela diz que já volta. Pelo menos ela aprece em meio a tarde".
-"Entendo. Vou avisar meus pais".
-"Enquanto isso, eu já vou para a cozinha, fica bem alí. Vou te aguardar para a refeição".
-"Tudo bem".
Bom, eu sempre aprendi que comida não se nega. Então ligo para meus pais.
-"Alô, mãe?".
-"Oi filhote! Onde você está?".
-"Eu atrasei na saída da escola, fui ao banheiro, tive um imprevisto".
-"Imagino...".
-"A Pa... O João me convidou para almoçar na casa dele".
-"Então tudo bem".
-"Beijo mãe!".
-"Beijo!"
Se eu contasse que fosse na casa de uma garota, minha mãe não me daria sossego, ainda mais de ser uma que ela não conhece.
Eu vou eu direção à cozinha:
-"Logo estará pronto, sente aqui, Victor".
Ela puxa a cadeira para eu me sentar:
-"Obrigado Pati".
-"Disponha querido".
Ela me chamou de "querido", isso é normal, ou significa algo?
-"Você sempre cozinha a própria comida, ou seus pais saem poucas vezes".
-"Pra falar a verdade, eles me dão dinheiro para comer em lanchonete 3 vezes por semana, sábado e domingo saímos para almoçar na casa de meus avós".
-"Agora entendo melhor".
Patrícia, na hora de desligar o fogão, acaba por encostar o dedo na panela quente:
-"Ai!".
-"Pati, tudo bem?".
-"Tudo, só queimei um pouco o dedo, nada de mais".
-"Deixe que eu te ajudo!".
Ela me olha nos olhos, percebe que quero retribuir o favor de alguma forma, então novamente me puxa pelo braço, em direção à uma dispensa, onde encontramos curativos.
Pego um curativo casual, cubro a ferida, em tom de ironia, digo:
-"Um beijinho sara!".
De forma totalmente inesperada, ela levanta um pouco a mão e diz:
-"Concordo!".
Fico totalmente sem reação, sentindo uma forte vergonha.
Levanto ainda mais a sua mão, inclino-me para frente, abaixo minha cabeça, assim aproximando meus lábios lentamente do curativo que havia acabado de colocar...
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Despertar de uma chama
RomanceEsta história conta sobre a vida de um jovem chamado Victor, difícil se entregar a algo que lhe fez muito mal, sofreu com desilusões amorosas no passado, que ocasionou em um pequeno medo de acreditar novamente na paixão.