Capítulo 4

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Carol não ficou curiosa com a movimentação, apática sobre a noite, já que era apenas mais uma dentre tantas, observou ainda encostada ao balcão quando os homens bem vestidos começaram a entrar.

Seu assombro se deu pela aparência, eram lindos, um mais lindo que outro entrando a cada minuto por aquela porta, alguns eram tão bonitos que chegava a dar medo.

Muitos pareciam irreais, quase uma miragem, mas ela não se abalou com isso, já tinha conhecido muitas cascas bonitas que lhe causava repulsa a lembrança, homens lindos já a tinham levado para a cama, e geralmente eram esses, os bonitões que se mostravam egocêntricos quando protegidos por quatro paredes, eles machucavam e eram egoístas quando se tratava de parar a dor ou diminuir a humilhação.

Carol sabia que não podia comparar os clientes da cidade com esses estrangeiros, mas ainda assim ao pensar nisso ela ficou nervosa, pensou na hipótese de ir embora, inventar que não estava se sentindo bem, qualquer coisa, pois não estava com humor para aceitar tratamentos bruscos nessa noite, seu ânimo não a deixava fazer como sempre fazia, respirar fundo e pensar que logo a noite acabaria.

Levantou e soltou o ar já com pena de perder uma noite de bons lucros, mas não conseguiria suportar um corpo em cima dela essa noite, merecia um descanso, uma escolha e decidiu escolher sua própria cama e o silêncio de seu apartamento caindo aos pedaços.

Procurou a silhueta roliça da madame, iria mesmo para casa, um dia a mais ou a menos de espera não faria diferença, por isso tinha o direito de ir quando quisesse.

Encontrou a madame conversando com um homem de cabelos compridos e negros. Tão lisos que Carol quase sentiu inveja daquela cortina brilhosa e cuidada que chegava até a cintura. Quase sentiu inveja dupla quando viu o outro idêntico ao primeiro e tão bonito quanto.

Esperou impaciente o momento que a madame, como sempre fazia, apontaria o interior do salão e desejaria a eles boas vindas e ótima diversão, mas isso estava demorando, a conversa sussurrada dos dois não parecia acabar nunca.

Revirou os olhos quando a paciência se foi completamente depois de quase dez minutos de espera. Dane-se! Queria ir para casa e nada a faria esperar mais. Deu alguns passos vacilantes tentando manter a discrição e chamou.

— Madame, com licença...

A mulher se virou parecendo furiosa pela interrupção. Carol tinha por regra nunca baixar a cabeça para ela, mas naquele momento até cogitou dar passos para trás e se desculpar pela interrupção, porém se manteve firme.

O homem com estranhos olhos castanhos claros que parecia cristal rutilado também a olhava, só que não parecia tão furioso pela interrupção e sim curioso.

Carol respirou fundo incomodada com a cafetina e com o estranho que não parava de encará-la, acabou falando de uma vez, quase neurótica para sair das vistas dos dois.

— Não estou me sentindo bem, vou para casa.

Madame Mary abriu muito os olhos verdes e segurou seu braço. — Não vou permitir que faça isso, devia ter avisado antes, agora está em cima e todos já chegaram. Você vai ficar aqui.

Carol sorriu de modo desafiador, deu um tranco se livrando do agarre dela e começou a andar em direção a porta. — Me obrigue.

Olhou de canto para a mulher que a fuzilava com o olhar e sorriu de lado. Os olhos da cafetina ganharam um renovado brilho de fúria.

— Não precisa voltar mais Carol, nunca mais quero que coloque os pés aqui, me ouviu?

Carol não respondeu, na verdade ouvir aquilo lhe deu grande alívio, sentiu como se grossas correntes se rompessem de seus pulsos. Se era assim que um prisioneiro se sentia ao ganhar a liberdade então era um dos sentimentos mais gostosos que podia ter.

Levantou os ombros em deboche, claro que no dia seguinte ela ia aparecer como sempre, mesmo que fosse para ficar na esquina roubando os melhores clientes do bordel até que a madame cedesse e a mandasse entrar novamente. Mas hoje aquelas palavras vazias formava a frase que ela mais ansiou ouvir desde que começou a vender o corpo, mesmo que não fosse a hora de parar, mas quando o dia chegasse...

Carol já até tinha planos para quando finalmente atingisse sua meta e pudesse finalmente se ver livre. A sua primeira ação seria dar uma surra em madame Mary, aí sim nunca mais pisaria naquele chiqueiro.

Começou a andar em direção ao seu carro velho, logo sentiu vontade de assobiar e foi assim que ela seguiu para o estacionamento, assobiando e rebolando em cima do seu salto alto.

Irmãos VoloshinOnde histórias criam vida. Descubra agora