Dezessete

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Sento na calçada do meu prédio por cerca de 15 minutos. Finjo amarrar os cadarços, faço e refaço o nó. Mexo no cabelo e remexo. Nada de Leonardo. Onde diabos ele teria se metido? E porque não saiu de casa para a sua "corridinha matinal"?

"Não vai entrar garoto?" Diz o senhor que geralmente fica na recepção. Presumo que ele seja alguém entediado que senta no sofá da recepção e tenta passar o tempo com o seu velho - mas nem tanto - jornal.

"Estou esperando alguém!" Digo da forma mais entusiasmada possível. Não queria parecer falso, nem perto disto, mas ele não tinha que ser recebido por todo meu ódio por Leonardo.

"Ele está muito atrasado?" O senhor senta-se ao meu lado, deixando o jornal de lado por alguns momentos. O que era uma coisa esquisita de se ver, já que o jornal era sua maior companhia. Ouço-o dizer e coço a garganta sem entendê-lo muito bem. "Aquele garoto, de cabelos meio encaracolados que sempre está por aqui!"

"Ah, hum, Rafael não tem cabelos encaracolados." Digo rindo da situação. Ele ri também, e me sinto aliviado por não deixar o ambiente ruim. Não ter um relacionamento bom com vizinhos é uma norma fora de cogitação dentro deste prédio.

"Quando eu era mais novo, acabei deixando muitas coisas de lado por não saber reconhecer a importância delas ao meu redor." Ele diz calmamente. "Ah, não! Não quero dizer que esteja fazendo o mesmo, entendo também que é complicado, olhe só pra mim, tenho um jornal de melhor amigo, 'pô." Rio. "Mas não se chateie com estas pequenas coisas, as pessoas erram e principalmente a gente. É como se agarrar aquilo que gostamos e não largar até que..."

"Que...?" Pergunto curioso.

"Bom, você pode descobrir agora." Antes que eu consiga reagir, o senhor - com uma habilidade absurdamente rápida para a sua idade - levantou-se e entrou para o prédio, foi somente aí que pude encarar os tênis sujos de Leonardo.

Levanto da calçada, limpando meu short mesmo sabendo que ele não estaria sujo. Viro-me para adentrar o prédio como o senhor fez, sem nem mesmo encarar o problema como fui simpaticamente orientado a fazer.

Quero dizer, ele me disse muitas coisas, mas, como ele sabe sobre Leonardo foi o que mais me impressionou. O fato dele perceber que as coisas entre nós são ligeiramente atrasadas, ou melhor, mal resolvidas, ou melhor, ruins, ou muito melhor, errôneas, me faz querer gritar. Ao mesmo tempo que gosto desta sensação, de poder ainda controlar isto, me sinto um idiota por gostar disto. Bufo. Me pergunto se toda essa coisa foi somente notada por alguém entediado que tem uma boa interpretação ou está simplesmente escrito na minha testa?! Respiro fundo. Não por Leonardo me fazer esperar por ele, mas pelo senhor, que me faz querer virar e encarar a situação.

E é exatamente isso que faço.

"Ei, olá. Você por algum acaso viu o meu celular?" Tento ser o mais breve possível.

"Ele está no seu banheiro. Em algum lugar." É tudo o que ele diz, antes de pender a cabeça para o lado como se pedisse desculpas. Oh, não!

Tudo o que posso fazer é tapar o rosto com as mãos e fingir que tudo isso é somente a continuação daquele livro de capa sem graça da biblioteca. Mas não é. Tenho que aceitar isso e não afundar minha cabeça em um buraco, por ora.

"Coloquei seu celular para carregar e você acordou um tempo depois de dormir, dizendo que precisava telefonar para alguém e foi direto para o banheiro. Não tenho certeza sobre quem era ou quanto tempo durou porque eu realmente capotei. Então, sinto muito por não poder te ajudar agora."

"Ah, isso. Ok, eu deveria entrar e procurar meu celular depois de tomar um banho. É... Você pode subir também, se quiser." É tudo que consigo expressar depois de perceber o quão ridículo consigo ser. Primeiro culpo-o sem nem mesmo ter certeza, depois aparento ser a pessoa mais grossa que ele já conheceu e depois o chamo para entrar como um estúpido.

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⏰ Última atualização: Mar 02, 2020 ⏰

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