friday night

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Eu sempre gostei de sair. Sempre gostei da noite. A lua reluzindo em minha pele e a escuridão tomando conta de meus olhos sempre os apeteceram.

A noite me trás calor. Não um calor literal, não do ambiente, mas ela tem o poder de aquecer meu corpo. Ela me excita, me liga, me faz sentir como se eu pertencesse a ela. Com um cigarro nos lábios e os cabelos frequentemente azuis, é assim que eu me acostumei a viver no único momento em que eu amo viver. Durante a noite.

Hoje, não é diferente. Sexta à noite. Olhar sexy, roupas apertadas, tatuagens, cigarros e scarpins. O lugar onde estou é o que mais frequento, todos já me conhecem e me chamam pelo nome assim que entro no ambiente.

- Agnes! - a bartender, uma amiga muito mais do que próxima, diz assim que entro em seu campo de visão. Debruço-me sobre o balcão e abraço-a, beijando suas bochechas e sentindo nela seu perfume, extremamente doce e que combina exatamente com quem ela é. Seus trajes simples, compostos de saia rodada e uma regata bem curta, com alças finíssimas, expõe seu corpo mas fazem com que ela pareça brilhante e impecável. Ela é uma estrela sem nem ao menos desejar tal coisa.

- Barbra, você está linda. O que fez?
- Sabe como é, Ness. Tenho meus contatos.
- Contatos?
- Não notou nada diferente?

Reparo em seu corpo e seu rosto, mas não reconheço o que há de diferente. Ainda assim, sei que está não é a mesma Barbra Jungwirth que vi mês passado. A loira me balança a cabeça.

- Não notou que sumi durante um tempo?
- É claro que sim - reclamo, e pego um dos copos de licor que ela serviu para nós duas. - A garota que você deixou no seu lugar não é a melhor do mundo.
- Dê-me suas mãos - ela me pede, e eu as estendo. Logo que o faço, ela as coloca sobre seus seios, apertando-as sobre eles, e eu puxo minhas mãos enquanto rio. Esse tipo de doideira só acontece quando estou aqui.
- Sentiu? 400 mLs de silicone. Em cada um.
- Puta que pariu. Quem foi que pagou isso para você?
- Exatamente, querida. Você frequenta este mesmo lugar faz tempo, mas nunca reparou no melhor que ele tem. Aqui, pessoas boas podem ser encontradas. Homens, então, nem se fala.
- Quantos anos?
- 58.
- Pelo amor de Deus, você pode ser quase neta dele.
- Sou uma sugar baby muito obediente, então recebi o que mereci. Procure um para você, Ness. É só trepar com ele umas vezes e você tem fortuna pingando aos seus pés.

O conselho de minha amiga me deixa enjoada, de certa forma. Vê-la se vendendo dessa forma, só para conseguir o que quer, não é algo que eu queria para si, mas eu não vou julgá-la. Barbra é uma adulta, responsável (ou quase) e no auge de seus 21 anos. Para mim, tanto faz, contanto que ela não esteja ferida.

- E você, Ness, o que tem feito?
- Nada tão interessante. Trabalhando, estudando. Eu não tenho um sugar daddy.
- Não tem porque é burra. Com seu corpo e sua atitude, você consegue o mundo.

Engulo o licor e ela me serve de mais. Franzo meus lábios em uma expressão confusa e um cigarro aceso pende no canto de minha boca.

- Eu não preciso de um homem para ter o que quero.
- Ness, seja inteligente. Você trabalha em um estúdio de tatuagem. Você faz faculdade de dança. Você se fode todos os meses pra pagar seu aluguel. Isso é vida, para você? Olhe, preste atenção: Richard, que é meu namorado, me levou para morar com ele. Paga salão de beleza, silicone, inclusive farei algumas plásticas caso dê algo que ele quer, e eu acredito que nem mesmo preciso te dizer o que é.
- Então, esse é seu preço? - pergunto, deixando a fumaça do cigarro se dispersar naturalmente pelo ar. Ela dá de ombros.
- Eu dou o que ele quer, ele me dá o que eu quero. É saudável.
- É doentio, Barbra. Eu valho muito mais do que isso, e você também deveria reconsiderar sobre seus valores. Eu vou dar uma volta, preciso digerir suas palavras.

Barbra parece um pouco magoada por minha sinceridade, mas se eu não disser as palavras que ela precisa ouvir, ninguém mais vai fazer isso. Antes que eu saia, porém, ela reclina seu corpo sobre o balcão do bar, fazendo com que seus seios avantajados comprimam-se.

- Tem alguém te olhando. Está bem ali.

Ela aponta para a esquerda, e eu vejo um rapaz esguio e com uma jaqueta vermelha. Quando vê que o olhamos, desvia o olhar. Seus cabelos são escuros, seu maxilar é bem marcado, seus olhos são repuxados e ele é incrivelmente lindo. Volto meu olhar para Barbra.

- Ele é famoso, frequenta o clube de vez em quando. Lee TaeYong.
- E o que ele faz?
- Pelo que sei, já foi dançarino. Agora, administra uma empresa de robótica com seu pai - ela me diz, logo depois sorrindo e sussurrando. - Ele é rico pra caralho.
- Foda-se. É com ele que quero transar, não com seu dinheiro - respondo-lhe em tom de riso, mesmo que essa não seja minha intenção. Não quero deixar o clima pesado.
- Eu quero ver o que esse anjinho é capaz de fazer entre quatro paredes. Você vai me dizer.

O comentário dela não me afeta, como sua própria presença não está afetando hoje. Afasto-me, equilibrada sobre saltos, e vou até onde ele está sentado. Quando me vê ao seu lado, ele quase engasga, e então eu me sento e tiro seu copo de sua mão, bebendo um gole.

- Brandy?
- Sim, senhora.
- Senhora? - pergunto, as sobrancelhas franzidas. Ele sorri, mas vejo que antes ele engole em seco. Ele realmente espera arrumar uma foda desse jeito?
- Senhorita, perdoe-me. Como devo chamá-la?
- Agnes Heagler. Você é Lee TaeYong.
- Somos conhecidos?
- Foi o que foi-me dito. Não o conheço, mas seria bom se conhecesse.
- O que quer de mim?
- O que quer de mim? - repito a pergunta que me foi feita, e ele comprime os olhos enquanto sorri, parecendo mais confortável. Então, inclina-se para um pouco mais perto.
- Quero o mesmo que você quer.
- E como sabe o que quero?
- Ouvi você conversando com sua amiga. Meus ouvidos são bons.

Constranjo-me por saber que ele ouviu o que eu e Barbra conversávamos, mas não o culpo. Eu tenho desejos e vontades para com ele, e é bom que ele o saiba.

- Devo dizer que você não parece nem um pouco experiente. Acho que você é a personificação do que um anjo deveria aparecer.

TaeYong me sorri e seus dentes são impecáveis. Seu rosto fica ainda mais expressivo quando ele está feliz, mas quando seu semblante se fecha, ele me olha com malícia, e esse olhar é diferente dos outros que já recebi. É algo perturbador de tão excitante.

- Você não pode dizer uma palavra sobre isso até vir comigo. O que acha?
- Acabamos de chegar.
- E eu não me importo de sair, se tiver que ser agora. O que vê quando olha para mim, Agnes? - ele questiona, e apesar de parecer algo sem propósito, não é como se eu tivesse uma resposta na ponta da língua.
- Eu vejo vermelho.

Ele sorri como se não fosse algo óbvio, e eu quase me arrependo de minha resposta imbecil. Ele abaixa o olhar para suas roupas, depois aproxima-se mais e entranha sua mão por entre meus cabelos longos.

- E eu vejo azul quando olho para você. Eu devo dizer, eu amo misturar cores.
- Nós dois podemos formar roxo.
- É só você me dizer quando. Eu estou sempre pronto. E você, está pronta?

Sorrio e tomo outro gole de seu copo, batendo-o no balcão do bar.

- Eu estou sempre pronta para uma sexta feira.

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