Sonhos

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POV de Eduardo

Subi na moto e segui caminho, deixando para trás a mulher da minha vida e meus amigos, com o coração na mão, para o concurso de música. Dá para entender porque o filho da mãe do Rafa se amarra em andar de moto. A sensação de liberdade é incrível, mesmo usando capacete. Convenhamos, se não fosse obrigatório, eu não usaria. Sei que o risco é maior, mas não tem comparação. E nem pense em não usar capacete e depois se lembrar que foi influenciado por mim! Vai cair, vai se machucar, vai se ferrar todo e eu nem te conheço, então não estou nem aí! Vai ser bem feito! 

O que foi? Não é à toa que me chamam de bad boy!

Sabe o que eu disse quando comecei minha viagem? Esquece essa porra! Depois de quase três horas guiando uma moto, tua bunda fica dormente, já engoli uns cinco mosquitos, e espero que isso não atrapalhe minha voz para cantar...Quando finalmente me aproximei do hotel meu coração batia feito um louco dentro do peito, ao ver a multidão de gente do lado de fora. Lembro que, ano passado, alguns concorrentes tinham até fã clube eu os invejei pra caramba! No entanto, não são apenas fãs e familiares dos concorrentes que lotam a rua do hotel, não. Vi várias câmeras e jornalistas espalhados pela rua, fazendo a cobertura do evento.

Deixei a moto do Rafa em um estacionamento privado, para ter certeza que nada aconteceria ao xodó dele. Já estranhei ele ter me emprestado, se algo acontecesse à ela, era capaz de perder minhas bolas... Só consegui vaga no estacionamento da outra rua, então, segui caminho andando pela calçada, ficando cada vez mais nervoso... A entrada do hotel estava apinhada de gente, mas os candidatos foram informados à entrarem pela porta dos fundos, à fim de evitar confusão na entrada principal. Eu podia ouvir gritos de fãs chamando nomes de alguns dos meus concorrentes. O mesmo tipo de paixão que você pode encontrar nos fãs de artistas famosos... Confesso que minha confiança foi diminuindo. Esse concurso é consagrado no país inteiro e reconhecido internacionalmente, com muita gente boa se apresentando. A Golden Box Records é uma das maiores empresas de produção e publicidade de música de mundo. Um contrato com ela é quase sinônimo de sucesso, e meu sonho desde menino.

Minha paixão pela música foi mais um motivo para me separar de ex-marido da minha mãe, que gosta de chamar a si mesmo de meu pai. Ele nunca aprovou, sempre disse que era perda de tempo. Quando minha mãe comprou meu primeiro violão, Roberto Teixeira ficou aborrecido, reclamou a noite inteira. Minha mãe pagou aulas de violão escondida dele, para que ele não se aborrecesse. Quando aprendi a tocar a primeira música, toquei para eles na sala de casa. Me lembro como se fosse hoje... a cara que ele fez, como balançou a cabeça para os lados, como me disse que aquilo poderia até ser um hobby, mas que eu deveria estudar direito para me tornar alguém na vida... Ouvir a voz dele elogiando meu som, a música que escrevi para minha garota... Fez eu me sentir estranho. Por mais que eu não precise da aprovação dele...

Música não é um hobby, é uma profissão, um dom, uma paixão, sei lá..Mas fazer música faz parte de quem eu sou, de como me reconheço como gente. É duro ter que ouvir do próprio pai, ou mãe, ou companheiro... Sei lá....alguém cuja opinião é importante, simplesmente fazer pouco caso de nossos sonhos. Tentam podar nossas asas antes mesmo que aprendamos a voar. Pessoas infelizes, talvez, que ao desistirem do próprio sonho, se empenham em fazer os outros desistirem. 

Minha mãe sempre me apoiou, mesmo depois dessa doença... quando ela consegue se lembrar de mim... ela sempre pergunta sobre meus sonhos. Meu pai, assim como muita gente no caminho, só me apontava as dificuldades, os obstáculos. Uma das frases favoritas dessas pessoas é: 

"Já viu quanta gente tenta e não consegue?" 

Minha resposta é:

" O que eu vejo é que, só consegue vencer quem não desistiu de tentar!

Asas de AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora