Não Chore Meu Pequeno Palhaço...

A Última Lágrima

"...Quem vai te amar quando tudo isso vier abaixo?

Quem vai se importar quando a novidade tiver passado?

Quando a estrela do show não for mais você?

Ninguém se importa quando as lágrimas de um palhaço caem..."

Silencio meu canto ao ouvir uma voz esganiçada ressoar próxima à algumas latas de lixo.

_ É... Parece que vai chover hoje.

Suspiro cansado sentindo a brisa gelada de agosto castigar o meu rosto.

_ Parece que sim... - Digo para a figura moribunda que se esvaia por entre as vielas escuras de Sadville.

"Você não quer que o mundo saiba

Que você é só um fantoche do show,

E é apenas um garotinho por dentro,

Que senta em casa sozinho

E chora, chora, chora..."

A passos lentos observo o trepidar das luzes do poste sob minha cabeça, enquanto escuto o barulho irritante de mosquitos dentre os becos sujos daquela pequena rua.

Quem diria que essa seria a breve visão de uma futura inexistência...

" Apenas um garotinho por dentro...

Que se senta sempre sozinho

E que chora, chora, chora..."

Sinto as primeiras gotas geladas da chuva tocarem meu rosto, seguindo o caminho das recentes lágrimas que já rolaram por alí, criando o paradigma perfeito para corromper-me. Destruir o que durante anos ocultou meu sofrimento. Apagando completamente a imagem controvérsia que representava minha existência.

Um palhaço...

Ou pelo menos o que restara de um.

A maquiagem colorida escorria em cascatas pelo meu rosto, deixando finalmente transparecer o verdadeiro monstro que existia dentro de mim.

O monstro que odeia todas as malditas crianças.

O monstro horrível que abomina pessoas.

Mas, acima de tudo, o monstro machucado e cansado da própria vida.

"Sua dor é tão enraizada...

No que sua vida vai se tornar?

Certamente você esconde isso,

Mas você está perdido e solitário.

Ainda é só um frágil e perturbado alguém."

Sinto meus soluços se tornarem cada vez mais audíveis a medida que me aproximo do meu tão esperado fim...

Nesse último show, eu serei novamente o espetáculo.

O vento calmo que provinha das montanhas acalentava meus cabelos coloridos. Enquanto o vazio a minha frente me aguardava ávido por mais uma história.

Minha história...

Serei enfim lembrado uma única e última vez.

Avanço um passo sentindo o vácuo preencher minha visão e o meu coração pular de ansiedade.

Então essa é a sensação da liberdade?

Sem ofensas, sem xingamentos... Apenas eu e o nada.

Inspiro profundamente por mais uma última vez o ar puro daquela pequena e maldita cidade em que passei os piores momentos da minha vida.

Abro os braços acolhendo todos aqueles que me odiaram e num impulso de coragem atiro-me em direção ao grandioso e acolhedor vazio.

Me libertando finalmente da dor de ser julgado.

Caindo em algum lugar no esquecimento, assim como minhas infinitas e abundantes lágrimas já fizeram um dia.

Afinal...

"Ninguém se importa quando as lágrimas de um palhaço... Caem."