Capítulo 2

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Carol estava sentada no banco alto. Levou à boca um gole de sua taça toda enfeitada como se fosse um coquetel, era sempre assim que os balconistas tinham que preparar as bebidas presenteadas pelos clientes, um lindo copo de água com cítricos, fosse laranja ou limão, mas nunca álcool.

Não havia beijos entre prostitutas e clientes, pelo menos não com ela então seu hálito seria a última coisa que os homens iriam prestar atenção. Ainda assim, todas ganhava comissão por qualquer tipo de bebida que fosse gasto em seu nome, por isso ali estava ela, bebericando da taça com água para provar que o dinheiro de quem lhe pagou o coquetel estava sendo bem gasto e assim incentivar outros a lhe oferecer uma bebida também.

Quando o salão finalmente esvaziou, outro tipo de correria começou imediatamente. A limpeza, e esse momento dava um tipo estranho de liberdade para as meninas, as risadas altas e o sorriso coquete eram deixados de lado, o cansaço aparecia e todas trocavam olhares tristes, pelo menos era assim com as que estavam ali por necessidade, em qualquer meio, têm os que precisam e os que gostam, o que não era o caso da maioria das meninas da madame Mary.

Quando o último enrolão foi embora Carol finalmente pôde deixar o copo no balcão, não precisava mais atuar, não naquele momento já que essa noite era um evento a parte.

Soltou um suspiro desanimado olhando em volta já antecipando o cansaço da noite, a casa ia ficar cheia, mais até que o costume. Isso já era esperado já que o boato sobre a reunião dos grupos que dominavam o subúrbio havia chegado aos ouvidos das meninas, e apesar da madame não ceder muita explicação sobre o evento quando perguntaram, todos já esperavam por uma longa noite.

Ainda assim não sabiam direito do que se tratava e o motivo de tantos preparos, só o que todas sabiam era que viriam vários grupos oriundos de várias cidades, até mesmo de alguns países, e pelo esmero com a limpeza e os copos de qualidade substituindo os usados normalmente, Carol concluiu que pessoas mais que importantes que os já conhecidos figurões da cidade estariam ali naquela noite.

Porque escolheram aquela pocilga de putas para isso? Carol não fazia ideia e volta e meia seus olhos corriam pelo estabelecimento e ela novamente se perguntava se não era mentira da Madame só para se sentir importante, porém o capricho mostrava que era verdade e Carol não encontrava uma resposta que justificasse essa escolha.

Madame Mary não parecia ser tão influente assim entre os magnatas da cidade e isso deixava tudo ainda mais misterioso.

Para dar aos convidados a devida privacidade, madame abriu a casa mais cedo para os clientes antigos, pois esses grupos que chegariam em breve não queriam se misturar, ou como Carol desconfiava, eles não queriam que esse encontro fosse assunto da cidade. Devia mesmo ser uma reunião de elite.

Se espreguiçou sentindo o corpo reclamar de cansaço, verdade seja dita, ela não estava nem aí, menos ainda queria saber quem eram esses, afinal, nada mudaria, não receberia porcentagem a mais por dormir com mais homens. Ganharia mais dinheiro é claro, mas isso implicaria ter o corpo dolorido por vários dias, sem contar o uso de pomadas até para dormir, já que também ficaria dolorida por baixo.

Ossos do ofício... pensou com amargura enquanto voltava a pegar o copo e bebia outro gole sem querer refletir muito sobre isso ou qualquer outra coisa. Mas...

Não tinha como ignorar que era estranha a hora escolhida para aquela reunião. Duas horas da manhã era realmente um tanto incomum até mesmo para um bordel.

E foi por conta desse detalhe que Carol tinha recebido o bilhetinho assim que saiu do banho dizendo que ela tinha sido escalada para trabalhar para o público comum somente por duas horas, depois disso era se arrumar, descansar e esperar até a chegada desses figurões, aí então seria uma das exclusivas, uma puta escolhida somente para servir a esses.

E então... Depois de uma hora e meia de descanso fazendo nada no quarto, ela estava ali. Vestida em vermelho justo e curto, cabelos soltos e uma maquiagem pesada. O salto alto também vermelho completava seu visual de puta de luxo. Ou como madame Mary gostava de chamar suas meninas: garotas do prazer.

Carol achava mais vulgar ser chamada assim. Já tinha aceitado ser chamada de puta, mas não aceitava ser vista como garota do prazer, soava até ofensivo aos seus ouvidos quando ouvia madame Mary se referir a elas dessa forma.

O salão estava sendo limpo às pressas, faxineiros corriam para retirar a sujeira dos porcos que tinham frequentado e então ali estava o mutirão da limpeza correndo de um lado para outro como se quisessem não só limpar cada canto como expurgar qualquer resquício da imundície obscena que estava impregnada em cada cadeira e mesa do salão.

Carol sorriu sem humor, podiam esfregar e desinfetar, polir e fazer brilhar, mas nunca, jamais, iriam tirar a sujeira daquelas cadeiras, nunca iriam conseguir limpar sua consciência, nunca...

Bebeu mais um gole e fez uma careta, seria até bom ter um pouco de álcool em sua bebida dessa vez, assim seria mais fácil suportar tudo.

Quase fez um aceno para o barman que estava encostado ao balcão sem ter nada para fazer, mas pensou melhor e não o fez, não podia seguir por esse caminho para suportar esses dias escuros, o vício desgraçou sua família, se sempre fugisse para o lado mais fácil quando começava a refletir sobre a miséria que era sua vida, além de puta, também se tornaria uma bêbada.

Meia hora depois o local parecia novo em folha, não havia sequer uma mesa suja, o chão estava brilhando, os cinzeiros nas mesas estavam tão limpos que poderia ser usado como copo, parecia até um local imaculado, um local de respeito.

— Se continuar com essa cara, querida, eu terei que te substituir por outra, não quero meus clientes de tão alta estirpe achando que minhas meninas não estão contentes em servi-los.

Carol suspirou e amenizou o olhar, não podia perder aquela chance, o trabalho rotativo não a ajudava muito e ser escalada para aquele evento lucrativo, tinha sido uma grande sorte. Acabou abrindo o maior sorriso que conseguiu enquanto encarava o rosto maquiado e ainda bonito da mulher de meia idade.

— Não estou triste Madame, estou concentrada, logo terei que fazer minha melhor atuação, e por isso estou guardando meus sorrisos e simpatias para ganhar clientes hoje. Não é para isso que estou aqui? Não me lembro de ter que sorrir o tempo todo, a não ser que queira ser minha cliente, hum? Que tal? — O olhar de Carol se tornou afiado e sua voz saiu manhosa quando continuou. — Se estiver interessada e claro, se me pagar bem, posso lhe sorrir sedutoramente. Ou prefere o sorriso inocente?

Carol sabia que agir assim, como uma puta sem escrúpulos agradaria a madame, mas hoje, diferente de outros dias, isso não parecia ter funcionado.

Madame Mary a olhou em deboche. — Está indo muito bem com sua dissimulação Carol, mas não me engana. Vejo o quanto você odeia isso aqui. Até hoje não entendo como conseguiu durar tanto tempo. Você não é a melhor puta que tenho, na verdade é a pior, e que isso fique claro, já te falei que há muita reclamação da maneira que trata os clientes que te levam para o quarto...

Carol levantou do banco cortando a mulher. — E, no entanto, você ganha um bom dinheiro para me deixar exclusiva em algumas noites, não sou boba, também não me lembro de receber extras por isso, nem mesmo um agrado da senhora por me usar. E ainda assim... Mesmo enganada por você aqui estou eu, então se tiver algo realmente importante para me dizer, diga logo, mas se não vai me mandar embora, não chame minha atenção fora do horário de trabalho.

Carol abaixou perto da orelha da madame e sussurrou antes de sair. — Não sou sua melhor puta, mas de todas essas vadias eu sou a que te dá o maior lucro, porque sei o que fazer na cama para satisfazer esses filhos da puta que querem me comer.

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Copiei e colei, se tiver erros, por favor gente, me avisa :D

Irmãos VoloshinOnde histórias criam vida. Descubra agora