Quinze

16 0 0
                                    

Ontem: perfeito dia para um péssimo dia. Exato. Ontem foi um péssimo dia. Descobri o nome da garota, ok, mas Rafael não sabe fazer as coisas conforme o roteiro.

"Ainda não entendo como a professora de artes te aprovou no teste." Resmungo, na tentativa de irritá-lo.

Neste momento estamos Rafael, Josh e eu na minha casa. Como sempre eles trouxeram bebidas pré-festa, como dizem. Na verdade, tenho que esperar Helena que também iria conosco. Não poderia negar que estava mais que apreensivo.

Rafa saca o dedo em minha direção e joga uma garrafa de Vodka para mim. "Ela sabe que o garanhão aqui é muito bom atuando. Desiste Gabriel."

"Ah, sim. Sua capacidade de ser um ogro com os colegas e ser um anjo com as garotas. Isso se chama falsidade, não profissionalismo."

Puxo o lacre, ao mesmo tempo que batem na porta. Não iria abrir a mesma. Lembro-me de ter sentado da última vez ao lado de Leonardo, por escolha própria. Então, desta vez a escolha seria dele. Ou, ao menos era o que eu esperava. Josh atende a porta, Leonardo entra primeiro, retirando seus sapatos. Lucca pula em Josh, e toma o lugar ao seu lado. Finjo me entreter com o celular, mas é impossível ignorar o cheiro que ele emanava.

Ao meu lado.

"Boa noite, rapazes!" Leonardo diz levantando a sua garrafa. Sou o único do grupo a não responder, tomando goles seguidos da minha garrafa. Sinto uma pontada quando recebo um desvio de olhar, mas que não dura muito tempo.

 "Um gélido temor passa pelas minhas veias e quase congela o calor da vida."  Rafael balbucia, esticando o braço como uma das cenas provisórias de Julieta e sua camareira.

"Trenando para ser a Julieta, bro? Sempre suspeitei." Diz Josh, recebendo um soco no ombro. "Au."

"Não faça isso com Josh, Rafa. Ele não tem culpa da sua feminilidade." Lucca dramatiza, me fazendo rir. Rafael revira os olhos. Sinto inveja. Neste momento eles não estão preocupados com alguma coisa. Provavelmente estou soando agora. 

Nem ao menos sei definir o motivo da minha ansiedade.

Talvez não queira que haja um contato de Helena e Leonardo.

Os meninos voltam a jogar conversa fora sobre os papéis que querem fazer. Seria ótimo para mim se fizesse a planta do jardim de Julieta. Penso em subornar a professora para que ela me dê este papel pouco visível. Leonardo levanta, indo provavelmente em direção do banheiro.

Não devo ir. Não devo ir. Não devo ir. Não devo ir. Bebo toda a garrafa de Vodka e levanto, esperando por Leonardo no corredor, e indo contra os meus princípios. Ouço a porta destrancar e meu coração acelera. Leonardo caminha como se nada o afetasse.

Coloco a mão na parede, impossibilitando sua passagem. Recebo sua atenção pela primeira vez naquela noite.

Desde aquele encontro na porta do apartamento, Leonardo não voltou a falar comigo. No colégio está sempre com aquela galera estúpida e agindo como eles. Não que tenha sentido falta. Nada disto. Somente quero entender o distanciamento.

"Vai continuar me evitando?" Pergunto, sem tirar os olhos dos seus e muito menos a mão da parede. Ela estava me sustentando para continuar fitando aquelas órbitas incompreensíveis.

"Não estou evitando você, babe." Ele diz, pendendo a cabeça para o lado. Oh, não. Não se faça de desentendido agora.

"Está brincando comigo?" Pergunto de uma vez. A bebida não me ajudou em muita coisa, ainda sentia insegurança. "Esteve sem falar comigo durante estes dois dias."

In Your Eyes - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora