2x00 - Other Side the Fence

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ZAYN

AGORA

Liam e eu estamos deitados em um cobertor ao lado da pedra que nos encontramos na praia. O clima está frio, anunciando a chegada do inverno. O único som que acompanha nossos olhares e sorrisos um para o outro é o das ondas do mar.

— Acho que não foi um bom dia para um piquenique — diz Liam, e só então percebo que, é claro, não foi mesmo: não comemos nada que trouxemos.

Aos nossos pés, no cobertor, tem uma cesta cheia de frutas quase estragadas, cobertas por formiguinhas pretas.

— Por que não? — pergunto, olhando-o.

— O tempo. Com certeza, vai chover muito forte daqui a pouco. — Liam sorri, e mais uma vez percebo que ele tem razão: pingos finos já estão caindo e o frio parece aumentar, me fazendo colar o corpo no dele, tentando me aquecer.

— Liam, me dá seu braço — digo, mas ele não responde. Tento me encaixar no espaço entre seu braço e o peito, mas o corpo dele está rígido, não mexe. — Liam — insisto. — Ei, estou com frio.

— Estou com frio — repete ele mecanicamente, mal movendo os lábios. A boca está azulada e rachada. Ele fita o mar sem piscar.

— Olha para mim — peço, mas ele não vira a cabeça, não pisca, não se mexe. Uma histeria começa a surgir dentro de mim, uma voz aguda que diz tem algo errado, algo errado, e eu me sento e coloco a mão em seu peito, frio como gelo. — Liam — digo, e depois solto um grito breve: — Liam!

— Zayn Sawyer Jones!

Desperto de repente, em meio a um coro de risadinhas abafadas. A Sra. Fierstein, professora de biologia do terceiro ano no Quincy Edwards, um colégio situado em Manhattan, está me encarando. É a terceira vez que durmo na aula dela esta semana.

— Já que você parece achar a Criação da Ordem Natural tão exaustiva — diz ela. —, que tal um passeio à sala do diretor, para despertar?

— Não! — disparo, mais alto do que pretendia, e provoco uma nova onda de risadinhas entre meus colegas.

Vim estudar no Edwards após as férias de inverno, há pouco mais de dois meses apenas, e já fui eleito o Esquisito Número Um. As pessoas me evitam como se eu tivesse alguma doença.

Se elas soubessem...

— Este é seu último aviso, Sr. Jones — adverte a Sra. Fierstein. — Está me entendendo?

— Não vai se repetir. — Tento parecer obediente e arrependido.

Procuro afastar a lembrança do pesadelo, os pensamentos sobre Liam, sobre Louis e sobre meu antigo colégio, fora, fora, fora, como Nathalie me ensinou a fazer. Aquela vida de antes morreu.

A Sra. Fierstein me encara uma última vez (para me intimidar, suponho) e se vira novamente para o quadro, retomando a aula sobre a energia divina dos elétrons.

O Zayn antigo teria pavor de uma professora como Fierstein. Ela é velha, má e parece ter nascido do cruzamento de um sapo com um pitbull. É uma daquelas pessoas que fazem a cura parecer redundante: não dá para imaginar que ela algum dia fosse capaz de amar, mesmo sem a intervenção.

Mas o Zayn de antes também morreu.

Eu o enterrei.

Deixei-o do outro lado de uma cerca, atrás de uma briga de tiros e medo.

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FINALMENTE VAMOS COMEÇAR O 2º LIVRO AAAAAAAAAAAA. Esse foi só o prólogo (o primeiro capítulo foi postado a seguir) e ele se passa no futuro, onde o Zayn já está em uma nova escola, masss iremos acompanhar tudo o que aconteceu até chegar a esse momento - e porque ele ocorreu. Teorias?

DELIRIA NERVOSA [• ziam] [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora