Culpa do Tédio

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Domingo à noite, Bianca estava deitada na cama conversando com Vanessa pelo telefone. Falavam sobre o dia seguinte, que seria o primeiro dia de aula. Bianca estava contente por ter feito novos amigos antes mesmo das aulas começarem. Ela se sentia mais leve e aliviada depois de se abrir com Val, visto que nunca tinha falado sobre o assunto com ninguém. Val se mostrava cada vez mais uma boa pessoa e um amigo compreensivo.

Embora ainda tivesse mágoa de Fábio e do que aconteceu no passado, o medo de encontrá-lo havia se extinguido. Na verdade ela não teria escolha, visto que, por ironia do destino, ela havia se matriculado na universidade que ele frequentava. Finalmente pôde entender a alegria que a mãe dela sentiu quando ela disse que tinha passado para a U.C.C...

Pelo menos Bianca acreditava que não seria mais pega de surpresa.

A única coisa que realmente a incomodava era a mudança de Eduardo em relação a ela. No dia do aniversário de Val, ele a provocou e flertou como sempre fazia desde o primeiro dia, no entanto, se mostrou gentil e atencioso quando ela mais precisou. Depois desse dia, ele mal a cumprimentava, evitava que seus olhares se encontrassem. Ela não conseguia entender tamanha mudança no comportamento dele.  Às vezes, até mesmo se perguntava o que poderia ter feito de errado. Depois de passar dois dias tentando perguntar a ele o que havia acontecido e ter apenas monossílabos como resposta, preferiu dar a ele o espaço que ele precisava e passou a ignorá-lo da mesma forma que ele a ignorava.

Vanessa se despediu finalizando a ligação e Bianca colocou o celular sobre a cômoda. Olhou para os lados como se quisesse confirmar que o quarto estava vazio e decidiu ir conversar com Val.

*********

Val estava sozinho sentado na cama, seus olhos vidrados nas luvas de boxe penduradas na parede. Sua mente estava perdida em uma cena do passado recente que ele gostaria de esquecer. A culpa que sentia pesava o coração, mesmo que tenha ouvido inúmeras vezes que tudo havia sido um acidente...

A porta do quarto se abriu e Eduardo entrou, despertando Val de suas memórias. Val olhou para o amigo e não pôde deixar de notar a barba por fazer e as olheiras. Eduardo parecia estar esgotado.

— Como foi lá com ela, Edu?

Eduardo sentou-se ao lado do amigo e passou a mão pelo rosto, suspirando profundamente antes de responder de cabeça baixa.

— Praticamente a mesma coisa de sempre... — Eduardo levantou a cabeça e olhou para o amigo. — Pelo menos, dessa vez ela me deixou entrar e não me expulsou...

— Eu sinto muito, mano. Você não merece passar por essa situação, nem ela...

— Na verdade, eu devo ser um grandessíssimo filho da puta para merecer isso... Porque ela certamente não merece!

— Não fala merda, Edu! Coisas ruins acontecem com todo mundo, aliás, ultimamente tenho a impressão que acontecem mais com quem não merece. — Disse Val relembrando a conversa que teve com Bianca.

— Mas, por que ela? Eu me sinto um merda cada vez que vou visitá-la e ela nem sequer me deixa entrar.

— Você sabe que ela te ama, isso é só uma fase ruim, tudo vai dar certo!

Eduardo passou as mãos pelo rosto de maneira cansada.

 — Eu decidi me inscrever no concurso de música mais uma vez esse ano...

— Isso ai! Dessa vez você vai ganhar, você tem talento de sobra!

— Eu tenho que ganhar, preciso da grana...

Asas de AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora