Asas de Anjo

Rafael

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Bianca acordou cedo, apesar de ter dormido mal naquela noite. Ela olhou para o lado, para a cama vazia de Eduardo, que estava do mesmo jeito que ele havia deixado, significando que não tinha voltado para a pensão. Ela suspirou e olhou para o teto. Estava confusa e magoada, não entendia a atitude dele. Parecia tão doce cantando para ela, sorridente e jovial... a beijou quando ela menos esperava. Ao lembrar do beijo, ela tocou os lábios com os dedos, fechando os olhos. Era como se ela ainda pudesse sentir os lábios dele contra os dela... Logo depois, foram interrompidos e ele saiu com o rosto sombrio e a tratou com frieza, até mesmo grosseria. Ela só queria ajudar, mas ele deixou claro que não queria a companhia dela. E pelo visto, dormiu fora... 

Bianca suspirou mais uma vez, levantou e se preparou para a corrida matinal. Por mais que Eduardo a confundisse, não poderia ficar ali no quarto parada esperando ele aparecer. Algo sério tinha acontecido e ela não fazia ideia do que era. Dona Glória falou que "ela" tinha sido levada para um hospital... Quem seria essa "ela"? Bianca não era egoísta, estava sinceramente preocupada com Eduardo, mas não podia deixar de sentir uma pontinha de ciúmes. Quando se ofereceu para ir com ele, estava genuinamente preocupada, mas a reação dele foi como um soco gelado no estômago.

"Bianca eu não quero que você venha comigo, entendeu?!"

A frase ecoava em sua mente enquanto ela corria pelos arredores da pensão. O suor escorria pelo rosto,  coração batendo acelerado e a mente barulhenta. Ela precisava parar de pensar nele. Provavelmente essa "ela" era uma namorada ou algo do tipo, o que explicava perfeitamente a maneira grosseira em que a dispensou depois de tê-la beijado. Bianca mal o conhecia, e do jeito que ele sempre se mostrava convencido e arrogante, provavelmente não estava nem aí pra ela.

Quando Bianca voltou para a pensão encontrou Val sentado em frente ao balcão da recepção, concentrado lendo um livro.

— Bom dia, Val!

 — Bom dia, BB, como estão as coisas? — Ele a cumprimentou, desviando os olhos do livro para ela.

— Mais ou menos... Sabe alguma coisa do Eduardo?

— Como assim? — Perguntou Val franzindo a testa.

— Ontem sua mãe deu um recado a ele que o deixou alterado, ele saiu e não voltou, acho que dormiu fora... Estou preocupada com ele.

— Ele te falou para onde ia? — Val perguntou intrigado.

— Não...— Bianca respondeu abaixando a cabeça. Ele percebeu o quanto estava sendo invasiva e se sentiu constrangida.

Val respirou fundo e balançou a cabeça de um lado para o outro.

—Me perdoa, BB, mas você vai ter que perguntar isso a ele quando voltar.

Bianca concordou com a cabeça, embora estivesse decepcionada como fato de Val não contar à ela o que estava acontecendo. Mas logo depois se deu conta que os conhecia há pouco tempo, e por mais que fossem gentis com ela, não tinham necessariamente que confiar nela.

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— Então, é isso, turma. Vocês têm duas semanas para terminar a dissertação, não vou aceitar nenhuma desculpa para quem tentar entregar depois do prazo. Ainda faltam vinte minutos para a aula terminar, mas vocês estão liberados. Até semana que vem!

Antes mesmo que a professora acabasse de falar, os os jovens e animados alunos se levantaram para sair da sala. O barulho das cadeiras sendo arrastadas pelos alunos apressados aumentou ainda mais a dor de cabeça que Bianca sentia. Ela permaneceu sentada tentando controlar o mal-estar. Fechou os olhos e massageou as têmporas com a ponta dos dedos. A dor já devia ter passado, visto que há alguns minutos ela havia tomado um analgésico.  A cabeça latejava indicando uma forte enxaqueca. Vendo que a dor não passaria tão cedo, ela pegou a bolsa que estava pendurada na cadeira onde estava sentada, guardou seus pertences que estavam espalhados sobre a mesa, tirou o celular do bolso da calça jeans e checou mais uma vez as mensagens recebidas.