Treze

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Talvez eu ainda não entenda como foi o real surgimento da humanidade. Não tenho certeza sobre Adão e Eva, a história deles parece ter passado de boca em boca, deixando informações esvoaçarem. Mas por outro lado, como é possível termos surgido das águas, simplesmente? Está cedo de mais para entender sobre isto, assim como entender porque ereções estranhas surgem durante a manhã.

Meu alarme já tocou duas vezes e devo estar meia hora atrasado, mas estou com a cabeça pressionada no travesseiro, com a respiração ofegante. Mudo de posição, ficando de barriga para baixo. Meu pênis estava totalmente ereto, mas não queria me tocar. Fiz um movimento de cima para baixo, pressionando o colchão e friccionando meu membro contra os lençóis. A sensação era absurdamente boa.

Aquela pulsação em meu membro me deixava estranho, normalmente iria querer me masturbar mas por uma fração de segundos penso em uma outra mão, a mesma que esteve apertando minha coxa um tempo atrás. A mesma que se enrosca em meus cabelos enquanto sela meus lábios e a mesma que... Caralho.

Levanto da cama, olhando para a catástrofe em minha boxe, bufo. Tomo um banho muito rápido e visto uma calça preta com um moletom da mesma cor e com uma estampa pequena de uma banda. Procuro meus fones de ouvido, lembrando das músicas que baixei antes de deitar. 

Odeio ter que admitir, mas estou ignorando a garota do café desde às dez da noite de ontem. Depois de descobrir que vou poder ir ao acampamento com todos os garotos, ficamos anestesiados e animados, então tomamos algumas garrafas de Vodka que sobraram - as quais, para a minha felicidade, não me deram uma ressaca. Tranco o apartamento, apertando o botão do elevador freneticamente, mas ele não chega, o que me faz correr pelas escadas.

Não desacelero o passo ao chegar na casa de Rafa, provavelmente ele já está no colégio, também não paro no café, me dando a desculpa de que se eu tomar muito café, meu metabolismo irá se viciar.

Quando chego na porta do colégio, a professora de Teatro está saindo da sala dos professores. Recebo um olhar mortal, e ponho a mão no peito com a falta de ar.

"Por que o mocinho está atrasado?" Ela pergunta, passando a blusa para o outro braço que segurava cadernos e uma pasta estranhamente amarela. Tiro os fones de ouvido.

"Sabe como é, né professora? Nem sempre acordamos dispostos..." Tento convencê-la, andando no corredor vazio.

"Hum... Sei... Ok, desta vez vou te ajudar, mas vê se dá um jeito nessa coisa indisposta mais rápido, Gabriel."

"Farei isso assim que me explicar o que quis dizer com 'vocês dois têm um lugar no meu coração'?" Há. Assim até parece que sei chantagear.

"Talvez nem tudo que dizemos precisa ser explicado. É uma questão de interpretação, querido." E delongas, aquela foi a última coisa que consegui arrancar dela durante o dia.

x

"E aí Gabriel, onde o Rafael se meteu?" Josh perguntou, sentando-se ao meu lado. Estávamos fazendo uma pausa naquele momento. Lucca que estava atrás do mesmo procurou espaço, mas estava tudo cheio de mochilas mas vejo Josh bater na perna ao ver a cara de cachorro sem dono que Lucca sabe bem fazer, para que ele se sentasse em seu colo.

"Não faço ideia. Deve estar de ressaca."

"Sim, ele bebeu bem mais que nós." Lucca complementa antes dos dois voltarem para o seu mundinho. Eles começam uma conversa sobre RPG que eu estava muito interessado até ver Leonardo. Ele estava com uma jaqueta preta, calças da mesma cor e um cachecol que quase tampava seus lábios e só deixava a mostra a ponta vermelha de seu nariz.

O vejo cumprimentar algumas pessoas mas tento esquecer isto, voltando a conversar sobre lol. Meu celular vibra e desbloqueio o mesmo, abrindo a caixa de mensagens. Era uma mensagem do treinador, hoje terá treino um pouco mais cedo. O que não faz a menor diferença, mesmo que começássemos o jogo cedo, terminamos tarde.

Para o meu dia ficar completamente estranho, a professora de biologia decide passar um trabalho em trio, terminei durante a aula e entreguei. Não poderia levar mais trabalho para casa já que iria treinar.

Ao chegar em casa, coloco torradas recheadas no forno e resolvo responder a garota depois de mandar mensagens para a minha mãe.

heyyy gato, tudo bom?

oioi tudo e você?

melhor agora rs

kkk

e aí? vamos sair hoje? 

hoje não tenho como, talvez semana que vem?

quando você quiser bjooo

Envio emojis e me sinto um idiota. Não tenho que enrolar ninguém, e não quero, mas nunca consigo dizer não. Bufo. Ainda esta semana tenho que descobrir seu nome com a ajuda do Rafael, já que o plano com Jonathan foi um fracasso.

Faltando duas horas para o treino eu já estava total e inteiramente entediado. Li um livro de poemas complexos - mas não me arrependo -, e estou organizando minha bolsa antes de ouvir a porta.

Corro até ela, para dar de cara com Leonardo e o cachecol branco. Eu poderia dizer que o seu nariz vermelho e o cachecol grande de mais o deixava fofo. Admito.

"Ei" Digo antes de dar espaço para ele passar com a sua bolsa esportiva no ombro. Tranco a porta, reparando que nossas bolsas eram quase iguais.

"Acho que vou ficar gripado, Biel." Ele diz. Fico de frente pra ele, encarando aquelas órbitas. Ele pisca e aproveito para tirar o cabelo de seus olhos e beijar a ponta de seu nariz. Leonardo ri, e apoia a cabeça em meu peito.

"Não deveria ir treinar hoje, então. Sabe, evitar ventania Leonardo." Ele grunha.

"Shhh..."  Inspiro entre os cabelos de Leonardo e desfaço o abraço. 

Talvez o afeto repentino ainda me assuste. Leonardo prefere não falar muito conosco no colégio, mas parece uma criança quando estamos sozinhos. "Tenho que por meu uniforme dentro da bolsa, fique a vontade."

Volto para o quarto, coloco a bermuda e procuro a camiseta. Em campeonatos nossos uniformes são diferentes dos que treinamos. Estes campeonatos acontecem geralmente do meio para o fim do ano. A medida que eles se aproximam, o treinador nos convoca duas vezes na semana e ficamos esgotados.

"É isto aqui que procura?" Leonardo questiona. Ele segura na ponta dos dedos minha camisa, e reviro os olhos. O vejo caminhar e parar na minha frente.

Estou encostado na minha cama, tudo que consigo pensar é no que fiz durante a manhã. Não me faça lembrar disto. Deuses, onde estão vocês quando preciso?

"Podemos fazer uma troca..." Ele inicia, balançando a camiseta na mão.

"Não estou disposto a trocar nada, apenas me dê isto." Digo no tom de voz mais sério que posso.

"Não." Ele responde.

"Leonado ou você me entrega isto ou..." Seus lábios chocando aos meus me impedem de falar, mas ele coloca a blusa para trás, deixando fora do meu alcance. "Por que veio tão cedo?"

"Não consigo ficar..." Um selinho. "Sem..." Outro selinho. "Comer!" Ele me entrega um último selinho e corre para a cozinha, provavelmente seguindo o cheiro das torradas.

In Your Eyes - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora