Capítulo 10

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Finalmente o final de semana chegou!

A semana passou rápida, mas foi tão intensa e exaustiva que parece que eu trabalhei vinte dias consecutivos. Vinte um se eu contar com hoje, já que vou atrás daquela moça que me procurou para falar sobre o marido.

Meu carro ainda continua parado na garagem e nada da coragem para arrumá-lo, porém, por incrível que pareça, tenho gostado do ônibus. Descobri que me torna mais organizada, porque me faz acordar mais cedo e organizar minhas tarefas do dia, deixando que à noite eu tenha um tempo para mim. Tirando o fato de que o garoto, William, como ele prefere que eu o chame, é uma companhia agradável. Temos assuntos em comum e ele me faz rir. Só que as coisas estão tomando um rumo complicado, ele tem um jeito muito intenso, apesar de toda a simplicidade. Depois da nossa última conversa no meio da semana, eu me assustei muito com o que ele me disse e a forma como disse. Mas depois eu analisei e vi que deveria ser bobagem da minha cabeça, ele só estava sendo um bom amigo. Na vida eu tive bons colegas homens, caras bacanas que se achegavam em mim pelo meu jeito descontraído e meio másculo muitas vezes, pelo meu jeito de falar, gesticular e até andar algumas vezes. Com William deveria ser a mesma coisa e eu só estava tentando afastá-lo porque ele estava chegando perto demais. É isso o que eu faço: afasto, para o bem de todo mundo.

Ouço palmas em frente a minha casa e um chamado. Levanto da cadeira em que terminava de almoçar e olho pela janela, vendo que era ele, como havia prometido. Abro a porta e em seguida o portão, deixando espaço para que ele entre.

— Tudo bem? — ele pergunta, me cumprimentando.

— Nos conformes, como Deus manda. E você? Melhorou bem dos machucados?

— Estou melhor. Meu olho até abriu um pouco. Desinchou. — Olho para o rosto dele enquanto caminhamos e noto que está menos roxo também.

— Sua mãe sabe que está aqui?

— Ela sabe que eu saí, só não sabe onde estou. Ela surtaria.

— Com certeza. Bem, entra, essa é a minha casa, pode reparar na bagunça, eu não ligo.

— Está bastante bagunçada mesmo. — diz sincero com um leve sorriso, olhando ao redor, principalmente para a pia cheia e para muitos papéis largados no sofá, assim como sapatos espalhados no chão. — Parece que um homem mora aqui. Um homem que usa saltos. — Eu gargalho.

— Talvez eu seja um. — digo rindo.

— Eu tenho certeza que não.

— Como pode ter certeza de que não sou homem? — provoco, colocando as mãos na cintura.

— Homens, por mais que tentem, não conseguem ter o charme que só uma mulher tem. É algo natural, sabe? E você é muito charmosa, muito mesmo. Só é bagunceira. Ossos do ofício.

— Você se acha tão esperto! Cheio dos palpites. Quantos anos você tem?

— Vou fazer dezenove daqui três meses, mas minha alma é velha. Minha mãe diz isso pelo menos.

— E eu quanto mais velha, mais faço bocabertices de adolescente.

— Você não é velha.

— Melhor deixar esse assunto pra lá. Não sabe que é indelicado conversar sobre a idade de uma mulher? Pois deveria saber, senhor sabichão.

— Acho muito bobo esse medo de envelhecer. São experiências adquiridas, é bom ficar experiente. Não deveria ser motivo de vergonha.

— Há muita coisa envolvida, mas é melhor mesmo mudarmos de assunto. Está pronto para irmos? Ainda pode mudar de ideia, talvez nossa visita não seja das mais agradáveis. — informo enquanto pego minha bolsa e meus óculos inseparáveis.

Sentidos {DEGUSTAÇÃO}Onde histórias criam vida. Descubra agora