❀ 000 | veronica

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VERONICA PORCHS.

Próximo.

Minha voz ecoou pela enorme sala praticamente vazia, e senti uma nova onda de dor assim que as portas da sala multiuso se abriram, e um garoto que fazia aula de física comigo entrou. Ele estava suando, talvez por estar nervoso, ou talvez por conta do calor. Não quis saber, no entanto. A única coisa que realmente me interessava era quando eu poderia de jogar na minha cama e ficar lá, imóvel, por pelo menos uma hora.

— Boa tarde, Dexter. – Ramona saudou o garoto com uma falsa animação, e aquilo me fez sentir vontade de rir, mas sustentei a expressão mais séria possível. – Será que você pode listar alguns motivos bons o bastante para namorar Veronica Porchs?

— Como assim? Namorar? E-eu... – Dexter – que nome horrível, aliás – começou a gaguejar, e eu encarei Fallon com um pedido de socorro estampados nos olhos.

— Pode ir, Dexter. – Fallon diz, e aponta para a enorme porta poucos metros a nossa frente. – Obrigada por vir hoje, esse seu genuíno gesto nos ajudou a ficarmos mais próximos de conquistar a paz mundial.

O garoto se levanta, dá de ombros e sai da sala, apressado. Suspiro, e fecho os olhos.

— Nada até agora? – pergunto para Mallory, que sorri desanimada.

— Não. Um pior que o outro. – ela diz, enquanto lê algumas anotações que fez no decorrer da tarde. – Vocês tem certeza que selecionaram os melhores caras da escola mesmo? Porque se esses são os melhores, eu nem quero ver os piores. – ela faz uma careta, e se senta no chão, ao lado de Fanny.

— Eu disse os melhores da nossa turma de inglês. – Ramona diz. – Não sei porque, mas consegui ficar surpresa com a quantidade de babacas que passou por aqui hoje. Se alguém juntar os doze, mesmo assim não seria possível arrumar um homem que preste.

— O que será da nossa nação, com esses sem noção a solta? – Tiffany dramatiza, e dou risada.

— Obrigada por tentarem me ajudar a arrumar um namorado de mentira. Não sei o que eu faria sem vocês. – digo sorrindo.

— Esse foi o melhor trabalho de filantropia da minha vida! – Fallon berra, rindo, e deita no chão. Faço o mesmo que ela, e fecho os olhos, rezando para minha cabeça parar de doer pelo menos um pouco.

O fato é que minha mãe é obcecada por casamentos. Talvez seja por isso que ela abriu a própria loja de vestidos de noivas anos atrás, e o negócio se expandiu, até entrar no patamar que está hoje em dia: uma empresa que realiza festas de casamento, que conta com a vestimenta dos pombinhos, até o buffet da festa. Por conta da agenda corrida, ela e meu pai se separam quando eu tinha doze anos, e minha guarda ficou com o meu progenitor.

Talvez definir Elizabeth Porchs Kingston como obcecada por casamentos seja pouco, já que ela é obcecada por relacionados. E é claro que quando me informou que estaria voltando a Los Angeles em menos de um mês, me perguntou sobre o meu namorado.

O único problema é que eu não tinha um.

Veja bem, não é que eu tenha aversão a relacionamentos, mas é que... Na verdade, eu tenho sim. Mas esse não é só o problema. Eu sou egoísta demais, individual. Não ia conseguir dividir parte da minha vida com ninguém. Fora o fato de que um relacionamento a essa altura do campeonato só prejudicaria meu rendimento escolar, e consequentemente meu futuro brilhante que tanto estou batalhando para ter.

Só que eu não podia dizer isso para minha mãe. Ela provavelmente ficaria decepcionada comigo pelo resto da vida, e para dar um jeito nisso, tentaria ela própria me arrumar um namorado.

Porque é claro que eu não posso ser feliz solteira.

Então eu, Mallory, Ramona, Tiffany e Fallon reservamos a sala multiuso naquela tarde de segunda feira, com a desculpa de estarmos trabalhando em um trabalho filantrópico para a feira que a escola promove todo ano, e a diretora Shiloh ficou radiante, nos liberando a sala. Ramona ficou responsável por escolher a dedo doze pretendentes que estavam na nossa aula de inglês, mas nenhum deles parecia bom o bastante para fingir ser meu namorado durante os próximos seis meses - tempo que minha mãe ficaria na cidade.

— O que eu vou fazer? – pergunto, frustrada, sentindo uma enorme vontade de chorar. Minha cabeça doía, assim como meu estômago, e meus dedos do pé apertados no sapato de salto que tinha escolhido usar naquela manhã.

Como resposta instantânea para meus questionamentos, Jack Gilinsky abriu a porta da sala sem nem bater, e eu e as meninas nos levantamos do chão. Até pensei em repreendê-lo por ter entrado sem bater, mas antes que pudesse sequer abrir a boca, ele começou a falar:

— Eu topo. Sou bonito o bastante, e inteligente para conduzir uma conversa agradável durante todos os encontros com a sua mãe. Sei ser um cavalheiro quando quero, e sem querer me gabar, mas já me gabando, tenho um maxilar incrível. Não que isso seja muito relevante, mas tenho certeza que Elizabeth ficaria encanta por mim.

Pisquei os olhos, atônita, enquanto Gilinsky me encarava com expectativa. Eu até queria falar alguma coisa, mas meu cérebro parecia ter dado pane. Eu já estava ficando feliz com a possibilidade de não ter que fingir gostar de alguém. Nem seria tão ruim. Eu poderia dizer que meu namorado tinha me traído, e terminamos tudo. No final das contas, minha mãe ficaria com pena de mim, e provavelmente me levaria para alguma loja de grife e gastaria horrores comigo.

Eu ainda sairia no lucro.

— Hmm, Ronnie? – ouço Ramona me chamar, e me viro para ela. – Não sei se você sabe, mas recusar é uma das coisas que você não pode fazer.

— E ele é, de longe, sua melhor opção entre os doze garotos. – Lory opina, e tento não me matar enforcada com meu próprio fone de ouvido.

— Não tenho escolha mesmo, tenho? – pergunto, mesmo estando ciente da resposta.

— Não. – as quatro respondem em uníssono, e tento não odiar Gilinsky quando ele abre um sorriso convencido.

Me aproximo dele, e então aperto sua mão estendida, selando o acordo que acabaria com a minha vida.

𝐬𝐢𝐱 𝐦𝐨𝐧𝐭𝐡𝐬 ❀ 𝐣. 𝐠𝐢𝐥𝐢𝐧𝐬𝐤𝐲Onde histórias criam vida. Descubra agora