Capítulo 5 - Pati, você está falando sério?

5 1 0
                                    

-"S-sim, Pati, pode me falar".

-"Não sei se você havia percebido, mas...".

-"...".

-"Faz tempo que eu... Faz tempo que eu estou sentindo algo, muito estranho".

-"E você saberia me dizer o que é?".

-"É totalmente inexplicável".

-"Algo perturbador?".

-"Muito pelo contrário... Ou é... Não sei".

-"Estranho... Mas devo compreender".

-"Sério?!".

-"Seria como um 'All In'? Em que você aposta todas as fichas em algo, se tudo vai bem, é a melhor coisa do mundo, mas se você perde... É simplesmente o pior sentimento do mundo".

-"É...".

-"Mas onde exatamente isso se aplica".

-"Não sei direito. É uma espécie de sentimento inevitável...".

-"Inexplicável?".

-"Exatamente o que eu estava pensando".

-"Nossa!".

-"Parecemos ter uma forte ligação, não acha?".

   Senti muitos arrepios, foi muito assustador:

-"N-não sei, Pati".

-"Mudando de assunto, o que acha de irmos hoje à algum lugar, conversar, passar o tempo".

-"Sei lá, eu gostaria sim. Mas eu preciso voltar pra casa".

-"Precisa mesmo?".

   Ela me olha nos olhos, segurando minha mão. Ela é tão delicada e meiga. Como eu fui parar aqui? Estou de mãos dadas com uma garota, com os olhos coberto por lágrimas, mesmo tendo conhecido ela à algumas horas atrás. Algo aqui não está certo:

-"Não sei ao certo, mas acho que posso ficar um pouco mais".

-"Mesmo?".

-"Sim".

-"Que bom!".

-"Você com muitas lágrimas nos olhos... Tudo bem contigo?".

   Ela rapidamente passa a manga de seu moletom sobre os olhos, assim secando as lágrimas:

-"Ah! Me desculpe por isso Victor".

-"Não tem problema. Mas por que estava assim, foi algo que eu lhe fiz?".

-"Sim... Mas não é algo negativo, é algo muito bom".

-"Ah...".

-"Er... Você pode ficar para almoçar comigo?".

-"Sim, mas preciso avisar meus pais".

-"Beleza então".

-"Mas, você vai cozinhar?".

-"Bom, eu iria fazer arroz e esquentar uma carne que minha mãe preparou antes de sair".

-"Onde eles estão?".

-"Não sei ao certo, mas ela diz que já volta. Pelo menos ela aprece em meio a tarde".

-"Entendo. Vou avisar meus pais".

-"Enquanto isso, eu já vou para a cozinha, fica bem alí. Vou te aguardar para a refeição".

-"Tudo bem".

   Bom, eu sempre aprendi que comida não se nega. Então ligo para meus pais.

-"Alô, mãe?".

-"Oi filhote! Onde você está?".

-"Eu atrasei na saída da escola, fui ao banheiro, tive um imprevisto".

-"Imagino...".

-"A Pa... O João me convidou para almoçar na casa dele".

-"Então tudo bem".

-"Beijo mãe!".

-"Beijo!"

   Se eu contasse que fosse na casa de uma garota, minha mãe não me daria sossego, ainda mais de ser uma que ela não conhece.

   Eu vou eu direção à cozinha:

-"Logo estará pronto, sente aqui, Victor".

   Ela puxa a cadeira para eu me sentar:

-"Obrigado Pati".

-"Disponha querido".

   Ela me chamou de "querido", isso é normal, ou significa algo?

-"Você sempre cozinha a própria comida, ou seus pais saem poucas vezes".

-"Pra falar a verdade, eles me dão dinheiro para comer em lanchonete 3 vezes por semana, sábado e domingo saímos para almoçar na casa de meus avós".

-"Agora entendo melhor".

   Patrícia, na hora de desligar o fogão, acaba por encostar o dedo na panela quente:

-"Ai!".

-"Pati, tudo bem?".

-"Tudo, só queimei um pouco o dedo, nada de mais".

-"Deixe que eu te ajudo!".

   Ela me olha nos olhos, percebe que quero retribuir o favor de alguma forma, então novamente me puxa pelo braço, em direção à uma dispensa, onde encontramos curativos.

   Pego um curativo casual, cubro a ferida, em tom de ironia, digo:

-"Um beijinho sara!".

   De forma totalmente inesperada, ela levanta um pouco a mão e diz:

-"Concordo!".

   Fico totalmente sem reação, sentindo uma forte vergonha.

   Levanto ainda mais a sua mão, inclino-me para frente, abaixo minha cabeça, assim aproximando meus lábios lentamente do curativo que havia acabado de colocar...

Despertar de uma chamaWhere stories live. Discover now