Nove

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O colégio estava momentaneamente vazio. Não que eu esteja reclamando, é apenas um caso quase não visto. Primeiro bimestre e todo mundo está agitado, então chega o segundo bimestre e todos deixam as tarefas para o semestre seguinte. Estou bastante animado com as minhas notas, mas prefiro deixar para lá e tentar curtir.

"Ei, mãe, ainda está no seu tuor de negócios? Caso ouça esta mensagem, me retorne. Até." 

Deixo o telefone de lado logo depois de erguer o olhar e encontrar a professora de Literatura me encarando por cima dos óculos. Faço uma careta de desculpas e ela vai até o balcão. Puxei um livro entre as pratilheiras, encontrando uma enciclopédia e rapidamente devolvo-a para o seu devido lugar.

Quem neste mundo leria uma coisa destas?

Bufo, passando o dedo pelos livros empoeirados e intocáveis a anos.

Encontro um de capa pouco enfeitada, e pequeno. Li em algum lugar que em pequenos livros estão grandes histórias. Ou não, sei lá. Talvez eu tenha tirado isto do próprio livro. Estava inspirado para a leitura até aquele momento, agora estou simplesmente encarando as páginas.

"Eu poderia supor, entediado, desinteressado e um belo fingidor, porém, prefiro chamar de Gabriel." Leonardo diz, sentando-se ao meu lado. Me apresso para por um dedo em sua boca, sussurrando 'shhh'. Não queria levar outra bronca por conta daquele idiota. 

Vejo um sorriso se formar aos poucos em seu rosto e tiro o dedo que havia deixado lá a um bom tempo.

Oh, céus, porquê?

Suspiro, tentando deixar meu ódio gratuito de lado, voltando a encarar o livro. Não era uma boa olhar para Leonardo com uma roupa aparentemente bonita, com aquele cabelo que dá vontade de tocar e descobrir se são tão macios quanto aparentam, olhos indescritíveis e aqueles lábios chamativos.

Eu toquei neles! Não. Não vou olhar para ele. Não vou olhar para ele. Não vou pensar como uma garota apaixonada. Não vou olhar... Era uma droga de missão impossível. 

"Desde quando você visita bibliotecas?" Questiono sem me segurar.

"Desde que você esteja nela, eu vou visitá-la." Leonardo se inclina o suficiente para encontrar meu ouvido, sussurra de volta e sorri, depois abaixa o rosto como se estivesse com vergonha. 

Como ele consegue passar de garoto sem um pingo de vergonha na cara para o ser tímido em questão de segundos eu não faço a minima ideia. Mas, se a tentativa dele de me cantar não estivesse falhado, teria achado fofo. Espere, por que acho que foi uma cantada?!

Suspiro, levando o livro para frente do rosto, me escondendo nele. Como em alguma história imagino que estou sendo teletransportado para outro lugar sem que ninguém possa ver. Estava tudo ao meu favor, então sinto o livro ser puxado para baixo devagar. Abro os olhos. 

"Oh, não, pobre vida cruel!" Digo colocando a mão sobre o peito.

Leonardo ri, levando a cabeça para trás. "Sintomas das aulas de Teatro, huh?"

"Sim, ela realmente faz um bom trabalho" Viro-me para o lado e procuro pela professora, quando não a encontro, cochicho. Não era 100% mentira, a professora está trabalhando bastante nesta coisa, até nos deu alguns papéis com falas para treinarmos provisoriamente. 

"Sério?"

"Sim. Você saberia se ao menos participasse da aula." Murmuro com a voz trêmula, sem conseguir omitir que estava chateado. Ele sorriu, contente por saber que eu estava bravo com o mesmo. Droga!

Escondo o rosto dentro do livro novamente. Me perguntando onde estaria a lixeira mais próxima para que eu possa me camuflar dentro dela. Novamente o livro é puxado para baixo, e desisto de uma vez.

In Your Eyes - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora