Capítulo 3

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Saio do meu banho e enquanto seco meus cabelos com secador, vejo que Pierre está à mesa, servindo uma xícara de café. Normalmente eu tomo café da manhã sozinha, mas hoje terei companhia. Quem mandou tirar o moço da cama cedo? Tirar ou levar para cama? Fica aí o questionamento.

— Pelo visto terei companhia. Não sei se desejo bom dia agora ou quando eu sair.

— Bom dia. — Ele se limita a dizer. Bom, melhor assim. Não gosto de conversar de manhã mesmo.

Comemos em silêncio, cortado apenas por banalidades como passar o açúcar, a margarina, a colher e essas coisas. É bacana, quase me sinto em família, bem aquelas típicas de comercial, só que não.

Escovo os dentes, pego minha bolsa e minhas pastas e vou para o carro.

— Até logo, Pierre. Espero que seu dia seja bom, porque o meu será! — Sou positiva, porque preciso ser.

— Até logo. Bom trabalho!

— Obrigada.

Na garagem, abro o carro, largo minhas coisas no banco do carona e vou para a direção. Ao girar a chave o carro não liga. Tento de novo e de novo e nada do bendito motor dar o arranque. Que merda! Esmurro o volante.

— Problemas? — Pierre questiona e surge na janela do motorista.

— Essa porcaria não dá no tranco. Não sei o que houve!

— Checou o tanque?

— Sim, eu abasteci ontem. — Reviro os olhos pela pergunta besta.

— Certo, então deixa eu dar uma olhada. Sou mecânico.

— Verdade! Eu sabia que deveria que ter alguma vantagem de se morar com você. — Pierre dá um meio sorriso, se divertindo às minhas custas, e eu desço do veículo.

Ele levanta o capô, checa bateria, água, óleo, testa algumas coisas e eu fico ali morrendo de vontade de dar uns chutes naquela caranga velha pra fazer funcionar logo, como pode ser tão calmo, meu Deus?

— Pierre, pelo amor de todos os santos, vai demorar muito? Eu vou me a-tra-saar! — cantarolo a última palavra, totalmente sem paciência.

— Nora, desculpe, eu sempre me empolgo com carros e o seu é um modelo que eu acho lindo! — Eu tenho um Opala SS preto, modelo de 74! É, eu sei, os caras amam um opalão. É o meu bebê e faz todos olharem quando passo. Eu gosto! Já tive carros econômicos, mas um opalão fala por si só. — Seu motor morreu. Tava sem óleo. Não tem jeito, daqui ele não vai sair hoje. Tem que consertar ou trocar mesmo.

— Mas que droga!! Só me faltava essa!

— É um gasto e tanto.

— Tô sabendo. Ta, você acha que consegue consertar?

— Consigo, mas preciso das ferramentas.

— Dá uma olhada na área de serviços, minha maleta ta lá e se precisar comprar alguma coisa, pega aqui. — Abro minha bolsa, pegando uma quantia em dinheiro e entrego pra ele. — Mas não vá gastar com balas, senão vai de castigo.

— Sim, senhora. — Ele ri.

— Bom, eu vou tentar pegar um ônibus ou coisa assim. Vou me atrasar de qualquer forma!

— Por que não pega um taxi? Ou aquele uber?

— Não confio em homens dirigindo pra mim. Pelo menos no ônibus vai ter mais gente e eu me sinto mais segura. Ser mulher nesse mundo, meu caro Francês, não é mole! — dizendo isso, coloco meus óculos escuros e saio portão a fora.

Sentidos {DEGUSTAÇÃO}Onde histórias criam vida. Descubra agora